Notícias e comentários sobre combate,HIV AIDS TB. Novidades sobre temas referentes ao ativismo social e político, política, políticas públicas e ações de prevenção.Incrementando o Ativismo,e despertando solidariedade. Minha intenção é promover o debate em torno da prevenção.
Criando formas de combate e troca de experiências entre familiares e pessoas vivendo ou convivendo com este tema.
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quarta-feira, 9 de abril de 2014
CLIPPING Saúde, Sexualidade & Afins 08/Abr./2014
CLIPPING
Saúde, Sexualidade
& Afins
08/Abr./2014
Eu já conversei
com meu filho hoje, e você? (Michelle Terra)
RBA
Pesquisa aponta que 70% dos estupros relatados em
2011 vitimaram crianças e adolescentes no Brasil
Nos últimos dias não ouvi falar de outro assunto.
A campanha EU NÃO MEREÇO SER ESTUPRADA esteve presente em todas as
redes sociais, jornais e contou, inclusive, com o apoio da presidente
Dilma.
Eu já estava refletindo sobre esse tema desde que
ouvi o deputado estadual Rafael Picciani, o Dr. Nelio Andrade e o radialista
Francisco Barbosa debatê-lo em um programa da rádio Tupi, há cerca
de um mês. Mas o debate era outro, e eu, por ser mãe, não consegui
parar de pensar naquilo. O debate discorria sobre o número de casos
de estupros de crianças e adolescentes, que aumentava vertiginosamente.
E percebam, o assunto não estava baseado em dados, mas sim em números
de casos reportados à rádio. Diante de todo o alvoroço causado pelos
dados divulgados pelo IPEA, resolvi ler a pesquisa para tentar entender
o contexto, até porque, toda vez que as feministas levantam uma bandeira,
minhas intuições me pedem que eu estude os fatos antes de me posicionar.
Assim que iniciei minha busca pela pesquisa, obtive
dois resultados: a própria pesquisa que tem o título "Tolerância
social à violência contra as mulheres" e uma nota técnica intitulada
"Estupro no Brasil: uma radiografia segundo os dados da saúde".
Ambas foram publicadas em março de 2014, mas apenas uma ganhou notoriedade
nacional. Embora o instituto tenha causado ainda mais polêmica ao publicar
uma errata sobre os dados da pesquisa, a meu ver, isso só demonstra
sua seriedade e comprometimento com a verdade. Sua validade não deve
ser questionada. Apesar de eu ter minhas ressalvas sobre as intenções
do alarde causado em torno do assunto "a roupa que eu uso",
quero deixar claro que sou a favor da campanha, que concordo totalmente
que nenhuma mulher merece ser estuprada, sob nenhuma circunstância!
Não vou discutir aqui a importância desses 26%
ou dos antigos 65% dos entrevistados que causaram tanta indignação
ao concordarem que mulheres com roupa curta merecem ser atacadas, até
porque atacadas e estupradas são palavras diferentes com significados
mais diferentes ainda, mas pretendo sim me indignar com o que me causou
verdadeiro espanto: mais da metade dos casos de vítimas de estupro
tinha idade inferior a 13 anos de idade, desta forma, 70% dos estupros
relatados na pesquisa vitimaram crianças e adolescentes no Brasil,
em 2011.
Os dados apontam algo ainda mais alarmante: mais
de 70% dos agressores no caso de estupros de crianças são pessoas
conhecidas, ou seja: pais, mães, tios, irmãos, vizinhos, padrastos,
amigos... E que 79% das agressões ocorrem dentro de suas casas.
Em sua conclusão, os pesquisadores alertam: "Em
50% dos incidentes totais envolvendo menores, há um histórico de estupros
anteriores".
Em uma entrevista ao programa No Safe Place, o psicólogo
supervisor do presídio americano de Utah, Ron Sanchez, que trabalha
apenas com estupradores condenados, afirma categoricamente que não
há nenhum padrão feminino comum que os estupradores procurem. A variedade
de suas escolhas não está relacionada necessariamente à roupa que
as mulheres usam ou coisas do tipo. O que o psicólogo afirma reflete
uma linha de pensamento que não está isolada, como afirma o coordenador
do Serviço de Violência Sexual do Hospital Pérola Byington, Jéferson
Drezett, que em uma entrevista afirmou que há 20 anos não vê mulheres
vestidas de maneira provocante, com roupas curtíssimas, aparecerem
como vítimas de estupro. Ele ainda complementa que 70% dos casos que
teve ciência ocorreram quando estas mulheres faziam atividades absolutamente
corriqueiras, como ir e voltar da escola ou do trabalho, o que nos leva
minimamente a analisar os números e sua causalidade com um maior cuidado.
