SAIU NA IMPRENSA
09/DEZ./2015
Por que o sucesso destas mulheres negras incomoda tanto?
Brasil Post
Taís Araújo, Maju Coutinho, Cris Vianna e, agora, Sheron Menezzes.
O que elas têm comum? São mulheres. São negras.
E estão na mídia. Sob os holofotes. São estrelas, referências, exemplos.
Em que outro momento a televisão brasileira teve tantas mulheres negras como protagonistas na dramaturgia ou no jornalismo?
A participação delas não é mais de figuração, configurando o que seria “o lugar do negro”, como bem diagnosticaram nos anos 80 os pensadores Lélia Gonzalez e Carlos Alfredo Hasenbalg.
Não é coincidência que quando se ampliam o espaço e a visibilidade de mulheres negras tão talentosas uma sequência de ataques ofensivos e discriminatórios tome conta das redes sociais.
Assim como agressões verbais a negras nas universidades acompanham o início da adoção de ações afirmativas, a inclusão e a ascensão delas na TV também geram reações negativas.
Por que o sucesso das mulheres negras incomoda tanto?
Porque elas estão cada vez mais representadas. Porque existe uma consciência cada vez maior do racismo cordial no Brasil.
Porque falamos cada vez mais sobre isso, cobrando a desconstrução dos papéis raciais que durante anos aceitamos goela abaixo sem questionar.
Porque elas são lindas e orgulhosas. De sua cor. De seus traços. De seus cabelos. Negros.
O que durante séculos recebia o carimbo de negativo por ser “de preto” agora é assimilado por boa parte da população como motivo de orgulho.
Claro que, em um País onde 53% das pessoas são pretas e pardas, precisamos ainda de mais exemplos. Médicos, advogados, ministros do Supremo negros.
Porém, já vemos frutos da luta histórica do Movimento Negro Unificado, da implementação de cotas com orientação racial nas universidades públicas, da aprovação do Estatuto da Igualdade Racial e do debate sobre representatividade dos negros na sociedade brasileira.
Mas, à medida que mais mulheres negras deixarem a posição de “minha empregada”, infelizmente veremos mais reações como as sofridas por estrelas negras.
São “racistas escondidos sob o pretenso anonimato da internet”, como bem assinalou Cris Vianna.
As polícias civis do Rio de Janeiro e de São Paulo já estão atrás deles. E não importa se são meramente haters, que querem apenas chamar atenção.
Conforme ressaltou Sheron, a discriminação racial “atinge milhões de pessoas no Brasil todos os dias”.
Por isso, punir essas demonstrações de racismo nas redes sociais tem caráter pedagógico.O racista precisa aprender que sua conduta é crime, independentemente da pessoa a quem endereça as ofensas.
E precisa entender que o presente não admite desrespeito nem ódio a nenhuma mulher negra. Seu recalque e seu racismo só vão alimentar o brilho de Sheron, Maju, Cris, Taís.
Zika vírus: a biopolítica dos úteros
Debora Diniz* CCR
O controle das populações ganha nomes originais a depender da época. Já foi eugenia, agora é prevenção. Cada tempo teria sua biopolítica e seus inimigos do bem-estar, permitam-me lembrar Michel Foucault. O infeliz da vez é o zika vírus; e, com pouca originalidade, a população são os úteros das mulheres. O aumento na notificação de recém-nascidos com microcefalia em áreas endêmicas de dengue acendeu a hipótese de que haveria causalidade entre o zika e a má-formação. O Instituto Evandro Chagas encontrou o vírus em tecidos e sangue de um único bebê, e o alarde foi internacional: “Ministério da Saúde confirma relação entre zika vírus e microcefalia”.
Quanta ambiguidade e terror nesse anúncio. Em ciência, “relação” pode ser tudo e nada ao mesmo tempo. Há uma diferença entre causa e relação — o que precisamos saber é se o zika vírus causa a microcefalia no feto. Por que essa diferença importa? Porque relação pode ser erro científico — “o risco de sarampo é maior entre os consumidores de tomates” diz o quê? Que entre as pessoas que gostam de tomate, muitas tiveram sarampo, mas nada sobre a causa do sarampo. Não quero aqui contestar que uma nova descoberta científica possa estar em curso, apenas estranhar como uma hipótese, um único caso de relação comprovada, pode ter sido suficiente para um alerta de saúde pública com consequências importantes para as mulheres. E não quaisquer mulheres, mas as pobres e nordestinas.
Há tempos convivemos com a dengue. O mosquito Aedes aegypti é daqueles cujo nome científico é conhecido sem decoreba de escola. A dengue é doença da vida comum, todas nós conhecemos alguém que já sentiu as dores cortantes do vírus da dengue. A microcefalia no feto é outra ordem de inquietação sanitária — a má-formação não tem cura e, mesmo o diagnóstico sendo feito intraútero, não há direito ao aborto no Brasil. Os dados epidemiológicos anunciam um crescimento de dez vezes nos casos notificados — de pouco mais de cem nos últimos cinco anos, agora identificamos mais de mil recém-nascidos com microcefalia. E os casos são complexos: em alguns bebês, há múltiplas más-formações; em outros, apenas a microcefalia.
