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domingo, 18 de janeiro de 2015
SAIU NA IMPRENSA 16/Jan./2015
SAIU NA IMPRENSA
16/JAN./2015
Uso frequente de enxaguante bucal com álcool pode causar câncer de boca
iG São Paulo
Uso frequente e por longo prazo de enxaguantes bucais com álcool pode aumentar até quatro vezes o risco de câncer de boca, explica oncologista
Usar enxaguante bucal pode parece um excesso de higiene inofensivo, mas não é. Estudos associam o uso frequente e a longo prazo dos antissépticos bucais com o aumento da incidência do câncer de boca. É sabido, atualmente, que o consumo de bebida alcoólica é um dos fatores de risco para desenvolver a doença, mas, para isso, a pessoa deve beber com frequência. Como os enxaguantes bucais com álcool contêm uma porcentagem etílica alta, o risco pode ser equiparado com aquele de quem bebe todos os dias.
O oncologista e diretor do núcleo de cabeça e pescoço do Hospital A.C. Camargo Cancer Center, Luiz Paulo Kowalski, conta que quem usa diariamente e por um extenso período esse tipo de enxaguante bucal tem um aumento de três a quatro vezes da chance de desenvolver câncer. “Ao menos há uns 50 anos se atribui ao álcool e tabaco os riscos do câncer de boca”, diz o médico.
O álcool pode eliminar bactérias protetoras e facilitar a multiplicação daquelas substâncias maléficas que eventualmente são resistentes. As bactérias, então, transformam o etanol em acetaldeído, substância altamente cancerígena. E daí vem o risco que os médicos tanto falam.
O estomatologista Artur Cerri explica que o uso frequente agride a flora normal da boca. “Alguns enxaguantes contêm potentes antibióticos, e esses medicamentos não são seletivos: matam bactérias boas e ruins. Aquelas que fazem a defesa da boca são mortas e os fungos insensíveis aos antibióticos podem se proliferar.”
Kowalski exploca que aqueles que usam esses enxaguantes bucais com álcool esporadicamente não precisam se preocupar. Para quem usa no dia-a-dia ou até mais de uma vez por dia, no entanto, o médico dá o alerta.
O câncer de boca mais comum e ligado ao cigarro e ao álcool – seja ele de enxaguantes bucais ou de bebidas alcoólicas –, é o carcinoma epidermóide. “Mais de 90% dos casos estão associados a esses agentes, além do HPV”. De acordo com Kowalski, é comum ver pessoas jovens, não tabagistas, com câncer de boca.
Enxaguantes bucais não são essenciais para uma boa higiene bucal
Para quem está preocupado em ter cáries se parar de usar enxaguantes bucais com álcool diariamente, o estomatologista Artur Cerri explica que eles não são essenciais para uma boa higiene bucal.
“Basta uma boa escovação e uso de fio ou fita dental”, explica ele. Enxaguantes são recomendados apenas antes de cirurgias – para a prevenção de infecções.
Segundo ele, as pessoas encaram o antisséptico como se não fosse remédio. O que é errado. “Eles são medicamentos. Alguns até têm antibióticos e anti-inflamatórios”, diz.
Prevenção do câncer de boca
O oncologista do A.C. Camargo explica que o primeiro passo para evitar o câncer de boca é não usar nada que possa causar a doença.
“Ter boa higiene bucal, não fumar, não beber em excesso, se alimentar bem, principalmente de frutas cítricas e vegetais verdes. Eles são protetores”, recomenda o médico. Kowalski diz que, se a pessoa optar por usar enxaguantes bucais com frequência, que prefira os sem álcool.
Homofobia tem solução – criminalização já!
Agência Aids
Por Toni Reis*
Todos os anos no Brasil, centenas de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT) são assassinados tão somente em função de sua orientação sexual e/ou identidade de gênero diferentes da heteronorma convencionalmente aceita e imposta. A maioria desses casos permanece sem apuração e a impunidade reina, perpetuando a situação.
O “Relatório sobre Violência Homofóbica no Brasil: ano de 2012”, publicado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, revela que no ano de 2012 houve pelo menos 310 homicídios de LGBT no país. No mesmo ano, segundo a mesma fonte, também houve 9.982 denúncias de violações dos direitos humanos de pessoas LGBT. Não se trata de um ano atípico, e sim de um quadro que se repete todos os anos.