Como pedagoga, me perturba a lembrança dos casos
que tive conhecimento no exercício de minha profissão, enquanto trabalhei
com menores infratores viciados em crack. E eu sei muito bem o quão
destruidor é o estupro na vida de uma criança. As consequências disso
podem ser: estresse pós-traumático, transtornos de comportamento,
depressão, fobias, abuso de drogas ilícitas, tentativas de suicídio
e gravidez. A própria pesquisa afirma que os dados são absolutamente
alarmantes, uma vez que as consequências psicológicas são devastadoras.
O que mais me instigou sobre essa questão foi por que deram mais atenção
ao acessório de uma pesquisa enquanto o ponto central da outra não
ganhou o devido destaque?
Acredito que o mais importante é o papel dos pais
na observação e orientação de seus filhos. Eles devem, principalmente,
estar atentos às mudanças de comportamento e humor. É possível orientá-los
para a prevenção! Esteja sempre atento ao óbvio, por exemplo, se
ele apresenta infecções e dores na região genital e abdominal. Observe
se ele demonstra um comportamento sexual explícito ou um conhecimento
sexual que não condiz com sua faixa etária de desenvolvimento. Observe
a forma como ele brinca, alguns abusos podem ser demonstrados através
de desenhos, onde a criança ilustra genitálias (geralmente a do agressor).
As crianças que sofrem algum tipo de abuso tendem a se isolar e podem
demonstrar medo de adultos de um sexo específico, se mostrar agitada
ou perturbada na presença de certa pessoa, também podem apresentar
preocupação exagerada com a limpeza corporal. Em casos extremos, apresentam
comportamento suicida e automutilação.
É assustador saber que pessoas próximas possam
ser os algozes de nossos filhos. Mais assustador ainda é saber que
apenas 10% dos casos aparecem nas estatísticas, pois em geral, além
do abuso, as crianças são coagidas e ameaçadas a não contarem nada
a ninguém. Esse é um assunto delicado, difícil de abordar, mas conversem
com seus filhos, os ensinem a cuidar do próprio corpo e expliquem que
devem desconfiar se alguém tentar tocá-lo, inclusive nas partes íntimas,
e que se neguem se pedirem para tocarem no próprio corpo ou no de outra
pessoa. Oriente-os a gritar ou correr caso sintam-se ameaçados. Olhem,
vigiem, denunciem. Isso precisa parar agora!
Esse sim é um tema que inspira
a urgência de uma campanha nacional: EU JÁ CONVERSEI COM MEU FILHO
HOJE, E VOCÊ?
Então está tudo
bem no país do ‘estupra mas não mata’?
Correio do Brasil
Antonio Lassance - é cientista político e pesquisador
do IPEA
O IPEA errou. Errou, assumiu o erro e pediu desculpas,
esclarecendo:
“Vimos a público pedir desculpas e corrigir dois
erros nos resultados de nossa pesquisa ‘Tolerância social à violência
contra as mulheres’, divulgada em 27 de março. O erro relevante
foi causado pela troca dos gráficos relativos aos percentuais das respostas
às frases ‘Mulher que é agredida e continua com o parceiro gosta
de apanhar’ e ‘Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem
ser atacadas’”.
Resumindo, os dados de uma pergunta eram, na verdade,
referentes a uma outra questão.
O Instituto comete erros. Não é o único. O IBGE,
o Banco Central, o INEP e todos os outros órgãos responsáveis por
divulgar dados, todos, sem exceção, vez por outra são obrigados a
publicar erratas em suas publicações, retificando ou o número em
si, ou títulos de tabelas, ou outros tipos de informação.
Embora o erro faça parte do trabalho de qualquer
pesquisador, e rotinas de validação existam para diminuir sua ocorrência,
o fato é que a cobrança da sociedade sobre um erro é bem vinda e
deve ser enfrentada com humildade.
Para começar, é preciso reconhecer que o
erro do IPEA foi maior por conta da repercussão nacional e até internacional
que o dado incorreto alcançou.
Isso caiu como uma bomba sobre a cabeça dos jovens
pesquisadores responsáveis pelo estudo, que são pessoas sérias. Sempre
mereceram e vão continuar merecendo o respeito pelo trabalho que realizam
há muitos anos na instituição.
O erro do IPEA está corrigido. Mas e o erro de quem,
desavisadamente, acha que, desfeita a troca dos números, agora está
tudo bem? Não, senhoras e senhores, não está tudo bem.
Se está tudo bem, por que será que o número de
estupros no país está crescendo e já superou o de assassinatos, conforme
informação do mais recente Anuário Brasileiro de Segurança Pública?
