SAIU NA IMPRENSA
12/FEV./2015
De boas intenções...
*Por Beto Volpe
O Ministério da Saúde acaba de lançar a campanha de prevenção à aids para o Carnaval deste ano, focada no público jovem, que é o segmento que apresenta o maior crescimento no número de infecções pelo vírus HIV. A peça publicitária para a televisão é, apropriadamente, de linguagem bem dinâmica e dá ênfase ao atual mantra do Departamento Nacional de DST/Aids/Hepatites Virais, o de testar e tratar. Essa estratégia foi adotada desde dezembro último e preconiza a facilitação do acesso aos testes rápidos para a detecção do vírus e a introdução do coquetel de medicamentos a partir da primeira consulta, seja qual for o estado clínico e laboratorial do indivíduo.
Seria tudo muito interessante, pois tanto o diagnóstico precoce quanto a supressão da carga viral são mecanismos importantes para a redução dos vergonhosos 40 mil novos casos por ano apresentados pelo Brasil. O problema está na forma com que essa recomendação internacional está sendo aplicada em terras tupiniquins, desconsiderando todo o conhecimento em diagnóstico, acolhimento e adesão ao tratamento que foi acumulado nessas décadas de epidemia.
A facilitação do acesso inclui a realização de exames em locais e ocasiões inapropriadas para tal, como boates e eventos festivos, além da temerária disponibilização de testes na farmácia ou na agência dos Correios mais próxima de você. Decisão essa que foi veementemente criticada pelo Conselho Federal de Psicologia e que a partir deste mês estará implementada em Curitiba (PR). Imagine-se você, leitor, preparado para descer as ladeiras de Olinda com seus amigos, resolve fazer o teste e vê seu emocional rolar ladeira abaixo. Ou, abalado pelo fim da relação, compra um kit na farmácia e descobre, em seu apartamento no nono andar em uma noite chuvosa, que, além de um par de chifres, também herdou a infecção pelo HIV.
Vamos supor que tudo tenha dado certo, a pessoa tenha conseguido manter o equilíbrio, procurou o SUS para fazer seu acompanhamento e o médico lhe disse que teria de iniciar com os medicamentos, já que boa parte dos médicos não sugere, prescreve e que venha o próximo, por favor. Pois bem, já que o Ministério da Saúde adora dados produzidos no hemisfério norte, por que ele não menciona uma vírgula sequer sobre o estudo recém publicado pelo “Journal” do The American Medical Association. Nele, foi demonstrado que um em cada cinco jovens infectados pelo HIV abandona o tratamento pelo medo de transformações físicas, da rejeição em seu círculo de amizades e pela certeza juvenil de que nada vai lhe acontecer de ruim.
Fazer isso seria um tiro pela culatra, afinal, mais vírus resistentes estariam em circulação, complicando ainda mais o tratamento e as expectativas de vida das pessoas com HIV, além de impactar negativamente nas estratégias de prevenção. Vale lembrar que o governo federal também está descentralizando a assistência em aids para a rede básica de saúde, sacramentando o fim de qualquer projeto de adesão ao tratamento.
De boas intenções, o inferno está cheio e o brasileiro também. Somos o país dos atalhos, onde o jeitinho e a fé costumam resolver os problemas temporariamente, mas apresentam um enorme custo no final. Também somos o país da governabilidade, em que os preceitos técnicos da luta contra a aids são sobrepujados pelos interesses da base aliada, que impõe ao governo federal uma lista do que pode e do que não pode ser veiculado em campanhas públicas. S
Somos o país da comodidade, em que a solução biomédica para a epidemia de aids tira de cena os aspectos sociais e psicológicos do indivíduo e do grupo, além de oficializar o desprezo do Ministério da Saúde pela opinião da sociedade civil e das pessoas com HIV.
Acho que nem Satanás aguenta mais o país do Carnaval...
* Beto Volpe é ativista e um dos fundadores da ONG Hipupiara, de São Vicente (SP)
Tinder tira do ar campanha contra Aids do governo
EXAME
São Paulo – O Ministério da Saúde lançou uma campanha de prevenção a Aids em apps de encontros. A iniciativa recebeu elogios, mas não agradou ao Tinder.
A campanha foi divulgada pelo Ministério da Saúde nesta semana. Durante dez dias, ficaram no ar perfis de três homens e duas mulheres nas redes do Tinder e do Hornet (outro app de encontros, mas voltado ao público gay).