Entre as populações consideradas vulneráveis no Brasil, a população LGBT é a única que não tem legislação específica de proteção contra a discriminação e a violência, diferente das mulheres, dos negros, dos indígenas e assim por diante. E a oposição à aprovação de uma lei específica de proteção das pessoas LGBT vem sobremaneira de setores ultraconservadores e fundamentalistas para quem os direitos humanos são irrelevantes ou para quem convicções religiosas que não aceitam a homossexualidade vêm acima do princípio da laicidade do processo legislativo e do Estado.
As pessoas não escolhem nem optam por ser LGBT. Quem escolheria ou optaria para ser sujeito à discriminação e à violência que são interligadas a essa condição? A sexualidade não é estanque, ela é extremamente variada e suas diversas manifestações devem ser respeitadas.
A Constituição Federal do Brasil estabelece que não haverá discriminação de qualquer natureza e que todos são iguais perante a lei. Também assegura a dignidade humana e a segurança jurídica. Contudo, pelo quadro de discriminação e violência exposto acima, está evidente que os direitos constitucionais da população LGBT estão sendo feridos e é preciso protegê-los afirmativamente.
Após ter sido apensado à proposta do novo Código Penal em tramitação no Congresso Nacional, acabou sendo arquivado o Projeto de Lei da Câmara nº 122/2006, que tinha o objetivo de criminalizar diversas formas de violência e discriminação, inclusive por orientação sexual e identidade de gênero. Ou seja, 14 anos após a apresentação inicial desse projeto em 2001, voltou-se quase à estaca zero.
Para pôr fim à vergonhosa situação da impunidade da violência e discriminação contra as pessoas LGBT, o governo precisa fazer cumprir as afirmações feitas pela presidenta Dilma na abertura da 69ª Assembleia Geral das Nações Unidas e em seu programa de governo para o período 2015-2018, de que seu governo terá empenho em combater a violência contra homossexuais. Uma forma de transformar essa promessa em realidade é o apoio do governo a novas proposições legislativas nesta área, como o projeto de lei 7582/2014, da autoria da deputada Maria do Rosário (PT/RS) que define os crimes de ódio e intolerância e cria mecanismos para coibi-los.
Pelo menos outros 28 países já têm em vigor legislação que proíbe a incitação ao ódio por motivo de orientação sexual e identidade de gênero, inclusive nossos vizinhos Uruguai, Bolívia, Colômbia e Equador. O Brasil também precisa se afirmar como defensor dos direitos humanos nesta área, aprovando legislação que proteja a população LGBT contra a violência e a discriminação, cumprindo seus compromissos assumidos perante as Nações Unidas e a Organização dos Estados Americanos.
*Sobre o autor: Toni Reis é doutor em Educação, Secretário de Educação da ABGLT – Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais
Bissexual não é gay enrustido; atração pelos dois sexos existe
Do Uol
Yannik D´Elboux
Os bissexuais costumam sofrer preconceito duplo. Para os heterossexuais, é difícil compreender a existência do desejo por ambos os sexos. Já os gays, apesar de carregarem a letra B em seu movimento LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis), custam a acreditar que os bissexuais realmente existam.
A polêmica, tanto entre héteros quanto homossexuais, recai sempre sobre a bissexualidade masculina, pois com as mulheres a cobrança por uma definição é menor. Afinal, a bissexualidade feminina continua sendo um dos maiores fetiches dos homens, o que acarreta maior aceitação.
Para quem duvida dessa orientação sexual, declarar-se “bi” é apenas uma forma de não assumir completamente a homossexualidade. Entretanto, para a ciência, a bissexualidade não é uma desculpa de gay que teme se assumir. Um estudo de 2011 da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, mostrou que homens bissexuais apresentam padrões de excitação similares quando estimulados por conteúdo erótico masculino e feminino.
A pesquisa foi a segunda realizada com o mesmo objetivo pelo professor Michael Bailey, do Departamento de Psicologia. Em 2005, ele não conseguiu comprovar a existência da atração por ambos os sexos do ponto de vista genital e cerebral, o que motivou o controverso artigo do jornal The New York Times de título “Hétero, gay ou mentiroso”.