Está tudo bem, então, no país do “estupra, mas
não mata”? Será? Mesmo com mais de 50 mil mulheres estupradas em
2012, número mais de 18% superior ao de número 2011, agora podemos
ficar tranquilos?
Detalhe: o número absurdo de estupros não considera
os casos em que as vítimas deixam de relatar o ocorrido – por vergonha,
por medo da reação da família, por receio de que alguém ache que
elas não souberam “se comportar”.
O dado de estupros em 2013 vem aí. Quem fará a
piada? Quem vai curtir com isso?
Desde que a Lei Maria da Penha entrou em vigor, em
2006, o número de agressões contra mulheres, relatadas ao serviço
“Ligue 180”, cresceu 600%.
A cada hora, duas mulheres, vítimas de abuso, dão
entrada em unidades do Sistema Único de Saúde. Alguém ainda acha
pouco?
Está tudo bem no país que concorda que, “em briga
de marido e mulher, ninguém mete a colher”? Há quem diga: “Ora,
bolas! Isso é só um dito popular, como outro qualquer”. Sim, um
dito popular como “serviço de branco”. Só um dito popular?
Está tudo bem no país que acha que a mulher que
é agredida e continua com o parceiro é porque gosta de apanhar?
O IPEA errou, mas quem comemora o erro está redondamente
enganado.
Cúmplices da
violência (Miriam Goldenberg)
Folha de SP
As mulheres são acusadas de serem responsáveis
pela violência física, psicológica e simbólica que sofrem
É impossível não comentar a celeuma provocada
pela pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
O instituto afirmou, entre outros resultados, que
87,8% dos pesquisados concordam (total ou parcialmente) que "toda
mulher sonha em se casar"; que "os homens devem ser a cabeça
do lar" (63,8%); que "uma mulher só se sente realizada quando
tem filhos" (59,5%); que "se as mulheres soubessem como se
comportar, haveria menos estupros" (58,5%); que "tem mulher
que é para casar, tem mulher que é para cama" (54,9%) e que "a
mulher casada deve satisfazer o marido na cama, mesmo quando não tem
vontade" (27,2%).
As mulheres foram a maioria dos 3.810 pesquisados
(66,5% da amostra). O mais chocante foi constatar que grande parte das
pesquisadas concordava com frases estereotipadas, preconceituosas e
violentas contra as mulheres.
Apesar das críticas à amostra, à metodologia e
à forma como as perguntas foram feitas --e do fato de o Ipea ter errado
e afirmado que 65,1% dos pesquisados concordam que "mulheres que
usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas" (e não 26%,
como corrigiu posteriormente)--, o acalorado debate foi importante para
refletir sobre a cultura da violência existente no Brasil.
Tomara que os graves problemas da pesquisa não enfraqueçam
a necessária discussão sobre a violência contra a mulher brasileira.
A realidade cotidiana de inúmeras brasileiras pode
ser ainda mais preconceituosa, cruel e violenta do que aquela que foi
mostrada pela pesquisa do Ipea.
É inegável que muitas mulheres ainda aceitam que
um homem (ou outra mulher) controle seu corpo, comportamento, sexualidade
e roupa. Aquelas que não se comportam ou não se vestem "adequadamente"
são estigmatizadas socialmente, apesar de ninguém saber qual é o
tamanho "adequado" da saia, do decote ou do biquíni que uma
mulher brasileira deve usar para ser respeitada.
Elas são frequentemente acusadas de serem responsáveis
pela violência física, psicológica e simbólica que sofrem.
Será que, após tantas polêmicas, as mulheres que
endossam essas ideias preconceituosas perceberam que estão reproduzindo
posturas de submissão feminina e sendo cúmplices da violência que
elas também sofrem?
MIRIAN GOLDENBERG é antropóloga,
professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autora de "A
bela velhice" (Ed. Record)
“O Brasil está
às vésperas de uma epidemia de câncer”
BBC Brasil
No Dia Mundial de Luta Contra
o Câncer, celebrado nesta terça (8), a afirmação do oncologista
Carlos Barrios é menos para causar pânico – se é que isso é possível
– e mais para fazer com que o País responda a um questionamento crucial
para o enfrentamento da doença. “A pergunta é: ‘quanto vale a
vida com câncer no Brasil’?”, questiona o médico, que é membro
do Grupo Brasileiro de Estudos do Câncer de Mama.
