Nove coisas que você precisa saber sobre o HIV/Aids
Men's Health | De Manuela Biz Publicado: 24/02/2014 18:33 BRT
Em 2010, fui passar férias na África do Sul para fazer um trabalho voluntário. Eu tinha 25 anos, embarquei sozinha. Ia morar com um grupo de gringos, todos da mesma idade. Dos amigos brasileiros, escutei incentivos do tipo: "Aproveita! Vai rolar muita pegação!" Mas, no primeiro dia no outro continente, ouvi um conselho muito diferente: "Vá com calma e pense bem. A cada cinco amigos novos que você pode fazer, um provavelmente vai morrer em decorrência da aids". Gelei.
O país que escolhi visitar já teve cerca de 20% da população contaminada pelo vírus HIV - hoje, são 12%, de acordo com estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS). Foi a primeira vez que me preocupei de verdade com a doença.
Nasci em Londrina (PR), moro em São Paulo (SP) há sete anos e nunca havia pensado no HIV como um perigo iminente. Não conhecia pessoas infectadas (ou ignorava a condição de soropositivos) e ainda estava na pré-escola quando Cazuza apareceu magérrimo e abatido em capas de revista, pouco antes de falecer. Não que eu tenha sido sexualmente irresponsável. Aprendi desde sempre - em casa, na escola, vendo TV - que transa só valia com camisinha. Seguia a lição à risca. Mas, confesso, meu único medo era que as madrugadas de balada virassem madrugas de trocas de fralda após uma gravidez. E, pior, aquele meu comportamento ainda parece ser padrão.
De acordo com o último Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, em 2012 houve 39 185 novos casos de HIV no país - o número está estável há alguns anos. Mas existe um aumento preocupante no índice de infecção entre jovens - e, na outra ponta da tabela, entre a terceira idade (acima de 60 anos). Em 2011, 6.023 homens entre 15 e 29 anos contraíram o vírus da aids no Brasil. Em 2012, foram 6.157. E mais da metade deles (3.522) possui entre 25 e 29 anos, minha idade, e moram principalmente em grandes capitais das regiões Sul e Sudeste.
Por que muita gente ainda cai nessa? Nos últimos meses, encontrei especialistas de áreas diferentes que trabalham especificamente com HIV. Aqui, divido com você as respostas deles para dúvidas que eram minhas, e também podem ser suas.
1. Por que nunca me preocupei com aids?
O registro de novos casos permanece estável, mas há queda no número de óbitos devido à doença. Foram 11.896 mortes em 2012 - e 12.158 em 2010. Isso se deve a um combinado de fatores, segundo Jarbas Barbosa, médico sanitarista da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.
Pesquisas levaram à melhoria nos tratamentos. E há muitas campanhas que incentivam médicos a pedir exame de HIV e pacientes a fazê-lo - o que ajuda a identificar logo os portadores do vírus. "Ter o HIV no organismo não significa sofrer de aids. O HIV pode passar anos na pessoa sem que ela desenvolva qualquer sintoma da doença. Aí, há chance de controlar a proliferação do vírus no corpo seguindo um protocolo adequado", explica Artur Kalichman, médico sanitarista e coordenador adjunto do Programa DST/Aids do Estado de São Paulo.
No entanto: "Quem não viveu a época de propaganda massiva contra a doença e não viu pessoas sofrerem dela tem a falsa percepção de que aids não é um problema tão sério", diz Barbosa. Ou seja, perpetuou-se a ideia de que a doença não mata mais - é só tomar uns comprimidos e você vive legal. Mas, sim, ela leva à morte. O tratamento exige comprometimento e é para sempre. E ainda não há cura.
2. É só um vírus. Por que o HIV tem tanto poder?
Ele tem estratégia. "Quando atinge as primeiras células do indivíduo, geralmente na mucosa dos órgãos sexuais, o HIV começa a se multiplicar e isso induz respostas do sistema imunológico", explica Liã Bárbara Arruda, bióloga e doutoranda em saúde internacional na Universidade de São Paulo (USP). "O vírus trata de atingir principalmente as células TCD4+, as maiores responsáveis pela organização da sua defesa contra doenças. Essas células são pouco resistentes ao HIV e acabam morrendo." Com isso, o sistema imunológico do soropositivo fica comprometido e baixa a guarda diante de outros inimigos - as chamadas doenças oportunistas, que podem matar.
