Aids, Preconceito e o BBB (Pedro Chequer)
11/03/2010
Agência de Notícias da Aids
Nos últimos dias pudemos acompanhar a polêmica gerada pela afirmação do lutador Marcelo Dourado, participante da 10 ª Edição do Programa “Big Brother Brasil” da Rede Globo de que “homem hétero não pega aids”. Esta fala demonstra que, mesmo após quase 30 anos de luta contra a aids, ainda temos muito que avançar na informação e, principalmente, no enfrentamento do preconceito e da discriminação.
Dados de relatório publicado no final de 2009 pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (UNAIDS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) estimam que cerca de 33,4 milhões de pessoas vivam com HIV em todo o mundo e que metade delas são mulheres. Apenas em 2008, cerca de 2,7 milhões de pessoas se infectaram pelo HIV – uma média de 7400 novas infecções a cada dia.
Embora tenha havido avanços importantes com a prevenção de novas infecções por HIV e com a redução do número anual de óbitos relacionados à aids, as doenças relacionadas à aids permanecem sendo uma das principais causas de morte mundialmente.
O tratamento antirretroviral já está disponível para mais de quatro milhões de pessoas em todo o mundo, mas a oferta de preservativos masculinos e femininos atendem a menos de 25% da necessidade global. Além disso, para cada duas pessoas que iniciam o tratamento, outras cinco se infectam pelo HIV – uma clara demonstração de que é necessário um reforço nas ações de prevenção.
A epidemia de aids está em transição. Na Europa Oriental e na Ásia Central, por exemplo, epidemias que antes eram caracterizadas principalmente pela transmissão entre usuários de drogas injetáveis agora se destacam pela transmissão sexual. Ao mesmo tempo, em algumas partes da Ásia as epidemias são cada vez mais caracterizadas pela transmissão entre casais heterossexuais.
Também no Brasil, o perfil da epidemia vem mudando ao longo do tempo. Para se ter uma ideia, em 1986, para cada 15 casos de aids notificados em homens, apenas um caso era notificado em mulheres. A partir de 2002, no entanto, para cada 15 homens havia 10 mulheres infectadas pelo HIV.
O participante do BBB se equivoca ao afirmar que heterossexuais não estão vulneráveis à epidemia. De acordo com o Ministério da Saúde, em 2006, 29,7% das notificações de casos de aids no sexo masculino ocorreram por transmissão sexual heterossexual, enquanto homens que fazem sexo com homens representavam 20,7% dos casos.
A aids é uma epidemia das inequidades. Em 2009, cerca de 97% das novas infecções aconteceram em países em desenvolvimento. A epidemia é alimentada por fatores como a desigualdade de gênero, a violência contra mulheres, a homofobia, a transfobia e pelas inequidades sociais. Essas violações aos direitos humanos impõem dificuldades no acesso à informação, a insumos de prevenção e ao diagnóstico precoce.
Os brasileiros se destacam tanto por sua resposta inovadora, avançada e universal à aids quanto no acesso à informação sobre a epidemia.
A Pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas da População Brasileira de 15 a 64 anos, realizada pelo Ministério da Saúde, registra que aproximadamente 97% dos indivíduos entre 15 e 64 anos afirmaram que o uso do preservativo é a melhor forma de prevenir a infecção pelo HIV.
Infelizmente, a posição de Marcelo Dourado não é exclusiva e apenas reflete o longo caminho que a sociedade brasileira ainda tem de percorrer. Ao lado de um bom nível de conhecimento, ainda nos deparamos com o preconceito e estigma. Esta perspectiva muitas vezes anula o conhecimento e visa acima de tudo culpabilizar, rejeitar e ofender determinados segmentos sociais. O desafio de promover mudanças não só de comportamento mas também de atitudes e percepção adequada da epidemia, permanece.
Esse episódio, todavia, abriu a possibilidade de trazer uma vez mais o tema para o grande público.
A Rede Globo atuou de maneira bastante positiva ao recomendar o acesso ao site do Ministério da Saúde (o qual obteve um número recorde de acessos no período) e ao esclarecer que a opinião do participante não condizia com a evidência científica.
O acesso à rede nacional de televisão foi também uma oportunidade extremamente importante para a ampliação do debate sobre a aids, sobre o preconceito e à discriminação.
O BBB 10, por exemplo, registra uma média de audiência de 30 pontos no IBOPE, correspondendo a mais de 5 milhões de telespectadores apenas na Grande São Paulo. Essa enorme gama de pessoas poderia, com maior frequência, ser mobilizada à mudança positiva de comportamento, para a prevenção e para o respeito aos direitos humanos.
Para apoiar nesse processo, o UNAIDS, em parceria com Agências das Nações Unidas e organizações da sociedade civil lançou, em novembro de 2009, a campanha “Igual a Você”.
Constituída por dez filmes para TV e spots para rádio para veiculação gratuita, a Campanha registra a realidade de diferentes populações, tais como pessoas vivendo com HIV, lésbicas, usuários de drogas, população negra, gays, refugiados, prostitutas, travestis, transexuais e estudantes. Os veículos de comunicação exercem um papel essencial na promoção dos direitos humanos e ações de responsabilidade social, como a campanha “Igual a Você”, são reconhecidas e valorizadas pelo telespectador brasileiro.
Nossa expectativa é a de que, cada vez mais, as mensagens de prevenção à aids e de promoção dos direitos humanos sejam veiculadas em horário nobres e acessíveis a toda a população.
Se isso ocorrer, estamos certos de que os futuros “BBBs” nos surpreenderão pelo exemplo de cidadania e respeito aos direitos humanos.
Colaboração clipping Bem Fam(11/03/010)
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