Em dez anos, o câncer será a primeira causa de
morte no Brasil, consequência da detecção tardia da doença, da demora
para início do tratamento e da falta de acesso à medicação avançada
57 mil mulheres devem ser diagnosticadas com câncer
de mama no Brasil em 2014
O Relatório Mundial do Câncer 2014, divulgado pela
Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que o número de novos
casos pule de 14 milhões em 2012 para 22 milhões em 2030. Mais de
70% das mortes pela doença acontecem em países em desenvolvimento,
onde a detecção tardia, a demora em iniciar o tratamento e a falta
de acesso a medicamentos de última geração explicam boa parte dos
óbitos. No Brasil, em dez anos o câncer será a primeira causa de
morte – hoje é a segunda, responsável por 15,6% dos óbitos, atrás
das doenças cardiovasculares, como infarto e hipertensão.
Se o crescimento da incidência é um fato, o problema
é a falta de estrutura para enfrentar essa epidemia, pondera Barrios.
“O câncer é uma doença que pode ser curada, pode ser controlada.
Nos países desenvolvidos, apesar do aumento da incidência, a morte
tem caído. Aqui, crescem as duas coisas”.
Especialista: O maior desafio é tratarmos é tratarmos
os cânceres comuns
Um exemplo típico é o câncer de mama. No Brasil,
no ano 2000, a doença matava nove a cada cem mil mulheres. Em 2011,
o número subiu para mais 11,9. Um movimento na contramão do mundo
desenvolvido, em que a chance de cura para esse tipo de tumor chega
a 90%. Por aqui, o porcentual é de cerca de 50%.
“O câncer daqui não é pior do que o de lá.
A diferença é de que lá há diagnóstico precoce e acesso rápido
a atendimento, o que não acontece por aqui”, afirma Maira Caleffi,
mastologista e presidente da Femama, Federação Brasileira de Instituições
Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama
Quanto vale uma vida?
No Brasil, explica Maira, apesar de desde o ano passado
a lei prever que o atendimento a pacientes com câncer deve ser iniciado
em até 60 dias após o diagnóstico, o prazo não é cumprido no Sistema
Único de Saúde (SUS), que atende a cerca de 75% da população. “No
SUS, demoram 180 dias entre a detecção e o início do tratamento do
câncer de mama. Imagina o que esses seis meses significam na diminuição
da chance de cura.”
Isso sem contar o acesso limitado e atrasado às
opções de tratamento, explica Barrios. Em pacientes com câncer de
mama com metástase – que tem menor incidência, mas é muito mais
agressivo -, há uma medicação específica, a Trastuzumabe, que é
curativa. “O potencial remédio foi descoberto em 2005, mas a droga
só ficou disponível no SUS em 2012. Nesse período de tempo, entre
5 a 6 mil mulheres morreram por falta de acesso a esse medicamento”,
diz o médico.
Nesse período, Barrios afirma, os convênios foram
obrigados pelo próprio governo a oferecer o tratamento com a droga,
que é cara, mas as pacientes da saúde pública se mantiveram à margem.
“É uma discrepância absurda. O médico deve prover prescrições
diferenciadas frente a um mesmo diagnóstico para uma paciente do SUS
e para uma de saúde suplementar, uma vez que o SUS não fornece o medicamento
necessário?”
Sem garantia, resta à mulher procurar a Justiça,
como fez Rita de Cássia, de Porto Alegre. Ela descobriu o câncer em
2012, quando tinha 39 anos. Fez a cirurgia de retirada de mama, quimioterapia
e radioterapia. No ano passado, foi necessário substituir uma medicação
por outra que seria a única eficaz para o seu caso, mas que não fazia
parte da lista de medicamentos fornecidos pelo SUS. “Precisei acionar
a Justiça, comprovar com muitos laudos e justificativas de que era
a única medicação e de que eu não poderia arcar com o custo. Foi
muito desgastante porque o procurador achava que era muito caro e eu
morreria de qualquer forma.”
Decidir ou não investir no tratamento de Rita e
de outras milhares de mulheres em sua situação, afirma o oncologista
Carlos Barrios, depende de incluir todas as partes envolvidas no processo
- administração pública, sociedade civil, sociedades médicas e indústria
farmacêutica - para responder a um único dilema ético: "Quanto
vale uma vida? Quanto estamos dispostos a investir para manter viva
uma pessoa com câncer?"
O crack e a aids
Jornal do Commercio-PE
Já se disse, com alguma propriedade, que o crack
é o mal do século , não só pela sua ação devastadora sobre o organismo,
mas ainda pelos danos colaterais que ocasiona. Uma mostra desse cenário
é a pesquisa nacional realizada pela Fundação Oswaldo Cruz, (Fiocruz)
constatando que as mulheres usuárias de crack correm risco maior de
contrair aids do que as não usuárias. A pesquisa é contundente: quase
todas as usuárias de crack são portadoras de tuberculose e doenças
sexualmente transmissíveis.
