Estudo analisa fatores associados à introdução de leite artificial em menores de seis meses
ENSP
03/03/2010
Mães que trabalham informalmente, com menos de oito anos de estudo e sem experiência em amamentar tem mais chances de introduzir leite artificial na alimentação de seus filhos. Essa é a conclusão do artigo 'Fatores associados à introdução precoce de leite artificial, Município do Rio de Janeiro, 2007', que analisou a associação entre introdução de leite artificial e fatores demográficos e socioeconômicos em crianças com menos de seis meses. O artigo foi publicado na Revista Brasileira de Epidemiologia é fruto da dissertação de mestrado da aluna Roberta Pereira Niquini sob a orientação da pesquisadora Maria do Carmo Leal,d o Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos da Escola Nacional de Saúde Pública (Demqs/ENSP/Fiocruz).
A pesquisa foi realizada com uma amostra representativa de 1.057 mães de crianças menores de seis meses, atendidas em 27 unidades básicas de saúde no município do Rio de Janeiro em 2007. De acordo com a aluna, as informações sobre características maternas e tipo de alimentação das crianças foram obtidas por meio da aplicação de um questionário, respondido pelas mães após consulta pediátrica. "Para estimar a associação entre as variáveis maternas e a introdução de leite artificial, foi utilizado um modelo de regressão logística multivariado com ponderação, efeito de desenho e controlado pela idade da criança", explica.
Segundo a aluna, para o Ministério da Saúde (MS), a promoção do aleitamento materno passou a ser considerada como uma das cinco ações prioritárias na atenção à criança a partir de 1984. Nos anos seguintes, novas estratégias foram implantadas para auxiliar na promoção dessa prática. Dentre elas, a Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC) - incorporada pelo MS em 1992, a Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI) - estabelecida no Brasil a partir de 1997, e a Iniciativa Unidade Básica Amiga da Amamentação (IUBAAM) - lançada pela Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SESRJ) em 1999.
De acordo com Roberta, dados de três inquéritos populacionais, realizados em 1974-1975 e 1989 - 1999, mostraram uma tendência de aumento da prática da amamentação no Brasil. Destacando que, no período de 25 anos decorridos entre a primeira e a terceira pesquisa, o aumento da frequência da amamentação foi de 200% para crianças no sexto mês de vida.
"As ações focadas no incentivo à prática de aleitamento materno bem como a melhora dos indicadores são conhecidas. Contudo, ressalta-se que a introdução precoce de alimentação complementar na dieta infantil, incluindo chás, sucos, água, outros tipos de leite, entre outros alimentos, ainda é uma prática comum", destaca.
A aluna explica que, em busca de fatores que se relacionem ao abandono da prática de aleitamento materno exclusivo, a fim de identificar as mulheres mais vulneráveis e possibilitar que os profissionais de saúde desenvolvam uma abordagem direcionada às características dessas mulheres, estudos têm analisado a associação entre características socioeconômicas e demográficas maternas e o aleitamento materno.
De acordo com Roberta, associações negativas entre a prática de aleitamento materno e a mãe ser trabalhadora, primípara (ser mãe pela primeira vez), ter baixa escolaridade e ser adolescente têm sido amplamente documentadas. Já fatores como, receber apoio familiar, ter condições adequadas no local de trabalho, ter experiência prévia positiva de amamentação e ter companheiro são associados positivamente à prática de aleitamento materno.
Segundo ela, tendo como base a recomendação da Organização Mundial de Saúde de que o aleitamento materno exclusivo deve ser mantido até os seis meses de idade da criança, a pesquisa mostrou que a introdução precoce de leite artificial foi alta na amostra de usuários de unidades básicas de saúde do município do Rio de Janeiro. Os resultados apontaram que a chance de introdução de leite artificial foi maior entre as mães com trabalho informal, menos de oito anos de estudo e sem experiência em amamentar.
A aluna afirmou que foi apontada a presença de interação negativa entre situação conjugal e a idade materna. Dentre as mulheres com companheiro, as adolescentes mostraram uma chance duas vezes maior de introduzir leite artificial quando comparadas às adultas, enquanto, entre as mulheres sem companheiro, a adolescência aparece como um fator protetor para a introdução de leite artificial.
clipping bem fam:903/03/010)
Nenhum comentário:
Postar um comentário