Em entrevista ao UOL, Bailey explicou que na segunda tentativa empregou outro método de recrutamento dos participantes. Dessa vez, ao invés de uma seleção aleatória, o pesquisador usou um site em que casais procuravam por parceiros sexuais masculinos, para interagir tanto com o homem quanto com a mulher, para aumentar as chances de encontrar indivíduos genuinamente bissexuais.
“No segundo estudo, os homens de fato tenderam a apresentar um padrão bissexual de excitação. Portanto, neste sentido, nós mostramos que a bissexualidade masculina existe”, afirmou o professor da Universidade Northwestern.
Dentro do armário
Apesar de existirem para a ciência, os bissexuais ainda parecem bastante invisíveis para a sociedade e até dentro do movimento gay. “Dificilmente encontramos pessoas que se autodenominam bissexuais e se organizam para fazer esse debate em conjunto”, afirma Juliana Souza, bissexual assumida e secretária da região Sul da ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais).
Segundo Juliana, as pessoas com essa orientação sexual acabam unindo-se aos gays e às lésbicas para não perderem representatividade e fugir das críticas. “Dentro do movimento LGBT tem o preconceito velado. Ainda há aquela rusga de que a pessoa bissexual não tem definição”, diz.
O estudante universitário Rodrigo Salgado, também bissexual assumido e integrante da diretoria do grupo Dignidade, que luta pelos direitos da população LGBT no Paraná, sabe bem o que é isso. “Boa parte da população LGBT pensa que que o bissexual não existe, que é um gay que não saiu do armário”, conta.
Essa ideia equivocada tem justificativa. Alguns gays, às vezes até homens em casamentos convencionais, passam por um estágio em que se definem como bissexuais antes de assumir a homossexualidade. “Quando aceitam que são gays, eles ficam céticos e acreditam que qualquer homem que se diz bissexual é exatamente como eles eram”, explica o professor Michael Bailey, da Universidade Northwestern. Porém, nesses casos, a bissexualidade nunca existiu de fato.
Não é indecisão
“O bissexual é a pessoa que sente atração, tem desejos e estabelece práticas sexuais com ambos os sexos”, define o psicólogo Ítor Finotelli Júnior, psicoterapeuta sexual e secretário geral da Sbrash (Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana). Essa característica não tem nada a ver com indefinição. “Por vezes, o bissexual é considerado como um indeciso ou promíscuo. Esses adjetivos revelam o preconceito que essas pessoas sofrem”, afirma o psicólogo.
A incompreensão pode vir até do parceiro ou companheiro. “Aparecem inseguranças do tipo: será que ele está satisfeito? será que dou conta?”, exemplifica Ítor Finotelli. Por essa razão, Juliana Souza acredita que, muitas vezes, os bissexuais preferem evitar esse rótulo e lidar apenas com o presente, diminuindo também a necessidade de explicações para os outros. “Se está em uma relação hétero a pessoa se autodenomina hétero, se está em uma relação com o mesmo gênero se denomina gay”, diz a secretária da ABGLT.
Entretanto, independentemente da relação que vive no momento, o bissexual mantém seu interesse pelos dois sexos. Isso acontece tanto com Juliana, que também é bissexual e atualmente vive com uma mulher, quanto com Rodrigo Salgado, noivo de outro homem. “Isso não muda o fato de eu sentir atração por ambos os sexos”, diz ele, que já namorou mulheres.
População bissexual
Não existem dados precisos sobre a quantidade de bissexuais entre a população brasileira. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) ainda não incluiu a pergunta sobre orientação sexual nos censos regulares. Em 2009, um levantamento do Datafolha apontou a prevalência de 3% de bissexuais.
Como o preconceito contra as mulheres costuma ser menor, existe a impressão de que a bissexualidade é mais comum na população feminina. Segundo o secretário geral da Sbrash, de fato observa-se uma maior quantidade de mulheres afirmando-se bissexuais em comparação com os homens. “Mas isso não significa tendência ou maior predisposição das mulheres a serem bissexuais”, esclarece.
