SAIU NA IMPRENSA
10/FEV./2015
Camisinha e muito mais
O Globo
AIDS
Governo reforça campanha pelo preservativo, e especialistas pedem diferentes frentes de ação
Antonella Zugliani Dandara Tinoco
Ainda que quase a totalidade (93%) dos moradores do Sudeste saiba que a camisinha é a melhor forma de evitar doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), 46% deles admitiram não ter usado o preservativo em relações sexuais nos últimos 12 meses. Os dados estão na Pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas na População Brasileira (PCAP), realizada em 2013 com 12 mil pessoas de 15 a 64 anos. Os números regionais foram divulgados pelo Ministério da Saúde ontem, dia em que o ministro Arthur Chioro esteve na quadra da escola de samba Estação Primeira de Mangueira, Zona Norte do Rio, para lançar a Campanha de Prevenção às DSTs e Aids do Carnaval 2015, vestindo a camisa com o slogan "#partíuteste'.' Ao mirar em jovens e prometer ações para além do carnaval, a pasta rebate críticas de que as campanhas têm sido ineficazes e muito restritas a esta época. Para especialistas, é preciso investigar por que as pessoas não usam a camisinha como deveriam e ampliar as ações, como o reforço da divulgação da profilaxia pré-exposição (PrEP).
No final de janeiro, o Ministério da Saúde Informou que 45% dos brasileiros disseram não ter usado o preservativo em 2013. A mesma pesquisa mostrou que 94% dos brasileiros sabem que a camisinha é a melhor forma de evitar DSTs. Comparados com pesquisas anteriores, os dados do Sudeste divulgados ontem mostram que o uso do preservativo nas relações sexuais com parceiros casuais ao longo do ano tem se mantido estável, com pequena tendência de crescimento: 46% em 2004,47%, em 2008, e 54%, em 2013. No Sul, houve uma queda entre 2004 e 2008 (de 60,9% para.,47,6%), mas uma volta ao patamar inicial foi registrada em 2013, quando 60,4% disseram ter recorrido a camisinhas. zeram no último ano; no Norte, 50%.
Na quadra da Mangueira, Chioro refutou críticas de que a pasta se concentra apenas nos dias de folia para realizar as ações e prometeu que a iniciativa vai se estender aos outros meses:
- Vai seguir o ano inteiro. Vamos ter ações na Oktoberfest, nas festas juninas, e por aí vai.--
70 MILHÕES DISTRIBUÍDOS
Nos aeroportos Santos Dumont, no Rio, e de Salvador e Recife serão instalados 34 displays para a retirada de camisinhas. Inicialmente, serão abastecidos com 195 mil preservativos. Em todo o país, a distribuição alcançara os 70 milhões de preservativos durante o carnaval. Na sexta, o Ministério da Saúde já havia anunciado que começa a distribuir o teste oral para diagnóstico de HIV à rede pública de saúde. O exame deve estar disponível até o fim do ano. Com uma haste, o fluído entre a gengiva e a mucosa da bochecha é extraído, e o resultado sai em até 30 minutos.
Reconhecendo que os dados da pesquisa são preocupantes, Chioro acrescentou, ainda, que "é importante destacar o momento em que estamos',' 30 anos depois do surgimento da doença. Para ele, o fato de os jovens de hoje não terem vivido o tempo em que "ídolos, artistas e amigos sofreram muito com o HIV" pode contribuir para o comportamento de risco.
Também presente no evento para divulgar a campanha, a cantora Preta Gil concordou que, "para essa geração nova, parece que a Aids não existe"
- O HTV não os atormenta. Isso assusta - comentou.
Em 2004 foram notificados 3.453 casos de Aids entre jovens de 15 a 24 anos, uma taxa de detecção de 9,6 por 100 mil habitantes. Já em 2013, a taxa subiu para 12,7, com 4.414 casos.
Especialistas concordam que, por não ter vivido o auge da epidemia, a juventude se expõe mais. Contudo, indicam que há necessidade de se investigar melhor que razões levam pessoas que têm conhecimento da eficácia da camisinha a não a usarem.