Eis aí uma questão catastrófica de saúde pública,
para a qual ainda não foram definidas ações emergenciais e de médio
e longo prazos com a visibilidade que o problema exige. A pesquisa não
é apenas um estudo que pode ser expresso em gráfico, ou retrato de
uma época, ela lança mais luzes sobre um tsunami social a caminho
e desde já revela um quadro de degradação com futuro certo e sabido,
em que todos viciados e sociedade em geral são vítimas.
O que agrava ainda mais o que foi posto pela Fiocruz
é a evidência de que o vício do crack é um mal superior às epidemias
de febre amarela e varíola que foram enfrentadas e vencidas pelo patrono
da Fundação, há exatamente um século. Como se sabe, Oswaldo Cruz
utilizou duas táticas bem sucedidas: mobilizou batalhões de mata-mosquitos
para erradicar os focos de insetos e convenceu o governo a decretar
a vacinação obrigatória. Significa dizer: os vetores foram identificados,
combatidos, e ficaram, para as gerações subsequentes, as fórmulas,
as recomendações e os meios necessários para controlar epidemias.
Diante do crack, que batalhões estão sendo mobilizados, que vacina
está sendo aplicada?
Não se pode dizer que os poderes públicos estão
de braços cruzados diante desse mal do século , mas é possível levantar
dúvidas sobre a dimensão e a celeridade das táticas para impedir
o tsunami que se forma. O tamanho das ações não tem a visibilidade
que tem o núcleo do problema, o crescimento do vício, sua expansão
nos grandes centros, a transformação de terrenos baldios e ruas em
focos de zumbis, brasileiros e brasileiras de todas as idades que estão
excluídos da cidadania, de todos os direitos e todos os deveres sociais.
Mutatis mutandis, mudando-se o que tem que ser mudado,
para um enfrentamento severo do mal deste século não seria exagero
clamar-se por outro Oswaldo Cruz, com medidas tão rigorosas quanto
as que ele adotou para vencer as moléstias do começo do século passado.
Pois se assim não se fizer, se o problema não for encarado com rapidez
e profundidade, detalhes de um grande painel mórbido como esses que
a Fiocruz revelou podem se transformar em muito pouco tempo em um mal
maior, para o qual os governos terão que tirar dinheiro de outras ações
como mais escolas, geração de trabalho, melhoria da qualidade de vida
de todos, em todas as áreas para conter essa doença social, fazendo
muito mais difícil o processo de erradicação do mal.
O sofrimento dos
bebês (Ruth Guinsburg)
Folha de SP
RUTH GUINSBURG, 55, é professora
titular de pediatria neonatal da Escola Paulista de Medicina da Universidade
Federal de São Paulo e coordenadora do Programa de Reanimação Neonatal
da Sociedade Brasileira de Pediatria
Se há diálogo e os subsídios médicos são explicados
para a gestante, facilitando a tomada conjunta de decisão, o desfecho
pode ser menos traumático
O Brasil perde por dia cinco bebês saudáveis, sem
malformações, por asfixia ou problemas relacionados ao parto. Entre
2005 e 2010, o país registrou 24.210 óbitos neonatais de bebês potencialmente
viáveis, ou seja, que não eram nem muito prematuros nem muito pequenos.
Com assistência pré-natal, cuidado adequado durante
o parto e presença de pediatra capacitado para atender o bebê logo
após o nascimento, grande parte dessas crianças teria sobrevivido.
Não há relação direta entre essas mortes e o tipo de parto ao qual
a gestante foi submetida --vaginal ou cesárea. Mas há indicações
objetivas para cada caso.
A gestante forçada a fazer uma cesárea no Rio Grande
do Sul há uma semana oferecia riscos absolutamente não desprezíveis
a seu filho e a ela mesma, caso desse à luz por parto vaginal. Bons
obstetras tentam parto vaginal depois de uma cesárea. Mas depois de
duas, essa alternativa é quase sempre desconsiderada. Era o caso daquela
gestante. O risco de rotura uterina era real. O seu filho estava saindo
da fase de termo (42 semanas), e bebês pós-maduros têm maiores chances
de asfixia.
A médica que acionou o Ministério Público para
garantir que a mãe fosse submetida a uma cesárea considerou que tinha
o dever ético de salvar duas vidas. Ela agiu do modo que entendeu ser
menos lesivo à mulher e à criança, embora essa não fosse a opinião
da mulher, e a criança não tivesse autonomia para decidir.
Em muitos casos similares, parece haver um muro entre
a família e a equipe médica. O diálogo é precário, e a decisão
acaba não sendo embasada nas condições precisas do parto. Se os riscos
são suficientemente esclarecidos, se há diálogo e os subsídios médicos
são explicados para a gestante, sua família e rede de apoio, facilitando
a tomada conjunta de decisão, o desfecho pode ser menos conflituoso.
