SAIU NA IMPRENSA
18/FEV./2015
ESPECIAL PEP: Ainda é restrito e elitizado o uso do coquetel preventivo de emergência para HIV
Agêmcia Aids
Funciona bem e está disponível em postos de saúde há quatro anos. Mesmo assim, é pouco usada a profilaxia pós-exposição (PEP, do inglês post-exposure prophylaxis), o coquetel de remédios antirretrovirais que uma pessoa pode tomar logo após uma situação de risco para HIV. Desinformação e dificuldades do SUS explicam baixo uso e predominância de brancos de nível superior.
Dados do Ministério da Saúde, fornecidos pela assessoria de imprensa do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais (DDAHV), indicam que de janeiro a outubro de 2013 a PEP foi usada por 4.054 pessoas (excluídos os casos de estupro).
No mesmo ano, o método foi usado em somente 82 dos 645 municípios do estado de São Paulo segundo o Centro de Referência e Treinamento em Aids (CRT), ligado à Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo.
Certamente, não são assim tão raras as situações nas quais o método é formalmente indicado – não uso ou rompimento de preservativo, quando se desconhece o status de HIV do parceiro, ou quando este é positivo.
A PEP pode prevenir uma infecção por HIV se iniciada em até 72 horas – mas quanto antes, melhor – e tomada por 28 dias. Pode ser obtida em algumas unidades do SUS, após ser avaliado se o risco compensa tomar os remédios, que são os mesmos tomados pelo portador do vírus HIV.
Dois terços são brancos
O público da PEP ainda é elitizado, segundo estudo realizado pelo CRT, um dos principais provedores do método no estado. A maioria dos usuários da unidade, localizada no bairro da Vila Mariana, na zona sul de São Paulo, é de brancos (67%) de nível superior completo (43%). Predominam homens bissexuais e gays (53%) com idade média de 30 anos.
Um caso típico é José Leon, professor universitário gay de 32 anos. Há dois anos, em São Paulo, passou um sufoco quando uma camisinha estourou. “Eu sabia o risco que corria. E, como alguns amigos já tinham passado por isso, eu sabia o que fazer. Esperei o dia clarear e corri atrás.”
A elitização da PEP pode ser explicada por diferenças no acesso a informação. “Os atendimentos vêm se multiplicando ano a ano, mas ainda temos dificuldade de atingir um público menos informado, com menos acesso à internet”, afirma a médica infectologista Denize Lotufo, gerente de Assistência do CRT (foto direita).
O CRT mantém um site sobre a PEP sexual em parceria com o Grupo de Incentivo à Vida (GIV), uma organização de ativistas do campo do HIV. É uma das melhores fontes sobre o assunto em português.
Ronaldo, de 28 anos, está na internet mas não viu o site. Contatado para entrevista via aplicativo de encontros, foi incrédulo quando perguntado sobre a PEP. “Não acha meio improvável? Será incrível se funcionar mesmo.” Ao ser informado que é eficaz, retrucou: “Já sabe por que não divulgam?”. Boa pergunta.
Mesmo na elite, a informação não circula como deveria. Luísa Romeiro, tradutora de 30 anos, deixou de usar o método por desconhecimento. “No ano passado, eu passei por uma situação de risco que me deixou angustiada por um bom tempo. Se eu já conhecesse a PEP, teria procurado. Felizmente não me contaminei”.
Baixa percepção de risco
O Ministério da Saúde também apontou o desconhecimento sobre a profilaxia, mas chamou a atenção ainda para a “baixa percepção de risco de infecção nas situações de exposição”.
Ou seja, não basta saber que existe. A pessoa deve reconhecer o risco e decidir tomar uma providência.
Foi o caso do funcionário público Augusto, 34 anos. Três anos atrás, um amigo o aconselhou a procurar a PEP. “Eu já tinha me exposto antes e nunca havia me contaminado. Achava que era algo difícil de ocorrer. Na época, eu não tinha noção da intensidade da epidemia entre gays. Por isso, não acatei a sugestão. Mas foi naquele dia que eu me infectei.”
O fato de ter sido disponibilizada somente em 2010 para o público geral contribuiu para o desconhecimento. Em alguns países desenvolvidos a PEP está amplamente disponível há uma década, mas no Brasil a liberação foi gradual. De início, Ministério da Saúde restringia-a a acidentes de trabalho com agulhas contaminadas e estupros. Casais sorodiscordantes (um soronegativo com um sabidamente soropositivo) foram incluídos em 2006.