- É uma questão comportamental? Ou é difícil estar sempre com a camisinha, uma vez que relações casuais.não são planejadas? Daqui para a frente, temos de entender isso melhor, o que poderia ser feito também por meio de pesquisa - avalia a infectologista e pesquisadora da Fundação Osvaldo Cruz Brenda Hoagland - O conhecimento de eficácia não é igual a querer usar aquele método. Então, é preciso pensar também numa prevenção combinada. Não há um único instrumento para prevenir, e talvez um mesmo instrumento não sirva em todas ás fases da vida.
Coordenador executivo adjunto da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia), Salvador Corrêa concorda. Além da camisinha, são citados o uso da profilaxia pós-exposição (remédios para pessoas que possam ter entrado em contato recente com o vírus pelo sexo sem camisinha, já adotada como política pública no Brasil) e da profilaxia pré-exposição (uso de antirretrovirais para reduzir o risco de adquirir a infecção, alvo de projeto pioneiro coordenado pela Fiocruz):
- Defendemos que todas as pessoas podem e devem viver sua sexualidade no sentido que considerem mais prazeroso. Sempre incentivamos o uso da camisinha, mas acreditamos que é preciso ampliar o leque de prevenção.
Ontem, Chioro informou que irá continuar insistindo que só a camisinha não é suficiente para conter o avanço de doenças. A nova proposta da pasta seria, então, dividida em três principais eixos: unir a divulgação do sexo seguro com informações, realizar testes para a doença com regularidade e tratar - também como medida de prevenção.
- O tratamento é a grande novidade da resposta. Ao tratar, conseguimos reduzir a carga viral até que fique indetectável - explicou.
O Ministério apostou, desta vez, no cenário digital e invadiu o Tinder e o Homet A estratégia inédita, que teve como público-alvo os jovens e os homens que fazem sexo com homens, levou em conta a ampla repercussão desses aplicativos para promover encontro casuais. O Tinder tem milhares de usuários no Brasil. O Homet é voltado especificamente para o público gay masculino. A fim de atingir o objetivo de dialogar com o maior número de pessoas, foram criados cinco perfis de personagens que se identificavam como pessoas à procura de sexo sem camisinhas. O intuito da ação foi atingir as pessoas que estão adotando comportamento de risco ao aceitar ter uma relação sem preservativo. Ao interagir com esses personagens, elas receberam uma mensagem direta sobre a importância do sexo seguro.--
ASSOCIAÇÃO COBRA MAIS OUSADIA
Salvador Corrêa, da Abia, diz a que as campanhas de prevenção perderam a "ousadia" nos últimos anos. Em 2013, após polêmica, o governo federal chegou a retirar do ar peças do Ministério da Saúde de prevenção à Aids com a frase "Sou feliz sendo prostituta'.' Em 2012, houve recuo em outra campanha publicitária que seria lançada com foco em jovens gays:
- A partir do fim do ano passado, ouve uma sinalização de uma retomada dessa ousadia, mas governos, ministério e sociedade civil precisam dialogar mais no sentido de construir uma resposta à epidemia que alcance êxito. Temos percebido que, cada vez, as políticas de prevenção perdem fôlego.
Para Alexandre Barbosa, professor de infectologia da Faculdade de Medicina Unesp em Botucatu (SP), a falta de ousadia pode estar relacionada, entre outros fatores, à retomada da ascensão do HIV entre jovens.
- Até bem pouco tempo atrás, as campanhas vinham sendo muito caretas. É preciso focar populações mais vulneráveis, como jovens gays e meninas entrando na vida sexual. Campanhas, assim como medidas científicas, têm de seguir critérios técnicos, sem impedimentos por questões ideológicas, religiosas ou políticas - defende, também citando a importância de incentivar o uso de outras formas de prevenção, além do preservativo.--
Números
46%
DOS MORADORES DO SUDESTE
É o total que admite não ter usado camisinha em relações sexuais no ano anterior. Apesar disso, 93% da população da região sabem que ela é a melhor forma de evitar DSTs.-
12 MIL PESSOAS DE 15 A 64 ANOS
Participaram da pesquisa do Ministério da Saúde.-
45% DOS BRASILEIROS
Disseram não ter usado o preservativo em 2013.-
30 MINUTOS
É o tempo de diagnóstico do novo exame que o governo começa a distribuir na rede pública.