Entre os homens, não são raros aqueles que escondem a verdadeira orientação sexual, passando-se por heterossexuais ou até homossexuais para escapar da discriminação. Para Rodrigo Salgado, enquanto as pessoas não criarem coragem para se expor, a falsa imagem de que os “bi” não existem irá se perpetuar, mesmo com as descobertas científicas a respeito da bissexualidade. “Os bissexuais precisam fazer uma segunda saída do armário”, afirma.
Conferência da ONU pede aos homens que defendam os direitos das mulheres
Terra
Uma conferência sobre igualdade de gênero começou nesta quarta-feira na ONU com o objetivo de conseguir que os homens se comprometam na promoção dos direitos das mulheres.
O encontro, organizado pela Islândia, leva embaixadores e autoridades das Nações Unidasa conversar sobre o que poderiam fazer os homens para deter a violência contra as mulheres e avançar na igualdade de gênero.
A Islândia, o primeiro país europeu que teve uma mulher presidente, pensou inicialmente em convidar exclusivamente homens para a conferência, mas por conta de críticas resolveu abrir algumas a agenda para mulheres também.
"É necessário envolver mais os homens", disse à AFP a embaixadora da Islândia na ONU Greta Gunnarsdottir. "Se você observa os encontros sobre a igualdade de gênero, onde quer que seja, a maioria é de mulheres no público".
"O objetivo não é excluir as mulheres, mas incluir os homens", completou.
O encontro foi batizado de "Conferência da Barbearia", uma temática escolhida para criar um espaço em que os homens possam se expressar confortavelmente, inclusive na ONU, onde mais de 160 países dos 193 membros são representados por homens.
A conferência espera fortalecer a campanha HeForShe (Ele por ela), lançada no ano passado pela atriz britânica Emma Watson, que assinalou que os homens também se viam afetados por estereótipos de gênero e necessitam se expressar.
Na sessão de quinta-feira, espera-se que os embaixadores anunciem os compromissos de seus governos para incentivar a participação dos homens nos debates sobre gênero.
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A conferência acontece no momento em que a ONU comemora os 20 anos da Conferência de Pequim sobre Mulheres e estabeleceu como nova meta acabar com a desigualdade de gênero até 2030.
"Quando falamos em envolver os homens nisto, é preciso entender que, se falamos de igualdade de gênero, necessitamos escutar e aprender com as mulheres", disse Todd Minerson, diretor da campanha White Ribbon, um movimento mundial para acabar com a violência de "meninos e homens contra as mulheres".
A Islândia, que encabeça a lista de países em igualdade de gênero diante da antes da Finlândia, Noruega, Suécia e Dinamarca, organiza a conferência junto ao Suriname, que está no 109° lugar da lista.
Os organizadores desconhecem quantos países estarão representados na conferência.
Começou o retrocesso no direito social
Direto da Redação
*Guilherme Costa Delgado
Ainda no dia 30 de dezembro de 2014 a Medida Provisória 664/2014 introduziu restrições fortes para alguns benefícios da política social, justificados pelo ministro – chefe da Casa Civil – Aloísio Mercadante, repetidos no discurso de posse da presidenta Dilma, sob o argumento da ‘correção de distorções’. Mas ninguém explicou que distorções eram estas, nem se lhes foi questionado a fazê-lo, não obstante implicação muito sensível à vida dos trabalhadores em situação de risco previdenciário. Opera-se aqui subliminarmente, com o imaginário coletivo sobrecarregado com desvio de dinheiro público, para sugerir, sem dizer, que algo parecido estaria aqui ocorrendo.
A anuência, quando não apoio ostensivo aos mencionados cortes, de parte da grande imprensa, seja em nome da austeridade ficas, seja em nome da ética social, pressupostos aparentes da mencionada correção de distorções, merece um mínimo de esclarecimento à opinião pública. Vou me dar ao trabalho de dissecar dois dos temas principais, objeto dos cortes –as pensões e o seguro desemprego, para discernir sobre as significações reais dessa guinada da política social. Deixo de tratar aqui do auxílio-doença por falta espaço.
Sobre as pensões
As pensões por morte do segurado da Previdência Social, exclusivamente dos vinculados ao INSS, foram cortadas pela metade às situações que vierem a ocorrer depois da Medida Provisória (MP) aprovada e ademais se impôs a precedência de dois anos de casamento ou união estável, a contar da data do óbito. Vejamos pelo lado fiscal e pelo lado moral as implicações da
MP 664.
