"Por incrível que pareça os médicos não estavam tendo uma participação efetiva nas discussões sobre o papel do médico nesta relação com o dependente químico. As entidades médicas chamaram para si esta responsabilidade de propor protocolos clínicos e consensos para envolver a categoria médica como um todo no atendimento ao usuário de crack," destacou o secretário de saúde suplementar da FENAM, Márcio Bichara.
Esse foi o segundo seminário promovido pelo CFM para debater o tema. O objetivo é que ao final de três encontros as diretrizes sejam definidas em parceria com o Governo Federal e distribuídas à sociedade civil.
"Temos a pretensão de no término dos três seminários apresentar diretrizes de ação abrangendo todos os fatores que dizem respeito na luta contra o crack e no final desses seminários veicular aos médicos para uma conscientização das medidas que deverão ser implementadas," explicou o vice-presidente do CFM, Carlos Vital.
Ações no Senado
Para o senador Wellington Dias é preciso olhar para o problema como um todo, não só como uma guerra de enfrentamento ao tráfico. Ele defende ações integradas entre os ministérios da saúde, educação, cultura, esporte, justiça e assistência social para combater o problema. O senador também sugere que a tributação mais elevada de drogas lícitas, financie o tratamento dos dependentes químicos.
"Eu acho que temos que atuar em relação à prevenção, ao tratamento e a reinserção social e para isso, é necessário ter dinheiro. Acredito que tributando drogas legais, bebidas quentes e geladas podemos sustentar a assistência e o tratamento, que é o que outros países estão adotando e tem dado certo."
Assistência na rede básica e capacitação de profissionais
"Há uma enorme falta de capacitação dos profissionais não só na rede básica, como também nas redes secundárias. Com exceção dos psiquiatras que são capacitados especificamente para o manejo e a identificação dos problemas ligados ao álcool e drogas, eu diria que o restante da profissão médica e das demais profissões de saúde não tem nenhuma formação e capacitação nesta área."
Para o representante da FENAM, Márcio Bichara, a falta de capacitação para lidar com os pacientes é um problema enfrentado com freqüência nos ambulatórios e hospitais de emergência, que muitas vezes não atendem o usuário que busca ajuda por não saber como lidar com ele. "No nosso entendimento os profissionais que estão na atenção básica precisam urgentemente de treinamento para lidar com esse tipo de paciente", ressaltou o dirigente.
"A questão é que muito embora existam duas leis e políticas de enfrentamento ao crack, não há um protocolo que instrua o médico que trabalhe na porta de entrada dos programas de Saúde da Família de como manusear ou de como atender um paciente que chegue portando sintomas de intoxicações por crack," explicou o conselheiro Ricardo Paiva (CRM/PE) que foi um dos idealizadores do evento.
"Então, muito além de nós definirmos consensos para os psiquiatras propriamente ditos, nós precisamos ter um protocolo na assistência básica, que dê conta de uma unidade de pensamento entre os psicólogos, psiquiatras e que, sobretudo, não seja algo exclusivista do médico, que deve trabalhar integrado com assistentes sociais, com psicólogos, terapeutas, entre outros," completou Paiva.
Políticas de tratamento
"Não podemos esquecer que a recuperação deste tipo de pessoa vai demorar muitos meses e é preciso criar um sistema de assistência compatível com o tratamento de dependentes químicos. Não podemos permitir que os usuários fiquem usando crack publicamente, tem que ter uma política para tirar esses usuários da rua e encaminhar para uma assistência de saúde. E é isso que nós ainda não temos. O nosso desafio nós próximos dez anos é criar, regionalmente, um conjunto de serviços para que essa pessoa dependente possa estar transitando ao longo de alguns meses."
O próximo seminário sobre o tema está previsto para o início de junho. Até lá, uma Comissão reunirá tudo que foi produzido até hoje e organizar para a produção do protocolo final.
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