Perfil falso alerta sobre sexo seguro
Diário do Nordeste
Brasília. Aplicativos de smartphones usados para marcar encontros casuais entraram neste ano na mira da campanha de prevenção do Ministério da Saúde contra doenças sexualmente transmissíveis (DST).
Para conscientizar usuários dispostos a ter relações sexuais sem camisinha, o ministério divulgou ontem perfis falsos em dois aplicativos, alertando quem interagir com eles buscando um encontro desprotegido.
Os aplicativos escolhidos foram o Tinder, que tem público de todas as orientações sexuais, e o Hornet, usado principalmente por homens que fazem sexo com outros homens.
"Precisamos chegar ao público jovem, tanto o heterossexual quanto o homossexual, em uma linguagem direta, informativa e esclarecedora, que convoque os adolescentes e jovens a fazerem sexo com segurança", disse o ministro da Saúde, Arthur Chioro, ao participar ontem da divulgação da campanha de prevenção às DST/Aids, no Rio de Janeiro.
Cinco perfis foram criados nos aplicativos, três de homens e dois de mulheres. Na descrição, os usuários fake, como são chamados na linguagem dos internautas, declaram-se dispostos a sexo "sem camisinha".
Uso dispensado
Embora 94% da população do Brasil soubessem, em 2013, que a camisinha é a melhor forma de prevenir as doenças sexualmente transmissíveis, 45% da população ativa sexualmente no País não usaram o preservativo em todas as relações sexuais no período de doze meses anteriores, de acordo com a Pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas na População Brasileira (PCAP), que ouviu 12 mil pessoas de 15 a 64 anos.
Teste para Aids no smartphone
Correio Braziliense
Dispositivo criado por cientistas dos EUA dá o resultado em apenas 15 minutos após a análise de uma gota de sangue. Especialistas acreditam que ele pode ajudar a conter o vírus em regiões menos desenvolvidas
Bruna Sensêve
Parece não ter fronteiras para que os smartphones façam parte inteiramente do nosso cotidiano. Os aparelhos fazem telefonemas, mandam mensagens, tiram fotos, produzem vídeos, apontam o caminho de casa, supervisionam a dieta, monitoram a intensidade dos exercícios físicos e até a frequência cardíaca. Agora, também poderão fazer um teste expresso para doenças sexualmente transmissíveis, como a sífilis e a Aids. A proposta é de uma equipe de pesquisadores da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, e do Centro Internacional para os Programas de Tratamento e Cuidado para a Aids, em Ruanda. Os primeiros testes de sensibilidade foram bastante promissores e realizados com a população infectada do país africano.
O artigo com os principais resultados do experimento foi publicado na revista científica Science Translational Medicine. Nele, os pesquisadores relatam um primeiro teste clínico com 96 pacientes em Ruanda. A prevalência do HIV no país africano é de 2,9% da população adulta, ou cerca de 210 mil pessoas, das quais mais da metade, cerca de 123.317, de acordo com a última contagem feita pelo Programa das Nações Unidas sobre HIV/Aids (UNAids), tomam antirretrovirais. Os números são muito promissores se comparados aos países vizinhos também sob a epidemia. Cogita-se, inclusive, que Ruanda se aproxima do fim da infestação pelo vírus. Isso porque chegou próximo da cobertura universal, resultando no maior número de diagnósticos e na redução na incidência anual da doença em 90%.