Se essa é uma “situação inédita para a pesquisa científica mundial”, segundo o Ministério da Saúde, para a história do controle dos corpos das mulheres, é repetição do já-vivido. A biopolítica tem nas mulheres alvo preferido — não se esperam certezas científicas para anunciar que a melhor prevenção da microcefalia é não engravidar; que para conter o crescimento populacional é preciso restringir número de filhos; que, para que não haja crianças na rua, esterilizar mulheres pobres seria a saída. Esse não é um bom anúncio. A única prevenção ao zika vírus é o controle do mosquito. O resto é política de saúde para amadores.
Debora Diniz é antropóloga, professora da Universidade de Brasília, pesquisadora da Anis – Instituto de Bioética e autora do livro “Cadeia: relatos sobre mulheres” (Civilização Brasileira).
Zika vírus e HIV: Infectologistas dizem que não há recomendação específica para soropositivos e cuidados são iguais para todos
Agência Aids
Identificado pela primeira vez no país em abril, o zika vírus tem mobilizado as autoridades sanitárias, especialmente depois de o Ministério da Saúde (MS) sustentar a hipótese de que o aumento no número de bebês nascidos com microcefalia (má formação do cérebro) está relacionado a ele. Assim como os vírus da dengue e do chikungunya, o zika é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. Por enquanto, a preocupação é com as grávidas, mas, com tantas dúvidas no ar, a Agência Aids ouviu alguns infectologistas para saber se pessoas com HIV precisam de algum cuidado específico. “Não temos notificações de portadores do HIV infectados pelo zika. Então, não podemos falar sobre recomendações para eles”, diz o microbiologista Paolo Marinho de Andrade Zanotto, professor do Instituto de Ciências Biomédicos da USP.
Zanotto explica que é muito cedo para qualquer recomendação com evidências científicas, seja lá para quem for. O mesmo diz o infectologista Esper Kallás, pesquisador e professor da Faculdade de Medicina da USP. “A história está em evolução e deve haver desdobramentos a curto e a longo prazos para as pessoas em geral”, diz Esper. "Por enquanto, não tem nenhuma relação detectada entre zika e HIV."
Claudia Binelli, infectologista do CRT (Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids) de São Paulo, também chama atenção para o fato de haver poucas informações sobre o novo vírus. “Mas é importante informar que não há nenhuma relação com HIV. As precauções e cuidados são os mesmos para todos.”
“Não temos notificação de um portador de HIV infectado pelo zika, mas aqueles com imunidade muito baixa, com CD4 abaixo de 150, podem ter complicações, sim, caso peguem o novo vírus”, diz Jean Carlo Gorinchteyn, do Hospital Emílio Ribas, de São Paulo. “ Quanto mais baixa a imunidade, maiores os riscos.”
A dica de Gorinchteyn é para as pessoas, em caso de qualquer dúvida, procurarem o Emílio Ribas. “Nossa equipe médica está preparada para acolher e orientar os pacientes.”
Todos os médicos recomendam que se combata os focos de mosquito, cada um em sua casa. E incentivem os vizinhos a fazerem o mesmo. A infectologista do CRT recomenda o uso de repelentes como forma de proteção. “O repelente é eficaz contra o Aedes aegypti e pode ser utilizado também em gestantes.” Segundo ela, os produtos à base de icaridina são os mais recomendáveis. A médica orienta ainda para que se use roupas cobrindo braços e pernas sempre que a temperatura e o ambiente permitirem.
Mais sobre o zika vírus - O MS decretou estado de emergência no mês passado, por causa do aumento de números de casos de microcefalia. O MS acredita que o fato está relacionado ao zika.
O caso brasileiro, que incluiu pela primeira vez mortes, motivou um alerta mundial da Organização Mundial da Saúde.
Segundo levantamento da Sucen (Superintendência de Controle de Endemias), 80% dos criadouros do mosquito Aedes aegypti se encontram nas casas. Daí a importância de combatê-los.
Mais de 80% dos casos de infecção por zika vírus não apresentam sintomas. Mas podem aparecer febre e vermelhidão. Nesse caso, é importante procurar um serviço de saúde.
Para casos suspeitos de zika vírus, já é feito um teste em diversas regiões do País. A partir de 2016, o estado de São Paulo disponibilizará outra avaliação confirmatória para a doença, por meio do Instituto Adolfo Lutz, segundo anunciou nesta segunda-feira (7) o secretário erstadual da Saúde, David Uip. O teste de sorologia, pelo método Elisa, permite detectar anticorpos no sangue mesmo após a fase aguda da infecção – ele já é usado para suspeitas de dengue. O exame estará disponível só a partir de 2016.
Quem terá prioridade nos tratamentos contra as três doenças são mulheres grávidas, pacientes que têm os sintomas, doadores de sangue e quem passou por transplante de órgãos.