A OMS (Organização Mundial de Saúde) estima que,
para cuidar da saúde materna, o país precisa ter pelo menos 15% de
cesarianas. Os países que registram índices inferiores a este têm
mortes maternas evitáveis. É o que acontece em regiões africanas
e no sudeste asiático, onde o procedimento é praticamente indisponível
em condições adequadas.
A OMS avalia que, do total de partos realizados num
país, 15% a 30% devem ser cesarianas. No Brasil, o procedimento é
adotado em 55% dos casos no sistema público e em 80%, no privado.
É verdade que é preciso diminuir esses índices
absurdos, mas o raciocínio não pode ser radical. O argumento de que
cesarianas favorecem planos de saúde não é tão consistente quanto
uma abordagem cultural. Um bebê cujo parto foi problemático pode ter
de ficar ao menos sete dias na UTI, implicando custos mais elevados
do que aquele recém-nascido que em dois dias pode ir para casa com
a mãe.
No entanto, difundiu-se no país o hábito exagerado
da cesárea eletiva, na qual os pais marcam a data de nascimento de
seus filhos arbitrariamente. A mulher brasileira em idade fértil acredita
que pode escolher como se dará o parto, quando na verdade são suas
condições biológicas que deveriam determinar o procedimento. A princípio,
todo parto deve ser vaginal, mas com a gestação vai se vendo riscos
e benefícios.
Além da imprecisão para se calcular a idade de
gestação--o que implica um risco de prematuridade evitável--, a entrada
em trabalho de parto libera sinais fisiológicos que desencadeiam a
maturidade de vários órgãos e sistemas do bebê, em especial do sistema
respiratório.
Existem métodos para identificar se há sofrimento
do bebê e se há necessidade de se realizar uma cesárea. Em casos
como o do Rio Grande do Sul, o diálogo mais efetivo entre a equipe
médica, a gestante, a família e sua rede de apoio permitiria um desfecho
que, embora pudesse ser o mesmo em termos de via de parto, fosse menos
traumático a todos os envolvidos.
Evidências científicas
e direitos das mulheres (Simone G. Diniz e Priscila Cavalcanti)
Folha de SP
O caso evidencia violações do código de ética
médica como a falta de consentimento da gestante sem que houvesse iminente
risco de morte
Adelir, 29 anos, queria muito um parto vaginal, o
que não foi possível com seus dois primeiros filhos. Desta vez, teve
o apoio de uma doula, do marido e dos movimentos sociais que democratizam
a informação baseada em evidências científicas e em direitos das
gestantes.
Descobriu que, em outros países, uma mulher com
uma ou mais cesáreas pode ter um parto vaginal, assim como as que têm
um bebê sentado, como o seu, e que existem protocolos para esses casos.
Descobriu que, no Brasil, a maioria dos profissionais desconhece tais
protocolos e acredita que essas são indicações absolutas de cesárea.
No dia 31 de março, ela procurou o hospital, onde
confirmou que o bebê estava bem, assinou um termo de responsabilidade
e preferiu ter o trabalho de parto em casa. Sabia que se chegasse ao
hospital antes de o parto estar avançado, seria forçada a uma cesárea.
A médica que a atendeu, inconformada, argumentando com a "defesa
da vida do nascituro", procurou o Ministério Público, que acionou
a Justiça. Determinou-se que policiais armados buscassem Adelir em
sua casa de madrugada e a conduzissem à força ao hospital para ser
submetida à cesariana.
Por que o desejo de ter um parto vaginal provoca
tanto horror nos profissionais de saúde e por que a enorme maioria
deles adere ao modelo da cesárea de rotina? Na formação dos profissionais,
assim como na cultura sexual-reprodutiva brasileira, com forte viés
religioso e misógino, o parto vaginal é considerado insuportável,
arriscado, danoso à sexualidade e, por muitos, primitivo, nojento,
vergonhoso, indigno, a ser evitado sempre que possível.
Talvez isso explique por que no Brasil, na assistência
ao parto vaginal, permaneçam procedimentos obsoletos como a episiotomia
(corte da vagina), o uso de drogas para aceleração do parto sem protocolos
de segurança, a manobra sobre o útero para forçar a saída do bebê,
além da imobilização em posições antifisiológicas. Isso sem mencionar
as várias formas de abuso e violência enfrentadas por um quarto das
parturientes (e mais da metade das mulheres com aborto incompleto).
Considerando os setores público e privado, apenas
uma entre seis mulheres consegue ter acompanhantes no parto conforme
a lei. A falta de continuidade do cuidado e de privacidade são a regra,
especialmente no setor público. Movimentos sociais denunciam: "Chega
de parto violento para vender cesárea".
