11/03/2010 18h49
Dra. Rosana Sarmento Brasileiro |
Rosana Sarmento Brasileiro, diretora do Serviço de Nutrição do Hospital Heliópolis, lembra que o tratamento à base de terapia antirretroviral de alta potencia, denominado pela sigla HAART (em inglês), foi responsável pela significativa redução de mortes entre portadores do HIV/Aids, porém a toxicidade em longo prazo dos medicamentos tornou-se um dos problemas mais importantes do tratamento da infecção pelo HIV nos dias atuais. “A terapia antirretroviral apresenta um impacto importante sobre o estado nutricional, resultando em alterações na distribuição da gordura corporal e alterações metabólicas. Alguns medicamentos podem também causar reações como diminuição do apetite, náuseas, vômitos e diarreia, podendo levar à perda de peso”, explica a especialista.
Segundo ela, alimentar-se de forma adequada deve fazer parte do tratamento, uma vez que o sistema imune está diretamente relacionado ao estado nutricional. “O consumo de uma variedade de alimentos é fundamental para uma nutrição balanceada. Para obter uma alimentação saudável, a pessoa deve procurar ingerir todos os grupos de alimentos diariamente. Uma refeição saudável deve fornecer carboidratos, proteínas, lipídios, vitaminas e minerais, que são nutrientes necessários ao bom funcionamento do organismo”, comenta Rosana.
Ao referir-se à pirâmide de alimentos para adultos, ela recomenda de 6 a 11 porções diárias de grãos (como pão, cereais, arroz e massas); 3 a 5 porções de legumes; 2 a 4 porções de frutas; 2 a 3 porções de produtos lácteos (como leite, iogurte e queijo); 2 a 3 porções de alimentos fonte de proteína (como carne, aves, peixes, ovos e leguminosas) e pequenas quantidades de gordura e açúcar.
Informações contidas no "Manual Clínico de Alimentação e Nutrição na Assistência a Adultos Infectados pelo HIV", publicado pelo Ministério da Saúde, revelam que a alimentação saudável, adequada às necessidades individuais, contribui para o aumento dos níveis dos linfócitos T CD4 (células de defesa do organismo), melhora a absorção intestinal, diminui os agravos provocados pela diarreia, perda de massa muscular, síndrome da lipodistrofia e todos os outros sintomas que, de uma maneira ou outra, podem ser minimizados ou revertidos por meio de uma alimentação balanceada.
Reações como vômitos, diarreias ou mesmo infecção intestinal são, segundo Rosana, um grande problema para as pessoas que vivem com HIV/Aids. Essas reações são provocadas pelos efeitos colaterais dos medicamentos. Para evitar tais ocorrências, a nutricionista do Hospital Heliópolis lista algumas recomendações, que seguem abaixo. As dicas também estão disponíveis na cartilha "Alimentação e Nutrição para as Pessoas que Vivem com HIV e Aids", publicada pelo Ministério da Saúde em 2006, que traz ainda receitas, maneiras de se alimentar em situações especiais, formas de aproveitar melhor os alimentos, tabela de vitaminas e minerais e tabela de alimentos de época (download disponível no final desta página).
Dicas para evitar contaminação dos alimentos
• Antes de cozinhar, lave bem as mãos e os utensílios que for usar.
• Não use copos ou pratos rachados, pois os germes se acumulam nas rachaduras.
• O lixo deve estar bem tampado e longe dos alimentos.
• Mantenha os alimentos fora do alcance dos insetos, roedores e outros animais. Cubra ou guarde em vasilhas bem fechadas.
• Não consuma alimentos com alterações de cor ou cheiro.
• Descongele as carnes na geladeira e não em temperatura ambiente. Evite comer carne crua.
• O leite pasteurizado deve ser mantido na geladeira depois de aberto e preste atenção na validade. Se não for pasteurizado, deve ser fervido antes de usar.
• Não coma ovos crus. Cozinhe até ficarem duros (6 a 8 minutos de fervura) ou frite até a gema ficar dura. Os ovos devem ser bem lavados com água e sabão, para evitar a contaminação com salmonella, que pode existir na casca.
• Corte separado a carne e os vegetais. Lave a tábua. Prefira tábuas de plástico ou de vidro, evite a tábua de madeira.
Mães soropositivas
Os avanços da Medicina têm permitido que muitas mulheres portadoras do vírus da Aids possam gerar filhos saudáveis. Nessa fase da vida os cuidados nutricionais da futura mamãe se ampliam, comenta Dra. Rosana, também especialista em Nutrição Materno-infantil pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “A gestação aumenta as demandas nutricionais, o que estabelece a necessidade de uma atenção especial com as orientações alimentares, para garantir a oferta de calorias e nutrientes exigidas no período de 40 semanas”, ressalta a médica.
Segunda ela, a gestação determina alterações fisiológicas tais como as alterações hormonais, que ocorrem no primeiro trimestre e pode acarretar náuseas e vômitos, azia, alteração de paladar e olfato, além de alterar as preferências alimentares. “Em alguns casos esses efeitos podem estar associados aos efeitos adversos dos antirretrovirais, podendo ocorrer perda de peso no início da gestação. No segundo e terceiro trimestres deve-se garantir a ingestão adequada de alimentos e nutrientes para proporcionar o ganho de peso adequado. As necessidades nutricionais e energéticas podem variar segundo a avaliação do estado nutricional pré-gestacional, o estágio da infecção pelo HIV, as comorbidades (como diabetes, hipertensão ou obesidade), estilo de vida e atividade física habitual”, explica a especialista, ressaltando que “o acompanhamento com um nutricionista é importante para a orientação e planejamento de uma alimentação saudável, durante toda a gestação”.
Alimentação de crianças HIV+
Ao ser questionada sobre as necessidades nutricionais das crianças infectadas pelo HIV, Rosana lembra que o princípio básico é utilizar uma dieta saudável e adequada em nutrientes de diversas fontes. “Embora as deficiências nutricionais derivadas da infecção por HIV são mais graves em crianças em relação aos adultos, devido às demandas nutricionais utilizadas para o crescimento e desenvolvimento. Os efeitos imunossupressores do HIV colocam essas crianças sob elevado risco nutricional precocemente”, comenta.
Quanto aos efeitos colaterais metabólicos da HAART, ela ressalta serem “menos evidentes em crianças que nos adultos, a não ser em casos de estágio avançado da doença ou em casos de importantes deficiências nutricionais no início do tratamento”. Segundo Rosana, já existe na literatura relatos de hipercolesterolemia e aumento da resistência à insulina em crianças sob uso da terapia antirretroviral. "Assim, a população pediátrica que vive com o HIV necessita de adequado monitoramento nutricional a fim de direcionar a terapia e garantir melhor qualidade de vida", comenta.
Leia mais:
>> Dez passos para uma alimentação saudável
Reportagem: Equipe de conteúdo do Portal SBI
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