Projeto contra homofobia abre nova polêmica
O GLOBO
19/05/2011
Emenda deixaria margem para manifestação preconceituosa com base em convicção religiosa; senadora estuda mudanças
Sérgio Marques
Evandro Éboli
BRASÍLIA. A proposta da senadora Marta Suplicy (PT-SP) de alterar o texto do projeto que tipifica o crime de homofobia, do qual é relatora, e permitir, em uma emenda dúbia, que padres e pastores, com base em convicções religiosas, possam fazer críticas ao comportamento HOMOSSEXUAL, não agradou nem aos religiosos. Em função da polêmica, a senadora admitiu ontem que pode retirar essa proposta do texto e evitar que essa concessão seja considerada inconstitucional.
Na emenda que apresentou, a relatora quer alterar um artigo da Lei Afonso Arinos e argumenta que não se deve penalizar por discriminação os casos de "manifestação pacífica de pensamento fundada na liberdade de consciência e de crença". Marta justificava que não se poderia ignorar que muitas religiões consideram a prática HOMOSSEXUAL uma conduta a ser evitada. E dizia que essas doutrinas não poderiam ser ignoradas e desrespeitadas.
- Estou revendo. Há uma possibilidade de complicação constitucional. Se você deixar falar o que quiserem (padres, pastores e outros líderes religiosos), esse direito pode se estender a pessoas de outras áreas também - disse Marta Suplicy.
No Congresso, parlamentares evangélicos e católicos estão contra a emenda de Marta por entender que esse suposto direito de criticar a prática HOMOSSEXUAL não deve se restringir aos templos e igrejas. Entendem que deve ser estendido também a programas de rádios e TVs, entrevistas e palestras.
O advogado e assessor da Frente Parlamentar da Família, que reúne deputados de várias religiões, Paulo Fernando Melo da Costa, afirmou que Marta tentou fazer um "agrado" e que não deu certo.
- Somos contra a emenda porque limita a liberdade de se expressar sobre esse tema em locais fechados de culto e acaba proibindo manifestação na mídia e em outros espaços para um público bem maior. É um cerceamento da liberdade de expressão - disse Paulo Fernando.
Precedente para críticas a outras minorias
Ao inserir sua emenda no artigo 20 da lei, que penaliza quem pratica, induz e incita a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional (estrangeiros), Marta não esclareceu se o "benefício" concedido aos religiosos para criticarem homossexuais também inclui, por exemplo, negros, judeus e mulheres.
- Não tinha pensado sobre isso. Essa discussão tem mesmo que amadurecer, e o Senado é o local para esse debate - disse Marta.
A senadora afirmou que até se pensa em admitir o direito dos religiosos criticarem homossexuais, com base nos preceitos religiosos, deixando claro que quem se exceder nas críticas pode responder por crimes como injúria.
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