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Repórter especial, faz parte da equipe de ÉPOCA desde o lançamento da revista, em 1998. Escreve sobre medicina há 14 anos e ganhou mais de 10 prêmios nacionais de jornalismo
Ninguém compra remédio feliz da vida. Toda vez que pagamos a conta da farmácia lembramos que nossa saúde poderia ser melhor, que aquele dinheiro poderia ser gasto com algo mais prazeroso, que estamos engordando os lucros da indústria farmacêutica. Esse sentimento é ainda mais forte quando o remédio é de uso contínuo e vira uma despesa mensal fixa, como a escola dos filhos ou o supermercado. O Ministério da Saúde deveria advertir: comprar remédio dói e provoca acessos incontroláveis de raiva. Principalmente quando os preços variam ao sabor do vento. Não é ultrajante perceber que pagamos R$ 100 por uma droga e, na farmácia em frente, ela custa a metade?
Os preços de um mesmo medicamento podem variar até 1.400% na cidade de São Paulo, segundo um levantamento divulgado recentemente pela Fundação Procon. O único jeito de não se sentir lesado é pesquisar, pesquisar, pesquisar. A boa notícia é que alguém já gastou sola de sapato por nós. A Pro Teste, maior organização de defesa do consumidor da América Latina, visitou 49 farmácias em seis capitais e descobriu quais cobram menos. A pesquisa será divulgada no sábado (27) e estará disponível no site www.proteste.org.br. Mas esta coluna antecipa os resultados nesta sexta-feira (26), com exclusividade.
Em cada loja visitada, a Pro Teste pesquisou os preços, com o máximo desconto possível, dos seguintes remédios:
· Buscopan · Crestor · Dermodex · Diovan · Dorflex · Glifage · Hipoglós · Lipitor | · Neosaldina |
Em São Paulo, o preço mais baixo desta cesta de medicamentos foi encontrado na Drogaria Onofre. Ela saiu por R$ 490. O valor mais alto era cobrado pela Farmalife: R$ 703.
Em Porto Alegre, a Onofre também foi a que ofereceu os melhores preços: R$ 549. Em Florianópolis, a melhor escolha era a Pague Menos (R$ 566), assim como em Belo Horizonte (R$ 579) e no Rio de Janeiro (R$ 581).
Em Brasília, o menor valor foi encontrado na Extra (R$ 618). Brasília, aliás, é a cidade onde os remédios custam mais caro. “Em todas as capitais pesquisadas verificamos que a maioria das farmácias pratica preços 30% abaixo dos valores máximos permitidos pelo governo”, diz Ana Gabriela Barroso, analista de mercado da Pro Teste. “Em Brasília é diferente. Muitas cobram o preço máximo. Não entendemos qual é a razão”.
Ana Gabriela conta que foram encontradas diferenças absurdas em todas as capitais. “Se o consumidor não pesquisar, vai ser muito prejudicado”, diz. Esse é um ponto importante: a pesquisa da Pro Teste é o retrato de um momento. Sinaliza as farmácias que, numa determinada semana, cobravam menos. Não significa que elas tenham sempre os melhores preços ou que esse padrão seja válido para qualquer remédio. A mesma farmácia que oferece uma pechincha em determinada droga pode jogar o preço de outra nas alturas.
Sempre tive curiosidade de entender como funciona esse mercado. Por que há tanta variação de preços? Como algumas farmácias conseguem oferecer valores incrivelmente mais baixos? Os céticos vão dizer que é preciso desconfiar de ofertas boas demais. Afinal, o roubo de medicamentos e a falsificação de produtos são um fato que podem ajudar a explicar o inexplicável.
Mas esse não parece ser o caso de nenhuma das farmácias visitadas pela Pro Teste. “Não podemos garantir a procedência dos medicamentos, mas realizamos a pesquisa apenas em grandes redes e partimos dos princípio de que são idôneas”, diz Ana Gabriela.
Resolvi procurar a Drogaria Onofre para tentar entender qual é o segredo. Conversei com Marcos Arede, diretor comercial e membro da família fundadora da empresa. Ele me disse que a Onofre oferece os melhores preços porque consegue negociar ótimos valores com a indústria farmacêutica. “Compramos à vista enquanto os concorrentes costumar pedir muito prazo aos fabricantes”, diz. “Se compramos muito bem, conseguimos dar um bom desconto.”
O segredo da Onofre parece ser o custo fixo muito baixo. A rede tem poucas lojas (apenas 36 no país) e tem investido muito em vendas pela internet e pelo telefone. Gasta pouco com encargos trabalhistas, impostos, luz, água, aluguel, manutenção de lojas. “A minha estratégia é pegar o meu fluxo de caixa e vender mais barato. Só consigo fazer isso porque tenho um custo fixo muito pequeno”, diz. “A empresa tinha duas opções: ser grande ou vender muito por loja. Ficamos com a segunda.” Nos últimos oito anos consecutivos, a Onofre se mantém como a empresa que tem a maior venda por metro quadrado construído, segundo o ranking da Associação Brasileira de Farmácias e Drogarias (Abrafarma).
Recentemente, uma declaração do secretário de saúde do governo paulista, Luiz Roberto Barradas Barata, provocou polêmica. “Existem três grandes mercados, muito poderosos e difíceis de controlar: o de armas, o narcotráfico e o de medicamentos”, disse. A indústria farmacêutica reagiu. “Os preços dos medicamentos são em sua expressiva maioria controlados pelo governo. Por isso, a afirmação do secretário é ofensiva, absurda e inaceitável”, disse Nelson Mussolini, vice-presidente executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo.
Remédios não são um produto como outro qualquer. Ninguém escolhe ficar doente. Ninguém escolhe que medicamento tomar. Remédios são itens de uso essencial e compulsório. O mercado é livre e a concorrência entre as empresas é saudável. Mas, nesse campo tão especial, o consumidor precisa se sentir protegido. Trabalhos como o da Pro Teste ajudam e deixam uma mensagem clara: pesquise sempre e opte pelos genéricos, sempre que possível.
E você? O que você faz para comprar remédios mais baratos? Acha que esse mercado deveria ser mais bem controlado? Queremos ouvir a sua opinião.
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