O receio de que a PEP pudesse promover sexo desprotegido contribuiu para essa demora. Mesmo depois de 2010, gestores e profissionais de saúde continuaram hesitantes, o que de certa forma tem inibido a divulgação.
Barreiras no SUS
Mas o problema não é só de informação. O Sistema Único de Saúde (SUS) tem dificuldades em oferecer o método. Márcio Villard, da organização de ativistas de HIV Pela Vidda, do Rio, reclama. “Os últimos quatro anos têm sido uma luta árdua. Recebemos reclamações de gente que procurou, mas não encontrou, que ficou rodando de bairro em bairro, tentando em diferentes unidades de saúde.”
Sérgio Luiz Aquino, gerente do Programa Municipal de DST, Aids e Hepatites Virais do Rio de Janeiro, disse que a oferta da PEP está em constante revisão. “Numa cidade marcada por eventos, estamos trabalhando para que a pessoa tenha acesso à PEP no momento certo e perto de casa”, afirmou.
Na capital fluminense, segundo Aquino, a PEP pode ser encontrada a qualquer hora em 19 Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs), ou no horário comercial em 26 unidades básicas de saúde (UBS) que fazem acompanhamento de pessoas com HIV. “Estamos treinando as equipes médicas das UPAs”, acrescentou.
Alexandre Chieppe, superintendente de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Estadual de Saúde do Rio, disse que depois de 2010 “foi necessário ampliar a rede por conta do potencial aumento do uso. Agregaram-se unidades de emergência por conta do horário”. Segundo a assessoria, a PEP sexual foi usada 1.305 vezes no estado em 2013.
As unidades de saúde que disponibilizam PEP em todo o estado estão listadas no site da secretaria.
No estado de São Paulo funciona diferente. Embora faça a maioria dos atendimentos do país – foram 1.909 usuários em 2013 – a oferta se concentra nos postos de saúde especializados em HIV. Os locais estão relacionados no site de PEP do CRT.
E à noite e nos fins-de-semana? Como faz quem precisa de PEP sexual na capital de 10 milhões de habitantes? “Tem que ir ao Emílio Ribas, que fica sobrecarregado”, responde Denize, se referindo ao hospital de infectologia da Universidade de São Paulo (USP).
Alexandre Grangeiro (foto esquerda), pesquisador da USP, explica a deficiência e a heterogeneidade entre os estados. “A norma de 2010 previu a oferta de PEP, mas não definiu como o SUS ia se estruturar para isso. Vários estados se organizaram, mas sempre com uma certa fragilidade, cobrindo eventualidades, sem se inserir no dia a dia das populações mais expostas ou assumir uma característica de prevenção mais ampla”, afirmou.
O Ministério da Saúde reconhece “as barreiras ao acesso e a ausência de linhas de cuidado”.
Para Grangeiro, a rigidez dos procedimentos dificulta. São muitas etapas que podem demorar horas: avaliação do risco, teste rápido para saber se a pessoa já não teria HIV, testagem do parceiro quando presente, aconselhamento, prescrição médica.
“Imagine num pronto-socorro, a pessoa que transou sem camisinha disputando no mesmo espaço com o infartado e com o acidentado. Não faz sentido para uma estratégia que corre contra o tempo. A pessoa não vai ser bem atendida e não volta mais. Por outro lado, nos Centros de Testagem e Aconselhamento (CTAs), que têm tradição de prevenção em HIV, não há o médico para prescrever o remédio”, reflete Grangeiro.
Revisão dos procedimentos
No entanto, o quadro deve mudar, já que, seguindo uma tendência mundial, a PEP passa por um momento de revalorização. Em trabalho apresentado na Conferência Internacional de Aids na Austrália, em 2014, representantes do Ministério da Saúde a incluíram entre as prioridades, ao lado de outros métodos preventivos baseados em remédios.
Os receios em relação à PEP foram derrubados e há mais clareza sobre seu público. Segundo Denize, “a gente está atrasado, tem essa ideia de que a PEP vai relaxar o uso de preservativo, mas inúmeros trabalhos mostram que não, que quem procura a PEP é quem está preocupado”.
Além disso, os dados confirmam a importância da PEP em trazer a pessoa para o serviço de saúde. “No nosso levantamento, 64% das pessoas nunca tinha feito um exame de HIV”, afirmou Denize.
