12/02/2010 - 10h34
HIV "desencapado" causa Aids, indica pesquisa com casais gays
RICARDO MIOTO
da Folha de S. Paulo
Por mais avanços que se tenha feito no estudo da Aids nos últimos 25 anos, pouco se sabe ainda sobre os mecanismos que o vírus HIV usa para se espalhar.
Agora, estudando seis casais homossexuais em que um homem tinha acabado de contaminar o outro, um grupo dos EUA conseguiu ao menos dizer qual parte do sêmen é responsável por transmitir a doença.
O sêmen é um líquido heterogêneo, que carrega desde espermatozoides até células do sistema de defesa do corpo, os glóbulos brancos.
Esse tipo de célula costuma ser atacada pelo HIV, que aloja seus genes no DNA do glóbulo branco --é por isso que a Aids abala a capacidade de defesa do organismo e o portador que não toma remédios fica vulnerável a doenças como a pneumonia.
Seria, então, possível que os glóbulos brancos tivessem um papel na transmissão, mas os cientistas viram que isso não acontece.
O vírus se propaga, na verdade, como fitas de RNA --molécula-irmã do DNA-- que ficam soltas (e que carregam todo o material genético do HIV, com as instruções de que ele precisa para se reproduzir e dominar o hospedeiro), flutuando no sêmen.
Ou seja, o vírus em sua forma completa não tem papel crucial na infecção, explicam os cientistas em estudo na última edição da revista "Science Translational Medicine".
É possível saber isso porque, como o HIV tem alta taxa de mutação, os vírus flutuantes do sêmen, que estavam separados na vesícula seminal de quem o transmitiu, têm ligeiras diferenças genéticas quando comparados com os dos glóbulos brancos, que estão alojados na corrente sanguínea.
Analisando a diferença na sequência de "letras" químicas do genoma dos vírus presentes nos indivíduos recém infectados dos casais, foi possível saber em qual dos dois lugares eles se originaram.
É o mesmo tipo de trabalho que se faz para saber qual o parentesco entre diferentes pessoas ou espécies.
Saber qual parte do sêmen carrega o vírus torna possível definir um alvo para eventuais medicamentos ou vacinas que evitem a sua transmissão.
Ainda é preciso, porém, entender melhor os mecanismos químicos e celulares do contágio por HIV através do sêmen para saber por que isso é assim.
É algo importante, porque, apesar de o vírus também estar presente no sangue, nos líquidos vaginais e no leite materno, é através do sêmen que a maioria das pessoas se contamina.
Outro passo é saber se as descobertas são válidas para qualquer tipo de relação sexual: o estudo atual foi feito apenas com homens gays.
O problema que pesquisadores como ele enfrentam é conseguir voluntários para os estudos. "É complicado encontrar parceiros sexuais que tenham acabado de transmitir o HIV e que estejam dispostos a contribuir com a ciência", diz Smith.
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