Mais: o HIV apresenta alta diversidade genética. "Durante a própria multiplicação, o vírus não é capaz de corrigir erros de sequenciamento genético (já nosso organismo faz isso cada vez que uma célula se duplica). Assim, a cada reprodução, o HIV gera mais tipos de si", explica Liã. Então, o organismo, por mais que tente produzir células específicas contra o invasor, não é capaz de acompanhar o fluxo de vírus diferentes gerados a cada segundo. "Os sintomas aparecem quando o corpo do soropositivo começa a perder a briga. Pode demorar anos ou bem pouco tempo", diz Sumire Sakabe, infectologista do Hospital Nove de Julho, em São Paulo (SP). Nesse momento, há a mudança de status de soropositivo para paciente com aids. "Os médicos consideram doentes com aids as pessoas em que o HIV já causou dano severo ao sistema imunológico e quando elas têm doenças oportunistas e contagem de linfócitos TCD4+ abaixo de 200 células por milímetro cúbico de sangue."
3. Se não curam, os remédios fazem o quê?
Logo que diagnosticado, o paciente soropositivo recebe orientação sobre o tratamento. Passa pelos exames de carga viral (para checar a quantidade e os tipos de vírus que carrega) e o de TCD4+ (para verificar como está a imunidade do organismo). Conforme os resultados, recebe um tratamento.
Os medicamentos contra aids, também conhecidos como antirretrovirais, inibem a multiplicação do vírus e/ou a entrada dele nas células. "Com o bloqueio da ação do HIV, cessa a destruição das TCD4+ e o organismo ganha tempo para repor o estoque delas", explica Alberto Chebabo, infectologista do laboratório Delboni Auriemo Medicina Diagnóstica, em São Paulo (SP). "Assim, aumenta a imunidade do infectado e diminui o risco de ele ter doenças oportunistas." Para combater o HIV, é necessário utilizar, todo dia, ao menos três antirretrovirais - que podem estar num só comprimido.
Desde 1996, o Brasil distribui o coquetel gratuitamente na rede pública de saúde. "Mas, hoje, os remédios são mais capazes de manter a infecção controlada", diz Chebabo. Além de tratar quem já desenvolveu a doença, os antirretrovirais passaram a ser oferecidos pelo governo para quem é apenas portador do vírus. Eis uma nova frente de combate à proliferação da aids. "Manter baixo o volume de HIV no organismo também diminui bastante a chance de ele repassar o vírus adiante", explica Kalichman. O que não é motivo para sexo sem proteção.
Esqueça o velho preconceito que liga o uso dos coquetéis antirretrovirais a pessoas frágeis fisicamente, como em imagens icônicas dos anos 80. "O tratamento já permite que os infectados trabalhem, pratiquem esportes, namorem, tenham filhos etc.", diz Sumire. A realidade dos pacientes mudou, mas ainda demanda esforço e comprometimento pela vida toda.
De cara, há o efeito colateral da medicação. "No meu caso, tive muita tontura, dores de cabeça e vômitos. Acabou restando um intestino desregulado que me obriga a usar outro remédio para controlar esse problema", diz Rafael Bolacha, cientista social paulista, 28 anos, que descobriu ser soropositivo e é também autor de um blog (umavidapositiva.com.br) onde divide dúvidas e dificuldades de lidar com o HIV. "Além de seguir à risca a medicação, mantenho uma alimentação saudável, faço atividade física, reorganizei minhas horas de descanso e dou atenção a qualquer sinal do meu corpo que denuncie queda na imunidade." Rafael sabe que tem muito a perder se deixar a disciplina para escanteio.
4. E os boatos sobre a cura?
Os antirretrovirais são capazes de conter a infecção, mas ainda não são capazes de eliminar todos os vírus do organismo. No corpo, o HIV pode sair da corrente sanguínea e se esconder em órgãos, como o cérebro, onde os ativos dos remédios têm dificuldade para chegar. "Ali, o vírus pode ficar imperceptível ao sistema imunológico e formar reservatórios de HIV", afirma Liã. O que não o impede de voltar ao sangue, e à ação, a qualquer momento. Outra dificuldade: "Considerando que dentro de um mesmo indivíduo já temos populações virais com diferenças genéticas entre si, é ainda mais difícil que a mesma vacina funcione para a grande maioria das pessoas infectadas", explica Liã. Ainda assim, a ciência segue na busca pela cura da aids.