Entre as principais iniciativas para alcançar esse número expressivo estão testes menos custosos e mais práticos, como o Dongle, desenvolvido pela equipe de cientistas liderada por Samuel K. Sia, professor de engenharia biomédica da Escola de Engenharia e Ciência Aplicada da Universidade de Columbia, dos Estados Unidos. Eles desenvolveram um acessório para smartphone de baixo custo que pode realizar um único teste capaz de detectar simultaneamente três marcadores de doenças sexualmente transmissíveis (dois tipos de sífilis e um de Aids). Uma picada no dedo analisa o sangue em apenas 15 minutos. O dispositivo consegue replicar todas as funções mecânicas, óticas e eletrônicas do exame reconhecido hoje como padrão ouro para diagnóstico: o Elisa.
"Nosso trabalho mostra que um exame cheio de qualidade de laboratório pode ser executado em um acessório de smartphone", garante Sia. "Os recentes avanços na eletrônica de consumo podem fazer determinados diagnósticos baseados em laboratório disponíveis a qualquer população que tenha acesso a smartphones. Esse tipo de recurso pode transformar a maneira como os serviços de saúde são entregues em todo o mundo", acrescenta o pesquisador.
Após os testes, a grande maioria dos pacientes (97%) disse que recomendaria o Dongle por causa do rápido tempo de resposta, da capacidade de oferecer resultados para múltiplas doenças e da simplicidade do procedimento. Segundo Sia, ao aumentar a detecção de infecções de sífilis, é possível reduzir as mortes em decorrência da doença em 10 vezes. "Estamos realmente animados sobre os próximos passos a dar com esse produto, especialmente para o mercado dos países em desenvolvimento. E igualmente animados sobre a exploração de como essa tecnologia pode beneficiar os pacientes e consumidores de todo o mundo."
Desigualdades Outro médico britânico que dirige uma clínica em Ruanda, Edward Mills, do Centro Columbia Britânica de Excelência em HIV/Aids, conta que o país foi um dos primeiros a atingir a cobertura universal do tratamento do HIV no âmbito exigido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Ocorreu em 2009, quando recomendou tratamento para as pessoas com células imunes CD4 abaixo de 350 células/mm3.
Até alguns anos atrás, o tratamento terapêutico com antirretrovirais era recomendado para pessoas que tivessem o nível de células CD4 abaixo de 200 células/mm3, isto é, quando o organismo já estava muito mais debilitado pela infecção. A alteração desse limiar para pessoas com uma contagem mais alta de células imunes previne não só a instalação da Aids, como também a transmissão da infecção pelo HIV a outras pessoas.
No entanto, Mills ressalta que a cobertura é ainda desigual, com alguns centros de Ruanda relatando 80% de pacientes diagnosticados tratados e outros apenas 20%. "Uma área particularmente desafiadora são as favelas e os assentamentos informais nos arredores da capital, Kigali, onde há altos níveis de trabalhadores migrantes e refugiados da guerra na vizinha República Democrática do Congo." Também para o colesterol
As aplicações dos smartphones no diagnóstico de doenças surpreendem em todos os aspectos. Outro trabalho muito promissor nessa direção é desenvolvido no laboratório de David Erickson, professor associado de engenharia mecânica na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos. Ele desenvolveu um dispositivo que usa a câmera de iPhone para ler o nível de colesterol da pessoa retratada em cerca de um minuto. "Os smartphones têm o potencial para tratar de questões de saúde, eliminando a necessidade de equipamento especializado", afirma Erickson. "Graças à sofisticada tecnologia podemos criar um acessório smartphone que detecta biomarcadores em uma gota de sangue, suor ou saliva", completa. No caso do aplicativo de Erickson, ele discerne os resultados por meio de análise de cor.
'Loteria genética' cura mulher com síndrome rara
BBC Brasil
Doença é caracterizada por alta ocorrência de verrugas e infecções; com mutação acidental do DNA, paciente teve gene defeituoso expulso de seu código genético.
Uma mulher com uma doença rara foi espontaneamente curada, um evento tão improvável que médicos o descreveram como o equivalente a ganhar na loteria.
Ela sofria de hipogamaglobulinemia, caracterizada por uma falha no sistema imunológico e pela alta ocorrência de verrugas e infecções no corpo.
