29/09/2011 - 17h50
A descoberta de um protótipo de vacina contra o HIV muito mais potente que os desenvolvidos até agora, anunciada nessa quarta-feira na Espanha, foi comemorada por pesquisadores aqui no Brasil. No entanto, eles reforçam que é preciso cautela e fazem algumas ressalvas sobre a nova pesquisa.
“Qualquer avanço em busca de uma vacina contra a aids deve ser comemorado, e ainda mais um como este que obteve uma resposta imunológica contra o HIV tão robusta”, comentou Esper Kallás, infectologista e investigador principal da unidade de pesquisa clínica que realiza em São Paulo estudos de novas drogas e vacinas ("São Paulo Clinical Trials Unit").
Para ele, a divulgação de resultados como esse pode ajudar a aumentar a procura de interessados em ser voluntários de novas pesquisas. Esper lembra, entretanto, que outros testes de vacinas contra o HIV já se mostraram bem eficazes numa primeira fase, mas ineficazes quando submetidos a mais pessoas.
O ativista e membro do Comitê Nacional de Vacinas, Jorge Beloqui, ressaltou que a boa resposta imunológica da vacina espanhola não pode ser confundida com eficácia. “A descoberta é muito interessante, mas ainda não conhecemos bem qual é a porcentagem de resposta imunológica necessária para termos uma eficácia preventiva contra o HIV”, disse.
Artur Kalichman, responsável pelo setor de vacinas no Centro de Referência em DST e Aids de São Paulo, explicou que o protótipo MVA-B (Vaccinia Modificado Ankara), ou seja, o vírus atenuado que serve como modelo na pesquisa espanhola já foi usado no Brasil e se mostrou muito promissor, contudo, ainda é cedo para se falar de uma vacina para a população.
“O que irá dizer melhor sobre a eficácia desse produto será o tes te que os espanhóis irão fazer com os pacientes já infectados pelo vírus. Se a reação for boa e ajudar no tratamento da aids, também será útil para a prevenção”, finalizou.
Após manifestarem uma grande eficácia em ratos e macacos, os testes começaram a ser aplicados há cerca de um ano em 30 pessoas sadias, escolhidas entre 370 voluntários. Durante o teste, seis pessoas receberam placebo e 24 a vacina.
Em 95% dos pacientes, o protótipo gerou defesa (normalmente atinge 25%) e, enquanto outras vacinas estimulam células ou anticorpos, este novo conseguiu estimular ambos. Para 85% dos pacientes, as defesas geradas se mantiveram durante pelo menos um ano.
Na próxima etapa, os pesquisadores realizarão um novo teste clínico, desta vez com voluntários infectados pelo HIV. O objetivo é saber se o composto, além de prevenir, pode servir para tratar a doença.
O estudo foi apresentado nessa quarta-feira por Mariano Esteban, do Centro Nacional de Biotecnologia do Conselho Superior de Pesquisas Científicas da Espanha (CSIC); Felipe García, do Hospital Clínic de Barcelona, e Juan Carlos López Bernaldo de Quirós, do Hospital Gregorio Marañón de Madri.
O resultado da pesquisa foi publicado nas revistas científicas Vaccine e Journal of Virology.
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