Para Grangeiro, “a PEP tem um nicho próprio que é o das pessoas que buscam complementar suas estratégias preventivas. Quem procura tem alguma preocupação com prevenção, mas passou por uma situação em que houve falha”.
O Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais declarou que há necessidade de aumentar a demanda da PEP. Entre as medidas, inclui-se uma pesquisa sobre seu uso em vários estados, coordenada por Grangeiro.
Os procedimentos do atendimento também estão sendo revistos por um grupo em Brasília do qual Denize faz parte. “A ideia é facilitar o máximo”, disse. A OMS recomenda a simplificação.
Grangeiro concorda com a simplificação dos protocolos: “No pronto-socorro, não faz sentido fazer grandes triagens. Chegou, fez queixa, dá o remédio e encaminha pro serviço que durante a semana vai avaliar. Nos CTAs, talvez seja melhor que um profissional não-médico possa prescrever os remédios e fazer uma boa orientação para o seguimento.”
Nas UPAs do Rio, já está em prática um protocolo alternativo. Segundo Aquino, o usuário recebe somente cinco doses do remédio e é encaminhado para o posto de saúde onde poderá receber mais orientação e o restante do esquema.
Fonte do Ministério afirmou que a tendência é a incorporação da PEP nos serviços de urgência em todo o país. Os CTAs dependeriam da anulação de norma que limita aos médicos a prescrição de antirretrovirais.
Ausente nos vídeos da campanha
Os vídeos das campanhas do Ministério da Saúde do Dia Internacional da Aids, em 1 de Dezembro de 2014, Dia Mundial de Luta Contra a Aids, e Carnaval 2015, focam na testagem e não mencionam a PEP. A Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (ABIA) emitiu nota sobre a campanha de dezembro e destacou a ausência: "Faz-se necessário informar às populações – especialmente mais afetadas pela epidemia - sobre a PEP – disponível pelo SUS e pouco conhecida".
Segundo nota do Ministério da Saúde, o método está divulgado em materiais específicos especialmente desenvolvidos para populações de gays, travestis e profissionais do sexo.
Henrique Contreiras, médico, colaborador da Agência de Notícias da Aids
Programa federal contra crack atinge só 2% das cidades
O Globo
Levantamento de ONG indica que apenas três das 18 metas foram atingidas e que repasses estão atrasados
RIO e FORTALEZA - Principal programa de combate e prevenção ao uso de drogas do governo Dilma Rousseff, o Crack, é Possível Vencer alcançou apenas três das 18 metas estabelecidas para seus primeiros três anos e só atende a 2,2% dos municípios. O levantamento foi feito pelo Observatório do Crack, ONG que reúne pesquisadores da Confederação Nacional dos Municípios, com base em dados do Sistema Integrado de Administração Financeira para Estados e Municípios, o Siafem.
Segundo o estudo, o programa federal priorizou as cidades com mais de 200 mil habitantes, deixado de lado as de pequeno e médio portes - as mais comuns do país. O trabalho também ressalta a interiorização da droga, o surgimento de cracolândias fora de metrópoles e um atendimento limitado na rede pública de saúde.
Dos R$ 4 bilhões anunciados por Dilma em 2011 para atender ao Crack, é possível vencer, só a metade foi efetivamente executada. Segundo a ONG, o governo empenhou R$ 3,5 bilhões no programa, mas pagou apenas R$ 1,9 bilhão. Dos 308 consultórios de rua previstos para estar funcionando até dezembro, só 123 entraram em atividade. Já dos 175 Centros de Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas 24 horas, só 59 existem. Por fim, dos 3.600 leitos especializados prometidos, 800 existem.
De acordo com a ONG, apenas 144 cidades do pais têm mais de 200 mil habitantes e estão aptas a usufruir de todas as ações do programa. Desse total, 121 assinaram parceria, mas pelo menos 21 ainda não receberam verbas. O Ceará é o estado com mais cidades à espera: 90. O Crack, é Possível Vencer foi lançado pela presidente como uma aposta contra a epidemia da droga. As três metas atingidas foram: capacitação de profissionais de psiquiatria, aumento do efetivo da Polícia Rodoviária Federal e criação de vagas em residencias em saúde, aponta o estudo.