O caso tem repercussão internacional por expor o
inaceitável desrespeito ao direito à autonomia da gestante, à privacidade,
à legalidade, à não-violência e a tratados internacionais. Ele evidencia
violações do código de ética médica como a falta de consentimento
da gestante sem que houvesse iminente risco de morte. A juíza que concedeu
a liminar irreversível o fez baseada em laudo passível de contestação.
Triste, o caso traz ao menos a oportunidade de diálogo
sobre a assistência ao parto, as evidências científicas e os direitos
das mulheres.
SIMONE G. DINIZ é professora
de saúde materno-infantil na Faculdade de Saúde Pública da USP
PRISCILA CAVALCANTI é membro
da ONG Artemis, que busca erradicar a violência contra mulheres
Brasil é o terceiro
país do mundo com mais conflitos ecológicos
O Globo
Segundo levantamento global, busca por recursos naturais
prejudica comunidades tradicionais Posição do país no ranking seria
explicada pela abundância de projetos de infraestrutura relacionados
ao meio ambiente
RIO - A exploração mineral, o desmatamento e a
disputa por terras e água estão entre os maiores motivos de conflitos
ambientais do mundo, segundo um levantamento internacional divulgado
recentemente pela ONG Ejolt (Environmental Justice Organizations, Liabilities
and Trade) e coordenado pela Universidade Autônoma de Barcelona (UAB).
Os pesquisadores identificaram 945 casos em 78 países. Empatado com
a Nigéria, o Brasil foi o terceiro colocado no ranking, com 58 casos,
atrás apenas da Índia (112) e da Colômbia (77).
Os conflitos do país, segundo o Atlas Global de
Justiça Ambiental, estão ligados à abundância de projetos de infraestrutura
relacionados ao meio ambiente. São obras, como a construção de hidrelétricas,
que dividem ativistas e empreiteiras; e o setor agrícola, cujas plantações
invadem unidades de conservação.
- O crescimento da população mundial provocará
uma busca cada vez mais intensa por commodities, e o Brasil, que é
rico em terra, água, petróleo e minérios, será um alvo - descreve
Leah Temper, coordenadora do Atlas. - E este recursos estão em terras
ocupadas por indígenas, quilombolas e pequenos agricultores. Estes
grupos serão os mais afetados.
Entre os conflitos ecológicos brasileiros estão
episódios de grilagem para especulação imobiliária e a disputa por
regiões que poderiam receber projetos como barragens hidrelétricas.
São instalações que ampliam a geração de energia por uma matriz
energética considerada limpa, mas que provocam alto impacto ambiental
no local de sua construção.
Falhas na legislação
Apesar do processo de industrialização nacional
ter catapultado nas décadas passadas, as exportações do Brasil são
altamente dependentes de produtos do setor primário. Em 2012, metade
dos produtos comercializados para outras nações vinham do agronegócio
- carne, soja, etanol, por exemplo - e outros semiacabados, entre eles
alumínio e aço bruto. O potencial econômico do campo leva extrativistas
a se aventurarem em reservas indígenas.
Professor de Direito Ambiental da Fundação Getúlio
Vargas, Rômulo Sampaio lembra que a exploração de commodities sempre
gera disputa de interesses.
- O petróleo, por exemplo, provoca interesses nacionais,
conservacionais e do mercado privado - destaca. - No campo, o problema
fundiário torna o conflito ainda mais agudo, devido à desigualdade
na distribuição de propriedades.
Sampaio atribui os dilemas ambientais e suas consequências
sociais a falhas graves na legislação.
- Não há uma discussão sobre como lidar com os
conflitos - condena. - Falta uma orientação, uma política pública.
O debate só aparece na hora de implementação de cada projeto. Por
isso, aumenta o número de ações no Judiciário.
A Fiocruz realiza, desde o ano passado, um catálogo
sobre injustiças ambientais no Brasil. O órgão foi uma das fontes
do mapeamento da UAB e, em trabalhos independentes, destaca os danos
à saúde coletiva provocados pelos conflitos ecológicos. Nas grandes
cidades, moradores no entorno de lixões estão sujeitos a doenças
respiratórias, dengue e leptospirose.
Já a atuação da indústria em áreas próximas
a rios leva à alteração do ciclo reprodutivo da fauna, a doenças
cardíacas e à insegurança alimentar.
- Analisamos denúncias de problemas de saúde causados
por conflitos ecológicos, como a contaminação de rios por agrotóxicos
- revela Marcelo Firpo Porto, professor do Centro de Estudos da Saúde
do Trabalhador e Ecologia Humana, da Escola Nacional de Saúde Pública.
- As doenças estão ligadas à degradação dos ecossistemas.