Nas descrições, os perfis falsos afirmavam que procuravam alguém para fazer sexo sem preservativo. Assim que uma conversa era iniciada, no entanto, o perfil enviava uma mensagem alertando sobre os riscos das doenças sexualmente transmissíveis.
“É difícil saber quem tem HIV. Se divirta, mas se proteja”, dizia a mensagem do Ministério da Saúde. Em imagens divulgadas pelo Ministério da Saúde, a reação dos usuários dos apps é positiva.
Mas nem todo mundo gostou da campanha. O Tinder afirmou que irá apagar os perfis falsos.
“Nós estamos apagando os perfis já que eles violam nossos termos de serviço. Vocês não estão autorizados a fazer propaganda no Tinder”, escreveu Rosette Pambakian, da comunicação da empresa no Twitter.
O Ministério da Saúde alega que os termos do Tinder proíbem o uso comercial do aplicativo e que a campanha não se encaixa nesse perfil. Os perfis falsos, de qualquer maneira, já haviam sido apagados de acordo com o Ministério da Saúde.
Por outro lado, o Hornet gostou da ação. Os termos do app proíbem o uso da rede para a criação de perfis corporativos ou para anúncios. Uma porta-voz da empresa afirmou ao site americano The Verge, que eles não irão apagar a campanha, que foi descrita como uma “grande iniciativa”.
Conte algo que não sei
O Globo
Mônica Doneto, psicanalista - ''Sou hétero, mas posso ser capturada''
Antes especializada em infância, terapeuta freudiana agora se dedica às 'late-blooming-lesbians', mulheres que passam a ter relações homossexuais após a maturidade.
"Sou psicanalista, membro titular da Formação Freudiana è autora do livro 'Em nome do pai, da mãe e do filho! Há alguns anos pesquiso a sexualidade na contemporaneidade, com o intuito de pensar as questões qué surgem na clínica psicanalítica em torno desse tema, com base na teoria freudiana"
Conte algo que não sei.
O fenômeno da "late-blooming lesbians" ( mulheres que passam a se envolver com outras mulheres já na maturidade) é cada vez mais discutido nos Estados Unidos. Há blogs sobre mulheres que passam por isso depois de 35 anos de casadas. No Brasil, já ouvimos sobre o tema dentro dos consultórios, e o fenômeno já ganhou um nome. De repente, essa mulher se encontra dentro de outra experiência sexual. E não é necessariamente algo que ela escondeu.
Então, não é uma saída do armário tardia?
Não sempre. É, muitas vezes, um encontro com outro objeto. Os encontros amorosos se dão a partir da pura pulsão. Eles não têm nada a ver com a anatomia. O corpo não é preparado "objetivamente" para uma relação homem-mulher por meio dos aparelhos sexuais.
Mais do que sentir desejo sexual por outra mulher, também há as relações de amor. As duas esferas se relacionam nessa dinâmica?
Acho que o amor independe da questão sexual. Posso morar com uma amiga e amá-la sem sentir desejo sexual por ela. A possibilidade de essas mulheres terem contato com outro corpo feminino é a questão importante. E as meninas já experimentam isso com as amigas na adolescência.
A sexualidade feminina é mais fluida?
Sim. Até por conta dessa experiência inicial das meninas. A experiência com o corpo da outra flui melhor.
E a sexualidade da mulher e também psicanalista, é mais fluida ainda?
Para mim, isso é muito natural. Sou hétero e ainda não passei por essa experiência com outra mulher, mas posso ser capturada a qualquer momento! (risos). Meu corpo permite essa fluidez, já que a questão passa pelos meus pensamentos, pelos meus estudos.
Como as late-blooming-lesbians lidam com essa descoberta? E os maridos?
Quando chega a falar disso, ela já sabe o que sente e do que gosta. Mas isso causa um transtorno tão grande em sua vida que ela não chega à análise pela sexualidade, mas pela angústia social. Ela pode entrar em depressão porque não consegue sair do casamento. Ou, quando consegue falar disso, é bombardeada pela família. Os filhos entendem melhor. Os homens sentem que não foram potentes para fazer a mulher gozar dentro de uma estrutura hétero.
Suzane von Richthofen se envolveu com outra mulher na cadeia depois de matar os pais com ajuda do namorado. Você pensou sobre esse caso?