Nos últimos três anos, segundo o Anuário Estatístico da Previdência Social (consultável por internet) situa-se no limite de 170 mil novas pensões, o volume anual líquido de acréscimo desse benefício às despesas da Previdência Social. Destas, 70% (da quantidade de pensões) estão no nível do salário mínimo, protegidas pelo Art. 201 da Constituição Federal, que impede corte de benefício igual ao salário mínimo. Portanto a MP 664, se aprovada, incidiria sobre 50 mil novas pensões anuais. Mas essas pensões estão fortemente concentradas entre mais de um até quatro salários mínimos (cerca de 45 mil pensões) e as demais até o teto de benefício do INSS, que é de pouco mais de 4 mil reais.
Do ponto de vista fiscal a economia produzida por esta MP é irrisória. Mas a perda de rendimento para sustentar órfãos e viúvas, residentes em espaços urbanos, que abruptamente tiveram seus rendimentos na faixa de dois a quatro salários mínimos reduzidos pela metade, isto não é irrisório.
A outra restrição da MP – precedência de dois anos do casamento à morte do segurado – é um critério que atende a reclamos do moralismo mais vulgar possível. A tese circulante em determinados círculos ultra conservadores é de que há viúvas jovens e pobres que se aproveitariam para se casar com velhinhos do INSS, para receber uma pensão depois da morte deste. A MP aqui teria objetivo ‘moral’ e não fical, se assim se interpretar o argumento da ‘correção de distorções’ do ministro Mercadante. Mais uma vez presta-se um desserviço ao país com esse tipo de concessão aos preconceitos sociais contra os pobres e no caso as mulheres jovens. Nenhum fundamento estatístico corrobora essa tese esdrúxula, utilizando-se os dados da estrutura etária dos pensionistas da própria Previdência Social.
Seguro desemprego
A principal medida restritiva neste campo é a imposição de tempo mínimo de dezoito meses precedentes de emprego formal (com carteira assinada), como condição à aquisição do direito ao seguro desemprego, sendo que a regra vigente até a entrada em vigor da MP é de seis meses. Observe-se que essa regra dos seis meses atende o mundo do trabalho real brasileiro cujo ciclo de rotatividade da mão de obra empregada afeta cerca de um quarto da população ocupada assalariada, vinculada ao INSS. Isto se repete todos os anos e não é fruto de preferência do trabalhador, mas característica estrutural do mercado de trabalho. O INSS registra, sob a forma de número de contribuições recebidas do trabalhador (de um até seis contribuições), afetando continuamente cerca um quarto dos seus segurados.
A nova regra corta abruptamente o acesso ao seguro desemprego dos desempregados sazonais, onerando-os a resolver individualmente uma distorção, esta sim – a alta rotatividade – que é do sistema e não do indivíduo. E diferentemente do corte “Pensões por Morte”, cujo impacto fiscal é muito pequeno, no caso do seguro desemprego há elevado impacto fiscal pela recusa de milhões de trabalhadores de recorrerem ao sistema.
Em síntese, podemos concluir que começou com retrocesso no direito social o ajuste fiscal do ministro Levy no campo específico da proteção ao trabalho, sob condições de risco. Que a grande mídia silencie ou até aplauda, podemos compreender em razão dos notórios compromissos ideológicos desta com o pensamento conservador, mas aqueles que tem realmente compromisso com o mundo do trabalho – especialmente dos mais pobres – não podem ignorar o fato político, nem tampouco engrossar o coro moralista de uma ‘retórica da intransigência’ contra os direitos sociais. (Publicado originalmente no site do jornal Brasil de Fato)
*Guilherme Costa Delgado é doutor em Economia pela Unicamp e consultor da Comissão Brasileira de Justiça e Paz.
Opinião: Por que os pobres incomodam tanto?
Portal Forum
Na semana em que duas jornalistas publicam textos de ojeriza aos mais pobres, fica a reflexão: o que incomoda a elite não é a perda de direitos, mas de privilégios. Em um mundo onde ser ‘VIP’ e obter exclusividades são o ápice do prazer aristocrático, a popularização do acesso a educação, saúde, viagens e bens de consumo deve ser mesmo um horror
Nessa semana, dois textos de colaboradoras do jornal carioca O Globo chamaram bastante a atenção dos leitores, não exatamente pela qualidade do conteúdo em si, mas pelo grau de preconceito destilado em suas palavras.