Mas, segundo médicos americanos, ela foi curada há 20 anos após uma mutação acidental de seu DNA, quando ela tinha por volta de 30 anos de idade - hoje ela está na faixa dos 50 anos.
Ao periódico científico Cell, um dos médicos disse que as chances de isso ocorrer são "astronomicamente baixas".
Sistema imunológico
Pacientes com este mal têm um defeito em uma única seção do DNA. Seu organismo ainda fabrica células que formam o sistema imunológico, mas elas ficam retidas na medula óssea, onde são produzidas.
Isso os deixa muito vulneráveis a infecções, especialmente ao vírus do papiloma humano, ou HPV. Além da ocorrência de verrugas, esta condição gera um maior risco de câncer.
A mulher, que pediu aos médicos para não ter seu nome revelado, foi o primeiro caso de hipogamaglobulinemia registrado no mundo, há mais de 50 anos.
Mas, aos 58 anos de idade, ela contatou uma equipe de pesquisadores do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos para fazer verificar se suas filhas tinham a mesma falha no DNA.
Os testes deram positivo para duas de suas filhas, mas o médico quer realizou os exames, Philip Murphy, foi surpreendido com a revelação de que a mulher perdeu suas verrugas há 20 anos.
Os pesquisadores buscaram entender, então, como este "caso miraculoso" ocorreu.
'Notável'
A origem da cura se deu a partir da mutação de uma única célula em sua medula óssea.
Um evento conhecido como "estilhaçamento de cromossomas", em que parte do DNA é rearranjado, fez com 164 genes fossem eliminados de seu código genético, entre eles o gene mutante que causava o problema.
Se isso tivesse ocorrido em uma célula muscular, não teria feito diferença para a paciente. Mas o "estilhaçamento" ocorreu em uma célula-tronco que fabrica células imunológicas.
Esta célula aos poucos tomou conta da médula óssea e foi o ponto de partida para que um novo sistema imunológico chegasse até sua corrente sanguínea.
"É notável. Ela começou como uma menina azarada e acabou ganhando na loteria ao ter uma ocorrência tão rara - e a única conhecida no mundo até hoje", afirmou Murphy.
"Ela não tem mais verrugas, não é mais suscetível a infecções nem apresenta anormalidades no sangue. As chances disso ocorrer são extremamente baixas."
Murphy espera que uma maior compreensão sobre a doença possa levar a um tratamento ou a formas melhores de realizar transplantes de medula.
Andrew Jackson, da Unidade de Genética Humana do Conselho de Pesquisa Médica, no Reino Unido, considera o caso uma "história científica interessante".
"Vejo muitos pacientes com doenças congênitas, e normalmente a regra é 'você tem que conviver com o que você nasceu'. Então, uma cura espontânea não é algo esperado", disse Jackson.
Ele explica que já houve "relatos similares" envolvendo outras condições, mas que houve conjuntamente trabalhos científicos excelentes que "permitiram entender biologicamente" o funcionamento destas síndromes.
Jackson ainda acrescenta que seria importante avaliar a contribuição para a cura dos outros 163 genes afetados pelo estilhaçamento de cromossomas.
Pirataria atinge o mercado de próteses dentárias
O Globo
Industria estima falsificação em 30% de uma peça usada em dentes artificiais, o que compromete a saúde dos usuários
Estimativas da Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratório (Abimo) apontam que 30% de um dos componentes usados em dentes artificiais no Brasil sejam falsificados. Mais barato, o produto pirata é menos seguro e leva à necessidade de manutenção mais frequente, ao risco maior de inflamação e até à possibilidade de perda do implante.
A peça falsificada é o componente pjotético, que fica escondido dentro do dente artificial, fazendo com que o paciente dificilmente perceba algum problema de imediato. De acordo com a Abimo, os componentes piratas são feitos com dimensões de encaixe mais folgadas e se adaptam a vários tipos de implante, que é a parte que fica em contato com o osso e costuma ser feito de titânio ou liga de titânio. Isso faz com que acabem se afrouxando com mais facilidade e, no espaço gerado pelo afrouxamento, há risco de proliferação de bactérias e perda do implante.