Para a pesquisadora Mariana Barreto, que enviou questionários a 5.563 municípios e recolheu respostas de 3.950 deles, o programa mostra fragilidade ao não contemplar cidades menores. Um total de 98% dos municípios pesquisados tiveram ocorrências com crack:
- O governo impôs uma política pública sem que ela fosse discutida e sem conhecer a realidade das cidades. É como se o problema não existisse nesses locais.
Pelo levantamento da ONG, cidades como Paraty, Itatiaia, Duque de Caxias, Iguaba, Macaé e Santo Antônio de Pádua, no Estado do Rio, já estão na faixa de "alto índice de consumo", mas nem todas têm rede de acolhimento. Morando desde janeiro em um abrigo mantido por uma igreja evangélica em Saquarema, na Região dos Lagos, L., de 37 anos, tenta se livrar da droga pela segunda vez e diz que encontrou dificuldades para receber atendimento público de saúde. O garçom conta que passou quatro dias consumindo drogas nas cidades vizinhas a Saquarema, onde a oferta de entorpecentes e álcool seria farta. Só depois disso decidiu se internar:
- Apanhei muito na rua. E só encontrei abrigo aqui, na casa de recuperação.
No Ceará, os investimentos previstos pelo programa eram de R$ 111,8 milhões até dezembro. Dentre as ações que deveriam ter sido executadas, estavam a qualificação dos seis Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas de Fortaleza, que passariam a atender 24 horas, a criação de três novos consultórios de rua e a instalação de seis bases de monitoramento policial em ônibus.
Por R$ 12 milhões, entre 2013 e 2014, o Ceará ganhou suas seis bases, mas, hoje em dia, três estão paradas, e três funcionam parcialmente, em Fortaleza. Em Caucaia, Maracanaú e Juazeiro do Norte, cidades com alto consumo de crack, as prefeituras aguardam que o Ministério da Justiça instale pontos com câmara de videomonitoramento para que as unidades móveis possam funcionar.
Em nota, o ministério defende o programa. Destaca que "existem diversas ações dentro das políticas públicas de Saúde, Assistência Social e Justiça (política sobre drogas e segurança pública) que contemplam todos os municípios brasileiros". Também informa que, "com redes de atenção e proteção básica, unidades de saúde e de assistência social, os ministérios da Saúde e do Desenvolvimento Social fazem investimentos em todo o Brasil".
O texto ainda afirma que foram formados, por meio de cursos à distância, profissionais para a prevenção e o tratamento da dependência química em mais de 4.100 municípios. "Portanto, todos têm suporte do governo federal para a política sobre drogas." Por fim, o ministério nega atrasos nos repasses do Crack, é Possível Vencer.
Uma banana para os estereótipos (Suzana Herculano-Houzel)
Folha de SP
Não sou a pessoa certa para se perguntar se há discriminação contra mulheres na ciência. Fui criada para ignorar todo e qualquer estereótipo sobre meninos e meninas.
Minha mãe me deu revólver de espoleta para brincar de polícia e bandido, meu pai me ensinou a trocar pneu ainda pré-adolescente. Se me perguntam se mulheres são discriminadas na ciência, respondo que não.
Talvez não seja verdade (e basta olhar a porcentagem mixuruca de mulheres na Academia Brasileira de Ciências para suspeitar, embora não faltem mulheres liderando laboratórios onde eu trabalho), mas um estudo recém-publicado na revista "Science" sugere que meus óculos cor-de-rosa, alimentados pela insistência dos meus pais de que eu poderia ser o que eu bem resolvesse ser, contribuíram para eu querer virar cientista.
O estudo, feito entre 30 disciplinas em várias universidades americanas, mostrou que a porcentagem de mulheres nas diferentes carreiras não tem correlação com o número de horas de trabalho semanais, desempenho nos testes de admissão (aliás, melhor entre mulheres), necessidade de pensamento sistemático ou empático ou quaisquer outras supostas diferenças inatas em habilidades entre homens e mulheres (que já sabemos que não existem).
O problema está nos estereótipos. Há muito menos profissionais mulheres se formando nas áreas em que os próprios professores e estudantes universitários nutrem uma maior crença de que desempenho depende de talento inato e não de esforço --e tais talentos inatos, claro, seriam prerrogativa dos homens, não das mulheres.
Ou seja: são sobretudo os estereótipos contra as mulheres, inevitavelmente internalizados por elas, mudando suas expectativas e a forma do seu cérebro decidir e agir, que as afastam de algumas carreiras.
Aceitar estereótipos está até na pergunta veladamente machista que indaga se a família é uma das causas para haver menos mulheres em algumas profissões.