É bem complexo fazer uma análise selvagem. Mas é um exemplo possível. Estou falando de uma sexualidade fluida, e, como a Suzane está presa num lugar só com outras mulheres, seria normal encontrar essa outra experiência.
Brad Pitt e Angelina Jolie têm uma filha pequena que só pede para se vestir de homem. E quando a sexualidade se manifesta muito cedo assim, no outro extremo?
A transexualidade é um campo complexo, que ainda precisa ser investigado, até mesmo no campo médico. Não vejo a psicanálise com recursos para isso. A não ser para acompanhar e ajudar a família a não provocar um adoecimento da criança. Se você tentar forçar a construção dessa identidade, haverá muito mais prejuízo.
Grávida apoia descriminalização do aborto em rede social e gera debate sobre o tema
O Globo
‘Estou ao lado dos direitos reprodutivos das mulheres. Jamais vou usar minha gestação contra mulheres que abortam’
RIO - Uma grávida que se manifestou a favor da descriminalização do aborto numa rede social está provocando um enorme debate sobre o tema na web. Gaabriela Moura, que está grávida pela segunda vez, escreveu, nesta terça-feira, um texto de apoio às mulheres que optam por terminar a gravidez. Seu manifesto - parte de uma campanha que tem mobilizado gestantes em torno do assunto nos últimos dias - tem quase 22 mil “curtidas” e cinco mil compartilhamentos.
“Estou ao lado dos direitos reprodutivos das mulheres. Eu sou totalmente favorável à descriminalização do aborto, ao respeito às mulheres e suas escolhas e seus corpos. Sou inteiramente solidária às minhas irmãs que são massacradas, estupradas, culpabilizadas por suas gestações, culpabilizadas pela interrupção destas gestações. (...) Mulheres casadas abortam, cristãs abortam, prostitutas abortam, mulheres de mais de 40 anos, mulheres de menos idade abortam, e eu jamais vou usar a minha gestação contra elas”, escreveu a jovem na rede social.
Enquanto uma parte dos internautas aplaude a iniciativa, muitas pessoas com uma visão oposta à dela estão atacando Gaabriela em sua página pessoal, deixando claro o poder de polarização do assunto. Os comentários ofensivos estão sendo devidamente apagados pela dona do perfil, mas a futura mãe de segunda viagem tem mantido os comentários contrários à sua visão que não ferem sua dignidade ou de outras mulheres. A publicação, por isso, acabou virando um espaço para debate para a questão do aborto. Já são mais de 800 comentários em seu post.
Confira, abaixo, o texto completo de Gaabriela:
“Eu passei pela experiência de engravidar duas vezes. A primeira não foi planejada, a segunda, sim. Ambas foram muitíssimo desejadas e apoiadas, parceiro, familiar, financeiro, todas as nossas questões nos satisfaziam, estávamos (e estamos, afinal, estou gestando ainda) muitíssimo felizes, empenhados e preparados física e, sobretudo, emocionalmente.
As minhas gestações são as minhas gestações, jamais poderia embasar decisões de mulheres, essas que suas histórias não conheço, essas que seus desejos não conheço, essas que suas dores e delícias não conheço, por minhas experiências felizes na gestação e maternidade.
Estou ao lado dos direitos reprodutivos das mulheres. Eu sou TOTALMENTE favorável à descriminalização do aborto, ao respeito às mulheres e suas escolhas e seus corpos. Sou inteiramente solidária às minhas irmãs que são massacradas, estupradas, culpabilizadas por suas gestações, culpabilizadas pela interrupção destas gestações, caso tenham esses filhos, sofram violência obstétrica, sejam culpabilizadas por péssimas condições físicas e emocionais, rechaçadas no trabalho, crucificadas nos meios conservadores e, muitas vezes, sobretudo se forem negras e pobres, mortas sangrando na mão de um sistema cruel, ao coro de comemorações, em um Estado que tem por dever ser LAICO, ou seja, não deve embasar suas políticas públicas em aspectos religiosos.
Mulheres casadas abortam, cristãs abortam, prostitutas abortam, mulheres de mais de 40 anos, mulheres de menos idade abortam e eu jamais vou usar a minha gestação contra elas. “Solidariedade às minhas irmãs mulheres”.
Ovo hoje ou galinha amanhã? (Contardo Calligaris)
Folha de SP
A criança que terá mais sucesso na vida é a que consegue se controlar em vista de prazeres maiores
Domingo, voltando a São Paulo, assim que o avião tocou o solo, minha vizinha de poltrona retirou da bolsa e reanimou o celular que ela nunca tinha desligado --contrariando a ordem expressa de apagar totalmente qualquer aparelho eletrônico.
