O luto no aniversário da Polícia Federal
De um Policial Federal:
Ontem, 28 de março, a Polícia Federal completou 70 de história. Como
todo órgão ligado à defesa ou segurança, nem sempre com passagens
lembradas com orgulho, lembranças de belos serviços prestados. Mas tudo
ligado ao momento histórico vivido por nossa sociedade, um fotografia de
cada época.
Eis que nestas 7 décadas, provavelmente nunca o órgão esteve tão
cabisbaixo, tão sem ânimo, tão apático. E isso ficou claro em cerimônia
realizada na Academia Nacional de Polícia, em Brasilia, durante o Curso
de Formação de policiais, peritos e delegados.
Durante a cerimônia, o corpo de instrutores das atividade
reconhecidamente específicas de polícia - Armamento e Tiro, Técnicas
operacionais e Educação Física, responsável pelas técnicas de defesa
pessoal - funções essas que sempre mostraram o orgulho de ser policial,
policial federal, e de ser professor, silenciaram durante a execução do
Hino do DPF, que apesar de não possuir os versos mais belos, sempre
encheu de orgulho aqueles que amam a atividade e, principalmente,
aqueles que aguardam ansiosamente por sua nomeação no DPF, o início de
sua nova vida.
Cabeças baixas, ombros arqueados para frente, mostraram o peso de se
exercer uma atividade, ou melhor, duas, que são essenciais a qualquer
povo mas pouco ou nenhum respeito recebem. E neste caso específico nem
dentro da própria instituição, que vem a largos passos se encaminhando
para o fim, por conta de uma política de segregação e do combate à toda e
qualquer tentativa de profissionalização de gestão, modernização e
produtividade. Não há orgulho onde não há respeito.
Talvez esses professores-policiais não tenham noção da amplitude de seus
atos. Talvez não lembrem dos riscos que já correram em seu dia-a-dia -
como perder o emprego, ser ferido, ser morto - das horas longe da
família, das dores passadas para se tornarem policiais e posteriormente
professores destas atividades. Provavelmente nem percebam a importância
de sua função naquele momento - a de PROFESSOR - e que por isso são alvo
do duplo descaso e desvalorização dessas atividades: um professor de
polícia. Somente um louco! Parece uma dupla maldição apenas.
Mas ali não estava apenas a tristeza de um grupo, estava a derrocada da
sociedade brasileira. Sem professores - elemento importante na
construção de uma sociedade - não há policiais que deem conta de
organizar a coletividade. Aliás, nem policiais se terá, somente
capangas. Sem ambos, não há um pais. De toda sorte, este silencioso
manifesto mostra a penúria em que se encontra a educação e a segurança
pública no Brasil, e mais especificamente - certamente o motivo primeiro
deste protesto - o esquecimento e abandono da Polícia Federal e de seus
Policias (agentes, escrivães e papiloscopistas). Por tudo isso ali
estava a vergonha, o pesar.
Em função desse ato, certamente responderão disciplinarmente, pois
policiais mostrarem descontentamento no Brasil chega a ser considerado
crime - como é o caso das polícias militares - mas tenho certeza que a
dor de cabeça que terão não apagará a força da imagem, além de não ter o
poder de aquebrantar a alma e a honra desses bravos guerreiros,
policiais e professores. E muito menos diminuir a sensação de
representatividade, pois tenho certeza que muitos gostariam de estar
ali, fazendo exatamente o que fizeram
Não bastasse tudo por que passa a polícia no Brasil, para "comemorar"
esse aniversário do DPF, mais um policial dá fim à própria vida, no
interior de São Paulo. Um não, dois, pois um Policial Civil do Distrito
Federal se jogou de sua janela na mesma data. Foi esse o presente
sinistro recebido pelos Policiais Federais.
O vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=Gw0vouy_HBc&feature=youtube_gdata_player
http://querooutrapolicia.blogspot.com.br/2014/03/o-luto-no-aniversario-da-policia-federal.html?spref=tw&m=1