Quem enfrentou de problema foi o agrimensor aposentado Américo Campaneri Filho, de 72 anos. Morador de São Carlos, interior de São Paulo, ele perdeu os dentes inferiores e resolveu fazer um implante. O primeiro procedimento, feito há três anos, não foi bem-sucedido. Depois de um ano de sofrimento e gastos de R$ 7 mil, ele foi orientado por um parente a buscar um novo tratamento, com um dentista de Araraquara, a 40 km de São Carlos.
- No primeiro procedimento eu tive bastante inflamação. Doía, eu tomava comprimido uma vez por semana, para aliviar. E a prótese não encaixava, ficava dançando na boca, e machucando a gengiva - contou o aposentado.
FRAUDE É MISTÉRIO ATÉ PARA DENTISTAS
Mesmo entre os dentistas é difícil saber se o problema na prótese de um paciente é provocado por componente pirata. A dentista Raquel Saraiva diz que o uso de componentes falsificados é comum, mas outros motivos também levam a complicações na prótese.
- A gente não consegue perceber a falsificação. O componente de empresas idôneas vêm dentro de caixinhas seladas. Mas tirando da caixinha, a princípio não dá para saber (se é falsificado ou não) - afirma Raquel.
Uma das pacientes que a dentista já atendeu após ter problemas na prótese foi sua funcionária, a babá Edilma Pereira, de 39 anos. Edilma gastou entre R$ 4 mil e R$ 5 mil para colocar três próteses, mas uma não deu certo e ela acabou fazendo novo tratamento, dessa vez com a patroa, em Brasília.
- Tive incômodo, e como a comida fica acumulada por baixo da prótese, mau cheiro - relatou Edilma.
Segundo Fábio Embacher, coordenador do subgrupo de implantes da Abimo, a estimativa de 30% de produtos falsos foi calculada a partir das vendas de implantes e componentes. Segundo ele, para cada implante deve haver um componente. Mas, atualmente, de cada dez implantes vendidos, apenas sete componentes são comercializados.
O implante é o tratamento que mais gera ações no Conselho Federal de Odontologia (CFO), segundo ele, mas a entidade informou nunca ter recebido denúncia em relação ao uso de componentes piratas. Entre as recomendações ao consumidor está a de solicitar que o dentista coloque na nota fiscal dados como o fornecedor do produto, o número de registro na Anvisa e o nome do laboratório responsável. E aconselha a sempre confirmar a veracidade dessas informações no site da Anvisa.
- Hoje é muito comum o paciente perder o contato com o dentista e não saber que implante tem na boca, e nem todos os modelos são compatíveis entre si - explica. - A rastreabilidade, além de garantir a idoneidade do produto, vai dar informação do que ele tem na boca, como acontece com os portadores de marca-passo - exemplifica.
Entre os fabricantes do setor, o pedido é para que que haja uma reclassificação dos componentes dentários da parte da Anvisa. Essa reivindicação foi apresentada no último dia 25 de janeiro, durante evento sobre pirataria na odontologia realizado em São Paulo, do qual participou inclusive um técnico da Anvisa. Mas a agência não deu uma resposta às demandas do setor, alegando que a é preciso fazer uma profunda avaliação dos impactos regulatórios. Na parte repressiva, a ação da Anvisa tem tido eficácia limitada. A agência localizou apenas um caso de produto odontológico falsificado: uma pasta para cimentação de próteses odontológicas.
Atualmente, uma estratégia adotada pelas empresas para evitar a pirataria é dar garantia vitalícia ao dentes artificiais implantados, desde que os componentes protéticos usados sejam produzidos por elas mesmas.
- Acho que isso vai fazer o dentista se preocupar um pouco mais para não perder a garantia do produto - afirmou Geninho Thomé, dono da Neodent, maior empresa do setor.
O Código Penal estabelece reclusão de 10 a 15 anos, além de multa, para o crime de falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais.
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