Em seu novo mapeamento, a Fiocruz já identificou
450 casos de conflito ecológico no Brasil.
- Levamos ao mapeamento da UAB os casos mais emblemáticos,
relacionados ao comércio internacional - conta. - Mas conhecemos muitas
outras ocorrências, de âmbito regional ou nacional.
No Rio, por exemplo, a Zona Oeste registra dois casos
que seriam atentados à justiça ambiental. O polo industrial de Santa
Cruz já provocou emissões de uma poeira de ferro e carbono, que causa
danos ao aparelho respiratório.
Na Barra da Tijuca, moradores de comunidades vizinhas
à Vila do Autódromo são ameaçadas de remoção devido à especulação
imobiliária. A região receberá instalações para os Jogos Olímpicos.
Segundo a Fiocruz, alterações já realizadas pelo assoreamento de
recursos hídricos no local pioram a qualidade de vida da população.
Para Sampaio, as comunidades urbanas e rurais têm
em comum a falta de mobilização, que permite a sobrevivência de problemas
seculares.
- Não existe uma organização social entre as comunidades
menos favorecidas, o que prejudica sua representatividade - assinala.
Leah, que está à frente da organização do Atlas,
reconhece que o mapeamento ainda tem um longo caminho para percorrer.
Nesta primeira edição, o trabalho contou com a adesão de 23 universidades
e ONGs de justiça ambiental de 18 países.
'Dívida ambiental'
O levantamento não chegou a regiões expressivas
do planeta, como a China, a Ásia Central e o Oriente Médio.
- Temos muitos lugares em branco no mapa - reconhece.
- Mas, agora que ele é público, vamos convidar pesquisadores e ativistas
dessas regiões para documentar outros conflitos e expandir o nosso
conhecimento.
A coordenadora do Atlas, no entanto, assegura que
a iniciativa já confirma um padrão histórico.
- O Hemisfério Sul continua suprindo as nações
desenvolvidas com manufaturas de baixo preço e pagam um alto preço
ecológico. As nações ricas têm uma "dívida ambiental"
- analisa.
MPF pode investigar
planos (Cláudio Humberto)
O Ministério Público Federal (MPF) avalia abrir
inquérito sobre contrabando na Medida Provisória nº 627, um primor
da bandalha nacional que livra os planos de saúde de pagar multas por
descumprimento de contrato. Com a mudança, a operadora que comete de
duas a 50 infrações semelhantes, pagará multa correspondente a apenas
duas. E fica dispensada de corrigir a atitude, cruel e criminosa, de
ignorar contratos.
O MPF terá de pedir licença ao STF para investigar
a suposta tramoia: o relator da MP 627 foi o deputado federal Eduardo
Cunha (PMDB-RJ). Agora, de 51 a 100 descumprimentos de contrato pelos
planos de saúde, eles só terão de pagar o correspondente a apenas
quatro infrações. Relatório recente da ANS mostra que de janeiro
a agosto de 2013 apenas 20,7% das multas aplicadas a planos de saúde
foram pagas. Como é frequente nesse tipo de esquema, o contrabando
de planos de saúde foi incluído em MP de outro tema, para não chamar
atenção.
Marco Feliciano
concede entrevista à revista Playboy
Ele falou que antes de se converter chegou a experimentar
drogas e também comentou sobre sexo anal
O deputado federal pastor Marco Feliciano concedeu
uma entrevista para a revista “Playboy” falando de temas polêmicos:
drogas e sexo.
O parlamentar evangélico contou que na adolescência
experimentou drogas. Tentou fumar maconha, mas se engasgou. “Eu tentei
maconha, mas engasguei, nunca consegui fumar nem cigarro”, disse ele.
Por outro lado ele experimentou cocaína. “Conheci
a cocaína nos bailinhos, no fim dos 12 anos”, afirmou Feliciano que
se tornou evangélico meses depois.
O deputado conta que sonha ser presidente do Brasil.
Além disso, critica a ex-senadora Marina Silva. “Marina Silva é
um engodo. Com aquele jeitinho de cristã, a roupa de crente, ela foi
muito inteligente.”, disse.
A entrevista na íntegra só está disponível na
versão física da revista de abril que acaba de chegar às bancas,
mas a coluna F5, da Folha de São Paulo, destacou algumas falas do pastor.
Além de drogas, Feliciano também comentou a respeito
de sexo anal, ele precisou responder se considera possível que um homem
tenha prazer com a prática.
“Com certeza, tem homens que têm tara por ânus,
sim”, disse. “Eu não entendo muito dessa área porque nunca fiz,
graças a Deus”.
Na visão do deputado, quem pratica sexo anal não
consegue mais voltar. “Espero nunca fazer, porque parece que quem
faz não volta mais”.
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