“Sempre me cuidei. Nunca fui resistente. Nesses 18 anos, só faltei a uma consulta”, diz, com o orgulho de quem se cuida. O encontro com o HIV, como ela mesma se refere, veio depois que o marido usou drogas injetáveis em uma viagem. “Ele já sabia que estava com o vírus e não me contou”. Fazendo exames de rotina junto com a irmã, descobriu. Não se desesperou nem se preocupou com o preconceito. “No começo, a gente chora muito, mas depois sabe que tem que se cuidar. Minha família sempre me ajudou. Meus pais, meus filhos, meus amigos”. Foi um recomeço. “A vida não termina quando você se descobre HIV positivo”.
Aprendeu a prestar mais atenção aos sinais do corpo. Reduziu a quantidade de álcool e de fritura que ingeria. Diminuiu as farras e começou a se amar mais. Não teve medo de ter sua “princesa”, a filha mais nova. Fez tudo o que era preciso para livrá-la do HIV. Deu certo. O marido se recusou a fazer o tratamento e, em 1997, não resistiu. Teve complicações após uma pneumonia e uma tuberculose.
Também gosta de sair, beber “um pouquinho” e assistir ao futebol. Concluiu o ensino médio há pouco e ainda pensa em fazer faculdade – Administração ou Serviço Social. Credileuda não tem medo de ficar debilitada. Tem fé na Medicina. “Eles já conseguiram avançar tanto”. Mas a estética, como é comum a muitas mulheres, ainda é um calo. A Síndrome da Lipodistrofia assusta: “Murcha tudo. Perna, bumbum, rosto. E com a idade, então”. Para amenizar, faz promessas de entrar na academia e caminhar. Para ela, viver com HIV é assim: é perder o preconceito e aderir ao tratamento. “E ter cabeça boa. Se concentrar naquilo que você quer”, completa.
Sonhos Coletivos
Otávio de Vasconcelos, 51, também é outro que luta para contar uma história diferente, de esperança. O hoje coordenador adjunto da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids – Ceará (RNP – Ceará) se descobriu soropositivo em 2000. Passou por momentos de sofrimento. No início, o HIV deixou Otávio debilitado. Perdeu peso e fez do hospital a casa durante três meses. “Achei que ia morrer, mas o meu corpo respondeu aos antirretrovirais”. A partir de então, começou a se cuidar. Só não contava com a depressão que passou a se fazer presente, diariamente. “Teve períodos que eu vivi praticamente para tomar remédio e dormir”.
Hoje, a vida é outra. Viúvo, após perder a esposa por causa de um acidente vascular cerebral (AVC), em 2006, voltou a morar com os pais e a cuidar deles. Apegou-se ao voluntariado na RNP e ajuda a aliviar a dor de outros que vivem com HIV. É esse trabalho diário que faz Otávio ter forças.
Em alguns momentos parece até ter mais medo da idade que avança do que do vírus. Já quis se “jornalista ou artista”. Hoje os sonhos são outros. Como ele diz, coletivos. “Sonho ajudar sempre as pessoas que passam pelo meu problema. E sonho que essas pessoas possam ter respeito”. (Gabriela Meneses)
Saiba Mais
Convivência não transmite HIV
Relção sexual entre soropositivos
Gravidez e aids
Serviço
RNP (Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/aids – Ceará)
Rua Dom Lino, 1001. Parquelândia.
Fone: (85) 3283 6724
RSP (Rede de Solidariedade Positiva)
Rua Castro Silva, 121. Sala: 310. Centro. Fone: (85) 3253 4159
Funciona dentro do Hospital São José. Rua Nestor Barbosa, 315. Parquelândia. Fone: (85) 3492 2939
http://www.opovo.com.br/app/
A Missão de Quem Trabalha Para Amenizar a Dor do Outro - 26.11.2011| 15:00
Existem pessoas que nasceram para aliviar as dores alheias. Há outras que compartilham a própria dor cuidando do sofrimento do próximo. Nas instituições que apoiam pessoas vivendo com HIV/aids na Capital, os dois tipos se congregam. O propósito é único: apoiar, amar, respeitar. E trazer de volta a autoestima.
Há 13 anos, a Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/aids – Ceará (RNP – Ceará) está em Fortaleza, bem próximo ao Hospital São José. São 220 soropositivos que dividem dificuldades e sofrimentos. Também comemoram juntos os avanços. E lutam por conquistas políticas. “É uma rede de ajuda mútua”, atesta o atual coordenador Vando Oliveira, 40, que vive há 13 anos com HIV.
Nas reuniões, realizadas regularmente, conversas sobre tratamento, dificuldades e preconceito os unem. É o momento também de se organizar para cobrar políticas públicas para aqueles que vivem com HIV/aids. “É bom saber que tem um lugar onde você pode conversar abertamente sobre tudo isso e saber que as pessoas partilham do mesmo problema”, reflete Vando Oliveira.
Na Rede de Solidariedade Positiva (RSP), há espaço para quem vive e quem convive. Nos dois encontros por mês, pessoas que lutam contra o HIV/aids, familiares e amigos se reúnem. A ideia é trazer de volta a autoestima. “Damos um estímulo. Mostramos que, se a pessoa aderir ao tratamento, é possível viver bem”, assegura o presidente da RSP, Luciano Silva.
Girassol
Quando o corpo não suporta e o vírus toma conta, os cuidados precisam ser ainda mais intensos. Os dias no hospital se tornam inevitáveis. E aí entra a participação do Grupo de Apoio Girassol do Hospital São José. Há 15 anos, mais de 50 “girassóis”, nos três turnos, iluminam a vida daqueles que sofrem com os efeitos do HIV. “Estamos aqui para ouvir os medos, dar um banho”. O relato é da coordenadora do grupo, Mirtes Brígido Machado.
Apesar de conviver dia a dia com o sofrimento de muitos, a voluntária comemora a mudança de perspectiva no tratamento de aids. Se no início o grupo estava junto das “pessoas morrendo”, agora a equipe trabalha com a visão do futuro. “O tratamento dá uma perspectiva de amanhã. E estamos nessa junto dos pacientes”.
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