Naquele exato momento, a aeromoça pediu que os celulares fossem ligados só quando o avião estivesse de porta aberta. Minha vizinha, já nos seus e-mails, procurou minha cumplicidade: "Não dá para esperar, hein?".
Se você tem simpatia pela minha vizinha e, a esta altura, pensa que o mundo merece ser de quem não quer esperar, é bom lembrar que o famoso teste do marshmallow diz o contrário.
Proponha esta alternativa a crianças de cinco anos: você pode comer um marshmallow (ou outra guloseima preferida) agora mesmo ou, então, esperar até eu voltar, e aí você terá direito a dois marshmallows. Acrescente que, se a criança não aguentar e chamar antes de você voltar, você aparecerá imediatamente, mas ela ficará com um doce só.
Essa experiência foi realizada numa creche da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, no começo dos anos 1960. Em tese, o teste explorava os meios pelos quais as crianças conseguiam resistir à tentação imediata (ou, ao contrário, as estratégias que as levavam a desistir rapidamente).
A pesquisa se tornou um clássico décadas depois, quando seu autor, Walter Mischel, reencontrou as crianças testadas originalmente para ver como elas tinham evoluído.
Ao longo dos anos, as crianças que tinham sido capazes de esperar e ganhar dois marshmallows se deram muito melhor do que as outras: nos estudos, no equivalente ao vestibular, na profissão que escolheram, na estabilidade das uniões afetivas etc.
Mischel, hoje professor de psicologia na Universidade Columbia, em Nova York, acaba de publicar "The Marshmallow Test" (ed. Little, Brown & Co.). No livro, ele expõe a história do teste (e de seus derivados, dos anos 1960 até hoje) e medita sobre os resultados e suas eventuais consequências pedagógicas.
Mischel, que é também um clínico e bom leitor de Freud, não tira conclusões apressadas da experiência que o tornou famoso. Mesmo assim, é frequente que os resultados do teste do marshmallow sejam interpretados como a demonstração do fato de que a exigência de satisfação imediata e a incapacidade de controlar os apetites prometeriam o fracasso social.
Moral aparente da história: os que não sabem esperar (e preferem um marshmallow já) acabam mais facilmente nas prisões do que nas pós-graduações. Na fábula de La Fontaine, quem se dá bem é a formiga, não a cigarra.
Cuidado, essa conclusão é duvidosa. Os resultados do teste do marshmallow não prometem um futuro tenebroso aos que procuram o prazer. Ao contrário, a criança que consegue esperar e que terá mais sucesso na vida é a que se controla em vista de um prazer maior (dois marshmallows), e não em nome dos méritos que ela adquiriria por se privar de um prazer.
O que é bom não é saber se privar, mas saber obter uma recompensa maior. Desse ponto de vista, o crente que se comporta de modo a ganhar o paraíso não é diferente dos libertinos de Sade que suspendem sua ejaculação na esperança de encontrar um receptáculo no qual seu gozo será maior.
Mas voltemos a outro "detalhe", crucial na hora de perguntar como fazer com que nossas crianças saibam merecer o segundo marshmallow.
No teste (e na vida), uma criança só consegue se controlar e esperar que o adulto volte com a condição de acreditar em sua palavra, ou seja, com a condição de confiar nele.
Se presumo que o adulto seja um mentiroso que não voltará, melhor comer meu marshmallow agora --pois quem garante que, no fim, alguém chegará com dois marshmallows?
Não sei se o teste do marshmallow foi repetido no Brasil. Se foi (ou se for), não seria surpreendente que as crianças brasileiras pareçam mais "imediatistas" do que as americanas ou as europeias.
Mas que ninguém conclua que os brasileiros seriam mais hedonistas --quem sabe, pela herança de uma colonização que preferiu saquear a apostar no futuro. Antes disso, melhor considerar que os brasileiros, desde a infância, têm boas razões para não confiar nos "adultos" (no caso, leia-se: em quem os governa).
E, obviamente, se os "adultos" são ladrões e mentirosos, melhor comer já o marshmallow que está na mesa.
ATENÇÃO!
A Coordenadoria Especial de Diversidade Sexual do Rio lançou a campanha "A Aids não tem cara e não tem cura. Use camisinha".
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