Em 2013, o vírus causou um surto na Polinésia Francesa e em fevereiro de 2014 chegou à Ilha de Páscoa, a 3.700 km da costa do Chile.
Em menos de dois anos, foram registrados casos de zika em nove países das Américas.
No ano passado, foram registrados no Brasil 147 casos.
Até o dia 28 de novembro, foram notificados 1.248 casos suspeitos de microcefalia em 311 municípios de 13 estados e no Distrito Federal.
Do total de casos, foram notificados sete óbitos de bebês.
Pernambuco tem mais da metade dos casos registrados no país este ano, com 646 notificações.
Para as gestantes, por enquanto, as orientações são evitar picadas de mosquito e áreas com concentração de casos de microcefalia.
“Aidéticos, nunca mais”: Crítico do 'Estadão' se desculpa por ter usado o termo em texto sobre o filme 'Califórnia'
Agência Aids
Atualmente, crítico de cinema do “O Estado de S. Paulo”, o jornalista Luiz Carlos Merten escreveu em sua coluna no 'Blog Estadão', um pedido de desculpas as pessoas que vivem e convivem vírus HIV por usar o termo ‘aidético’ – que estigmatiza as pessoas vivendo com HIV – em seus textos.
Mencionou a recente entrevista feita com Marina Person, diretora do filme “Califórnia" que aborda a aids como um dos temas, em que usou a palavra e causou insatisfação da diretora: “Embora o termo não esteja nas aspas com o que me disse, fica meio vago se ela teria dito. Marina jamais usaria uma palavra tão incorreta e preconceituosa. Comentei com meu amigo Dib Carneiro e ele me passou um pito. Dib adaptou o livro de Valéria Polizzi 'Depois Daquela Viagem' para teatro e conviveu bastante com esse universo da aids. Explicou-me por que tem de ser soropositivo, e tudo bem”, escreveu. Leia abaixo o texto na integra:
Nunca mais!
Espero que Marina Person não esteja tão brava comigo – ia escrever ‘braba’, em gauchês -, a ponto de querer brigar, mas Paula Ferraz, que faz a assessoria do filme dela, Califórnia, me fez saber que Marina não gostou nem um pouco de um termo que usei no texto com a entrevista com ela no Caderno 2. Marina me disse duas ou três coisas para reforçar que o filme não é autobiográfico. Nunca quis ir para a Califórnia – sua meta seria Londres -, nunca teve um tio aidético. Ops! Foi o pivô da insatisfação da Marina. Embora o termo não esteja nas aspas com o que me disse, fica meio vago se ela teria dito. Marina jamais usaria uma palavra tão incorreta e preconceituosa. Comentei com meu amigo Dib Carneiro e ele me passou um pito. Dib adaptou o livro de Valéria Polizzi “Depois Daquela Viagem” para teatro e conviveu bastante com esse universo da aids. Explicou-me por que tem de ser soropositivo, e tudo bem. Assim como é incorreto e não uso mais homossexualismo – tem de ser homossexualidade -, prometo não usar mais aidético. Mas a correção me cansa. No Dia da Aids, na semana passada, ouvi muito que o Brasil, referência internacional no tratamento da síndrome, tem um percentual muito alto de jovens portadores do vírus. Soropositivo parece tão brando, tão distante. Pergunto-me se uma terapia de choque, tipo analista de Bagé, não ajudaria no processo de conscientização da garotada que brinca com (ignora?) o perigo. E a Marina lembra, na entrevista, como na origem da doença, e por conta da desinformação, a aids era associada à promiscuidade e isso piorava tudo, inclusive a vergonha de quem tinha (e dos familiares).Tem sido uma relativamente curta, em anos, mas longa trajetória desde que a aids irrompeu no imaginário das pessoas – e na dura realidade. Estava na Inter de Zero Hora, em Porto Alegre, e redigia as notícias com base em telegramas de agências internacionais (naquela época eram telegramas). Não se usava ‘soropositivo’ e a aids era referida como câncer ou praga ‘gay’, porque as vítimas preferenciais eram homossexuais. Aprendemos depois que atingia outros grupos – drogados, hemofílicos etc. Perdi amigos. Vi filmes bem-intencionados mas ruins sobre o assunto, vi um grande filme de um autor soropositivo que dramatizou a própria experiência. O francês Cyril Collard de Les Nuits Fauves, Noites Felinas, de 1992, já morreu, mas deixou o legado desse filme que ganhou o César mas nem isso o salvou de ser discriminado. Virou, a despeito das qualidades, um filme de gueto. Continuo com amigos soropositivos mas zerados, graças ao coquetel. Morro de saudade do Sérgio, do Edmar e nunca me conformei que o magnífico ator de Sylvio Back em Cruz e Sousa – O Poeta do Desterro, Kadu Carneiro, tenha se isolado para morrer, só sendo descoberto demasiado tarde. Peço desculpas a Marina e a todos os soropositivos, que tenham ou não, desenvolvido a doença.Aidéticos, nunca mais.
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