Em um deles, a colunista Hildegard Angel defendeu a segregação como medida para conter os arrastões em praias do Rio de Janeiro. Entre as sugestões destinadas ao governo, surgiram ideias brilhantes como “diminuir drasticamente a circulação das linhas de ônibus e de metrô no fluxo Zona Norte-Zona Sul” e até mesmo “cobrar entrada nas praias de Leme, Copacabana, Ipanema, Leblon”.
É isso mesmo. Para a colunista, impedir o acesso da população pobre às áreas mais prestigiadas da cidade é uma maneira eficiente de “reprimir as hordas e hordas de jovens assaltantes e arruaceiros”. “As medidas são antipáticas e discriminatórias, concordo. Mas ou é isso ou será o caos”, finalizou. Aparentemente arrependida de suas declarações, Hildegard retirou o texto do ar após uma saraivada de críticas.
Seguindo a mesma linha, os leitores d’O Globo foram brindados com uma publicação pretensamente irreverente, mas nem por isso menos cruel. Em seu blog, Zona de Desconforto, a jornalista Silvia Pilz descreve o comportamento dos mais pobres em consultórios médicos.
Em tom de deboche, ela afirma que essas pessoas costumam inventar doenças e fazem drama para faltar ao trabalho. “Acho que não conheço nenhuma empregada doméstica que esteja sempre com atacada da ciática [leia-se nervo ciático inflamado]. Ah! Eles também têm colesterol [leia-se colesterol alto] e alegam ‘estar com o sistema nervoso’ quando o médico se atreve a dizer que o problema pode ser emocional”, escreveu.
Silvia ridiculariza ainda a procura por mais informações na área da saúde, dizendo que, ao assistir a um programa da Rede Globo sobre o assunto, “o caso normalmente é a dúvida de algum pobre”. “Coisas do tipo ‘tenho cisto no ovário e quero saber se posso engravidar’. Porque a grande preocupação do pobre é procriar”, complementa.
A jornalista enfatiza que, com a democratização dos planos de saúde, fazer exames se tornou um programa divertido para os pobres, que se arrumam especialmente para a ocasião, chegam cedo e, admirados com o ar-condicionado e o piso de porcelanato dos laboratórios, aguardam ansiosamente pelo lanche oferecido após os exames.
Não sabemos exatamente em que país vive a blogueira em questão, mas, no Brasil, a relação entre os pobres e o acesso à saúde está longe de ser engraçada. Embora algumas conquistas sejam evidentes, os planos particulares não funcionam às mil maravilhas e ainda são, sim, um privilégio de poucos. A realidade da população de baixa renda ainda é, em boa parte, a fila do hospital público, a superlotação, a falta de médicos e a dificuldade na marcação de consultas.
O país, de fato, está mudando. Mas o que parece não mudar nunca é a ideia de um ‘apartheid’ social que enche os olhos da classe média alta brasileira, incomodada em dividir o mesmo ar que segmentos antes marginalizados. Impossível não lembrar da afirmação de outra polêmica colunista, a socialite Danuza Leão, que há alguns anos escreveu na Folha de S. Paulo que ir à Nova Iorque não tinha mais graça, já que eram grandes as chances de encontrar o seu porteiro por lá.
Esses são exemplos clássicos de que o que incomoda a elite não é a perda de direitos, mas de privilégios. Em um mundo onde ser ‘VIP’ e obter exclusividades são o ápice do prazer aristocrático, a popularização do acesso a educação, saúde, viagens e bens de consumo deve ser mesmo um horror.
Imagine que absurdo o filho do motorista estudar na mesma faculdade que o seu, ou encontrar a manicure fazendo compras naquela que era a sua loja preferida. Ainda mais ultrajante deve ser ver a empregada jantando filé mignon e dizendo a você que, de uma vez por todas, a escravidão acabou. Haja Lexotan para acalmar os ânimos dessa gente, tão afeita a mandar e desmandar sozinha em seus feudos imaginários. Quanto a isso, só resta uma coisa a ser dita: acostumem-se… A tendência é piorar.
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