Informe ENSP
Tuberculose no Rio: uma questão socioeconômica Publicada em 22/03/2012 Sábado (24/3) é Dia Mundial de Combate a Tuberculose e, para lembrar a data, o Centro de Referência Professor Hélio Fraga (CRPHF/ENSP/Fiocruz) promoveu a II Mostra ENSP na Semana de Mobilização Nacional de Combate à Tuberculose. As atividades tiveram início na quarta-feira (21/3), com a palestra Panorama atual da tuberculose no Brasil e no mundo, proferida pela representante do Programa Nacional de Controle à Tuberculose (PNCT), Caroline Silveira. Segundo ela, os recursos disponíveis para a tuberculose no Brasil, de 2002 até 2011, aumentaram 14 vezes. Mesmo assim, o Brasil é o 22° país em taxas de incidência, prevalência e mortalidade entre os 22 países de alta carga de tuberculose no mundo. As atividades da II Mostra ENSP seguem até sexta-feira (23/3). Confira na Biblioteca Multimídia da ENSP a apresentação da palestra. Além da representante do PNCT, participaram da palestra de abertura do evento a coordenadora do Programa de Tuberculose da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro, Dra. Ana Alice Pereira, a coordenadora do Programa de Tuberculose da Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro, Dra.Raquel Piller, e o ativista do Fórum das Organizações Não Governamentais de Tuberculose do Rio de Janeiro, Psicólogo Carlos Basília. O chefe do Centro de Referência Professor Hélio Fraga, Dr. Miguel Hijjar Aiube, e a vice-diretora de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da ENSP/Fiocruz, Dra. Margareth Portela, inauguraram a II Mostra destacando a importância de difundir informações sobre a tuberculose para avançar cada vez mais no tratamento da doença. Dando início à palestra Panorama atual da tuberculose no Brasil e no mundo,a representante do PNCT apresentou a Situação epidemiológica e política de controle da tuberculose no Brasil. Caroline falou sobre os aspectos políticos e a priorização política da tuberculose no país. Segundo ela, a tuberculose é uma das metas dos Objetivos do Milênio (ODM) – desde 1993 passou a ser prioridade da Organização Mundial da Saúde (OMS) e desde 2003, do Ministério da Saúde, sendo, atualmente, uma das cinco doenças prioritárias. Sobre os aspectos epidemiológicos da tuberculose (TB), a representante do programa destacou que em 2010 foram notificados 71 mil casos da doença, em 2010 foram registradas 4,6 mil mortes, além de a tuberculose ser a primeira causa de mortes de pacientes com Aids e a terceira causa de mortes por doenças infecciosas. “ O Rio de Janeiro tem um desafio bem grande devido a todos os problemas econômicos e sociais que a cidade enfrenta. Temos um número muito grande de populações mais vulneráveis. A população indígena tem quatro vezes mais chances de adquirir a tuberculose, a população prisional 25 vezes mais chances, a população que vive com HVI/Aids, 25 vezes, e os moradores de rua, 67 vezes mais chances”. Com relação aos dados da coinfecção da tuberculose, segundo solicitação e realização do exame anti-HIV entre 2001 e 2010, Caroline apontou que ainda é um desafio oferecer 100% de testes de coinfecção. Em 2002, 36,6% de exames foram solicitados, em 2010, 69,6%; o número de exames realizados também cresceu de 25,8% em 2002 para 60,1% em 2010. Por fim, Caroline Silveira apontou avanços e desafios do Programa Nacional de Controle da Tuberculose. “A revisão do Manual de Normas, a edição do Protocolo de Enfermagem para a Atenção Básica, a mudança do esquema terapêutico, a inclusão da tuberculose no Mais Saúde, a descentralização das ações de controle da TB, a incorporação de outras estratégias de trabalho, o reconhecimento da importância da mobilização e do controle social, as resoluções e recomendações do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e, mais recentemente, a inclusão da tuberculose no plano Brasil sem Miséria; são grandes avanços no programa”, enumerou Caroline. Com relação aos desafios, a representante citou o diagnóstico laboratorial como um dos maiores desafios ao controle da TB no País. A taxa de cura e o abandono do tratamento também foram apresentados como grandes desafios técnicos operacionais do PNCT. Casos de TB no estado e no