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segunda-feira, 13 de junho de 2011

"DEIXEI O JAPÃO PARA TRATAR A AIDS NO BRASIL"

 

"Deixei o Japão para tratar a aids no Brasil"

Atualmente, 710 pessoas de vários locais do mundo recebem tratamento gratuito contra o HIV no País

Fernanda Aranda, iG São Paulo | 13/06/2011 09:47

Foto: Amana Salles / Fotoarena Ampliar
Maurício deixou o Japão para tratar aids no Brasil. Atualmente, 710 estrangeiros estão em tratamento em hospitais nacionais
O terremoto e o tsunami que devastaram as terras japonesas, em março deste ano, não convenceram Maurício, 41 anos, a deixar o Japão.
Apesar da destruição, a vida do técnico em montagem permaneceu intacta, repleta de ânimo para trabalhar pela reconstrução do país. A ameaça só veio dois meses depois, trazida pela palavra “positivo” em um teste de aids.
Em apenas três dias como portador do vírus HIV, Maurício fez as malas, deixou para trás o emprego fixo, o visto permanente e a ótima colocação em uma fábrica de automóveis para buscar tratamento no Brasil, país que já não era sua casa há mais de duas décadas.
Leia a história: Mulher, avó e HIV positivo
“Nunca tinha ficado doente. Do nada, comecei a emagrecer e apareceram umas feridinhas na boca”, conta. “Fui ao hospital e a notícia de que tinha a doença, após um exame trivial de sangue, foi dada pelo médico de forma robótica.”
“Você tem aids”, disse o profissional de jaleco, pausadamente, quase sem mexer os lábios. “E ficou me olhando em silêncio depois.”
Maurício ficou perdido em um choro que durou duas noites. Mas, de certa forma, soube para onde ir. Elegeu o Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil, destino escolhido por, ao menos, 710 estrangeiros que atualmente recebem tratamento e acolhimento médico de graça contra o HIV, mostram dados do Programa Nacional de DST, Aids e Hepatites Virais, do Ministério da Saúde.
Vitrine
Ronaldo Hallal, coordenador do Departamento de Qualidade de Vida do Programa Nacional de Aids, pontua que o fato do atendimento aos soropositivos ser integral, gratuito e ainda fornecido por equipes multidisciplinares (médicos, psicólogos, nutricionistas, assistentes sociais e enfermeiros) faz da área uma vitrine para o planeta.

Em países desenvolvidos como França e Estados Unidos, além de pagar pelo atendimento, o coquetel de remédios que permite uma vida praticamente normal ao portador do vírus é pago, em custos que superaram US$ 2 mil mensais.
“A resposta que o Brasil deu ao HIV, desde o início da epidemia nos anos 80, tornou-se emblemática no mundo”, avalia Hallal. “Não há uma interferência econômica por causa dos estrangeiros atendidos no País (eles representam 0,03% dos 200 mil em tratamento no Brasil), e o sistema universal não pode ter barreiras burocráticas. Não negamos acolhimento em hipótese nenhuma.”

O mosaico de nacionalidades atendidas por dois centros gratuitos de referência em aids de São Paulo serve de termômetro do alcance mundial da doença, que ainda mata 12 mil pessoas por ano só no Brasil. Também mostra como o País se mantém na rota dos “imigrantes do HIV”.
No Instituto de Infectologia Emílio Ribas – onde Maurício está internado – foram recebidos 171 estrangeiros nos últimos 5 anos, de 33 países diferentes. Os latino-americanos (Bolívia e Colômbia) são maioria. Itália, Portugal, França e Espanha contribuíram com 32% dos atendimentos, seguidos pelos africanos (23,2%).
A mesma miscigenação prevalece no Centro de Referência e Treinamento em DST e Aids, também em São Paulo. No total, 514 estrangeiros foram acolhidos nos últimos dez anos. Em 2010, passaram por lá argentinos, chilenos, colombianos, cubanos, norte-americanos, franceses, peruanos, portugueses, suíços e uruguaios.
Nas duas unidades, as assistentes sociais enrolam a língua para tentar dar conta da torre de babel que frequenta os leitos. “Seja porque o paciente era um turista de passagem e teve o diagnóstico de aids em São Paulo, seja porque ele veio aqui especialmente buscar tratamento, a função da saúde não é investigar uma possível clandestinidade”, afirma Tâmara Newman Lobato Souza, diretora do ambulatório do Emílio Ribas.
“Oferecemos as ferramentas para que ele se recupere e, em alguns casos, até ajudamos para que continuem o tratamento em seus países de origem.”
“Oferecemos as ferramentas para que ele se recupere e, em alguns casos, até ajudamos para que continuem o tratamento em seus países de origem.”

Do mundo para o SUS de SP

No Emílio Ribas, pessoas de vários locais do planeta tratam a aids
No Emílio Ribas, pessoas de vários locais do planeta tratam a aids

2 comentários:

  1. Muito significativa essa matéria. Confesso que desconhecia que o índice de pessoas em atendimento na TARV ja estava tão elevado, como está, segundoessa matéria, e apenas em SP. E vejam vcs que ainda ouvimos muitas críticas ao PN por pessoas da américa do Norte de da Europa. Vou investigar isso melhor, pois enquanto pesquisadora dessa epidemia e Ativista do Fórum Articulação AIDS em Pernambuco, considero relevante aprofundar o conhecimento dessa questão.

    Nilo, muito legal o seu blog, viu? Ja me tornei uma seguidora. Vi o comentário que vc fez no meu, e só estou me pronunciando agora por questão de não ter visto antes, falta de tempo mesmo. Parabéns e podemos nos comunicar mais acerca dos assuntos referentes ao HIV/AIDS. Meus contatos, vc me acha no facebook: mirfis60@gmail.com ou no hotmail: miriam_fialho@hotmail.com Seria interessante batermos um papinho via online, que vc acha? me envie ta e-mail para eu te adicionar no mns, beleza?
    Abraços pra vc e parabéns pelo blog. Amei!
    Abração,
    Miriam Fialho

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  2. Míriam obrigado por sua colaboração!
    Vou precisar muito!!!
    E quanto a tratamento ARV em estrageiros deparei-me com essa
    realidade quando descobri uma amiga adoecida, e ao falar no posto de
    saúde que ela era Argentina da possibilidade de tratar-se aqui, a
    atendente do posto me disse que muitos pacientes novos estrangeiros
    estavam recebendo medicação e tratamento. Isso já se vai bem uns cinco
    anos!!!
    Agora sou a favor do tratamento a todos sem restrição e
    principalmente tratamento mundial.
    Embora saiba das dificuldades de se manter esse tratamento gratuito
    para todos dificil a longo prazo!
    Conforme o pesquisador Wylli Rosembaun que esteve no Brasil
    recentemente, e eu tive a honra de conhece-lo no GPVRJ. Na França o
    tratamento é pago, e os envolvidos no trabalho de prevenção divulgação
    e ativistas recebem pelo serviço executado.
    Não é como aqui que temos trabalho voluntário.
    Outra coisa só na organização que ele gerencia tem 500 funcionaros pagos!
    Mas que o ativismo é pouco e dificil, devido ao preconceito, tanto
    que campanha publicitária recente, contrataram as pessoas mais
    influentes para se dizer soropositivas e chamando a população a falar
    sobre isso.
    E para completar o retrato do nosso país varonil. Temos ONGS fechando
    por não receber por serviços prestados aos PVHAS.
    Como no Caso do GPVRJ e SOS Vida (Petropolis)
    NIlo borgna
    ativismocontraaidstb

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