Até onde sei, crianças continuam sendo filhas de mãe e pai; portanto, supor que cuidar dos filhos é algo que toma tempo apenas das mulheres profissionais, mas não dos homens, é aceitar a premissa estereotipada de que lugar de mulher é em casa.
Desfazer o estrago causado por estereótipos começa por enxergá-los e repudiá-los. Não preciso dar recado para os homens, pois os estereótipos os beneficiam. Então aqui vai: mulheres, deem uma banana para os estereótipos e façam o que vocês bem quiserem!
'É a crise social, estúpido' (Flávia Oliveira)
O Globo
Manifestação que parou a Ponte foi sinal concreto dos problemas da Petrobras. Não foi caos no trânsito, mas drama trabalhista
Uma artéria de mobilidade urbana da Região Metropolitana entupiu e interrompeu a circulação entre Rio e Niterói, uma semana atrás. Foi uma passeata contra violações trabalhistas de uma fornecedora da Petrobras o motivo da obstrução da ponte, por mais de duas horas, debaixo do sol quente de um início de tarde de verão. Análises apressadas viram no movimento um fenômeno de desordem urbana, incompetência da concessionária CCR Ponte e da Polícia Rodoviária Federal, supressão do direito de ir e vir da coletividade, caos no trânsito. Nada disso. "Foi a crise social, estúpido!", numa adaptação da frase que deu fama a James Carville, então estrategista da primeira campanha de Bill Clinton à presidência dos EUA, em 1992.
A MANIFESTAÇÃO DOS TRABALHADORES da Alumini Engenharia foi o primeiro sinal visível de um cenário que vai se agravar, se a Petrobras não sair do breu em que está metida desde a eclosão do escândalo de corrupção. Sem emprego, salário ou indenização, eles marcharam até a sede da estatal para chamar atenção para o drama familiar que, até então, viviam silenciosamente. Por parecer uma coisa e se tratar de outra, o episódio remete à fila dos candidatos para um concurso de garis, também no Rio, em 2003. No primeiro dia de inscrições, apenas para nomes iniciados com a letra "A" apareceram 15 mil candidatos. O Centro da cidade deu um nó. Só depois de reclamar do trânsito, os cariocas enxergaram a crise do desemprego, àquela altura em 12% na média (em 2014, fechou em 4,8%).
A Petrobras é locomotiva de uma cadeia de 20 mil fornecedores, entre fabricantes de máquinas e equipamentos, estaleiros, prestadores de serviços. Sem falar nos bancos, que têm mais de R$ 100 bilhões pendurados com a estatal e sua rede, e nos patrocinados, das escolas de samba da Sapucaí ao cinema nacional e a projetos sociais Brasil afora.
Diretamente, a Petrobras emprega 86 mil trabalhadores. Mas seu peso no mercado de trabalho é muito maior, levando-se em conta a cadeia produtiva. A empresa está relacionada a 13% do PIB. Qualquer pane nessa estrutura tem reflexo na atividade econômica do país. A Central Única dos Trabalhadores (CUT) já se deu conta do tamanho do problema. Dia 24, participa do lançamento de um manifesto de trabalhadores em defesa da estatal. E organiza para 13 de março uma série de manifestações em capitais brasileiras.
Um senso de urgência e compaixão deve permear as reações da sociedade aos atos de trabalhadores em vias públicas, não só no Rio, mas no país inteiro. Em resposta ao protesto da semana passada, o Ministério Público Federal anunciou abertura de inquérito para investigar a legalidade do protesto. A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) conseguiu na Justiça liminar proibindo o bloqueio da Ponte Rio-Niterói por qualquer tipo de manifestação. A punição é multa de R$ 500 mil por hora de interrupção.
Não há notícias de políticas públicas para lidar com essa crise aguda - e ainda em andamento. Prefeitos, governadores, União e entidades patronais cobram providências da estatal. Mas não ativaram o arsenal de recursos próprios que têm para defender trabalhadores com meses de salários atrasados ou demitidos sem indenização. As redes de proteção social, via transferência de renda, aluguel social ou distribuição de itens básicos, ajudariam durante a intempérie. O papel nesse drama é grande demais para ter só o protagonista. Falta elenco de apoio.
Para que livros? (Ancelmo Gois)
Renan Calheiros quer ocupar a área da biblioteca do Senado.
Pretende transformá-la em gabinete para senadores.
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