município do Rio de Janeiro e a luta dos movimentos sociais. Em seguida, a coordenadora do Programa de Tuberculose da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro, Ana Alice Pereira, apontou a situação global dos casos de tuberculose no Rio de Janeiro, estado que possui a maior quantidade de casos da doença, maior taxa de mortalidade e mais de 10% de abandono do tratamento (sendo ainda umas das maiores taxas de abando ao tratamento). Ana Alice apontou as condições socioeconômicas em relação à doença. Para ela, em todos os países do mundo, quando se melhoram as condições socioeconômicas, com certeza, diminuem os casos de tuberculose. “O Rio de Janeiro, diferentemente dos outros estados, tem uma grande população vivendo em comunidades, em ambientes aglomerados nos quais uma grande quantidade de pessoas divide o mesmo espaço. Isso é um fator importantíssimo para a transmissão da tuberculose. É preciso diminuir a desigualdade social para diminuir os casos de tuberculose”, expôs a coordenadora. Ana Alice também abordou o tratamento da doença. De acordo com ela, parte significativa dos pacientes demora muito a começar o tratamento porque o acesso ao sistema de saúde é péssimo. Outro dado apontado foi em relação à divulgação dos números de casos de tuberculose no País. Em 2000, dados apontaram 16 mil casos; em 2010, 14 mil casos. Para Ana Alice, essa diminuição não é real, pois em 2004 houve uma limpeza no banco de dados no número de casos notificados. “Não dá para afirmar que os casos no Rio de Janeiro estão diminuindo, essa questão precisa ser estudada para que realmente se chegue à conclusão de que houve uma diminuição no número de casos”, afirmou. A coordenadora do Programa de Tuberculose da Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro, Raquel Piller, afirmou que existe uma tendência de queda nos casos de tuberculose no município do Rio de Janeiro e que isso é uma prioridade. Raquel citou dados relacionados à assistência – segundo ela, descentralizada – no município. Atualmente, existem 58 novas Clínicas de Família que promovem busca ativa de casos e ações nas comunidades; e, das Clínicas antigas, quase 100% delas têm parceria com as Clínicas de Saúde da Família no intuito de promover ações para a diminuição dos casos de abandono do tratamento. Ainda segundo a coordenadora, a comunidade da Rocinha é a área com a maior incidência de casos de tuberculose no município do Rio de Janeiro; por isso, atualmente, as populações vulneráveis – além dos moradores de comunidades, os moradores de rua e os usuários de crack – são prioridade nas ações. “Estamos potencializando nossos esforços para ampliar as equipes que realizam atendimento a essa população vulnerável, nossa missão é que os profissionais entendam a importância do seu trabalho na luta contra a tuberculose”, destacou. “ A desinformação da população em relação à tuberculose é preocupante. É preciso resgatar a história da doença para conhecê-la e não cometer os mesmos erros do passado. O Brasil produz cinco mil óbitos por ano por tuberculose, mortes evitáveis, esses números inaceitáveis para uma doença que tem cura, podem e devem ser mudados”, argumentou o ativista do Fórum das Organizações Não Governamentais de Tuberculose do Rio de Janeiro, Carlos Basília. O ativista citou também a importância da participação das Organizações Não Governamentais na luta contra a tuberculose no Brasil. Segundo ele, a necessidade de políticas públicas intersetoriais de controle da TB e a participação comunitária nesse enfrentamento, são questões prioritárias. Ainda assim o Brasil permanece entre o grupo de 22 países que detém 80% dos casos no mundo. Para Carlos, é preciso maior vontade política por parte do poder público nas três esferas de governo para resolver esse grave problema de saúde pública: “Temos os instrumentos adequados para o diagnóstico, tratamento e a cura da doença, mas eles devem chegar até a população sem as barreiras que muitas vezes é preciso enfrentar para se conseguir o tratamento. 50 milhões de brasileiros estão infectados pela tuberculose e essa situação precisa ser revertida”, declarou Basília. |
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