5. Não quero pegar aids, claro. Mas tem mesmo de rolar plástico filme no sexo oral?
Quando fiz essa pergunta a Kalichman, ele riu e mandou um sonoro "sim!". Ainda não existe método mais efetivo para evitar aids que o uso de preservativo (leia mais na próxima reportagem, pág. 82) em todo tipo de relação sexual. De camisinha, portadores de HIV e outras DSTs podem transar sem contaminar outras pessoas. Se a mulher é portadora de uma doença, precisa pôr o plástico na vagina antes de receber sexo oral. Do contrário, pode contaminar você.
"O vírus da aids é transmitido por secreções corporais (lubrificantes sexuais, esperma, leite e sangue), mas só entra no corpo por meio de mucosas expostas. Na boca, a absorção é pequena. Se tiver um machucado ali, porém, o risco de contaminação aumenta", explica Kalichman. Já a parte interior da vagina, feita de mucosa, absorve rapidamente o vírus caso tenha contato com esperma contaminado. O prepúcio do pênis, que possui pele fina, pode permitir a penetração do HIV se ficar envolto em líquido vaginal soropositivo.
6. Circuncisão pode diminuir o risco de contrair aids?
Pode. "Sem a pele protetora, retirada na cirurgia, a pele do prepúcio do pênis vai engrossando e perde características de mucosa. Assim, fica um pouco menos suscetível a contaminações", diz Kalichman.
7. E aquela gozada na coxa dele, é perigosa?
Não. Esperma ou líquido vaginal contaminado com HIV não causa nada em pele sem mucosa - a não ser a necessidade de um bom banho. Saliva também está liberada, pode beijar sem medo.
8. E se eu marcar bobeira?
Transou sem camisinha e encanou? Procure um Centro de Testagem e Aconselhamento em uma Unidade Básica de Saúde (UBS). Existe uma profilaxia pós-exposição. "Quem nos procura usa, por 28 dias, os mesmos medicamentos que receitamos para pacientes infectados. O objetivo é impedir a penetração do vírus nas células", explica Chebabo. Aí, o HIV não se hospeda em lugar algum e acaba morrendo. Utilizado em profissionais da saúde que sofrem acidentes com sangue no trabalho, por exemplo, o método não tem 100% de eficácia, mas reduz muito o risco de a pessoa contrair a doença. "O melhor é procurar o tratamento logo no dia seguinte à relação arriscada. Ou até 72 horas depois dela", explica Kalichman.
É provável que a equipe de saúde também oriente essa pessoa a fazer um teste de HIV, via sangue ou saliva, após algumas semanas (o corpo demora de um a seis meses para produzir anticorpos contra o vírus). Há possibilidade de o primeiro ser bem rápido: resultado na hora. Se ele for positivo, o paciente é convidado a refazê-lo com outra metodologia. "O teste não procura pelo vírus HIV, e sim pela reação do sistema imunológico. Então, é possível que outras infecções interfiram no resultado gerando um falso positivo", explica Kalichman. Daí a necessidade da comprovação. O ideal é repetir o exame sempre depois de um descuido ou incluí-lo no seu check-up anual.
9. Ok, fiz o exame e deu negativo. Ainda tenho alguma coisa a ver com isso?
"O combate à aids depende também, e muito, de fatores comportamentais e ações educacionais", diz Barbosa. Na maior parte dos casos (exceto violência, transfusão de sangue - muito segura no Brasil - ou acidentes de trabalho com profissionais de saúde), é necessário se colocar em uma situação específica de risco (sexo desprotegido ou uso de drogas) para contrair o vírus. É aí que eu, e você, entramos.
Toda a pesquisa e o trabalho do pessoal que me ajudou nesta reportagem pode não valer muito se não usarmos camisinha na transa com uma pessoa que ainda estamos conhecendo. Ou se, em um relacionamento estável, desistirmos do preservativo sem manter a palavra de não ciscar no terreno ao lado. "Para cEombater a aids é preciso, antes de tudo, responsabilidade e honestidade perante sua vida e a das pessoas com quem se relaciona", diz Kalichman.
http://www.brasilpost.com.br/ 2014/02/24/duvidas-sobre-hiv- aids_n_4849323.html?utm_hp_ ref=atitude-abril
Men's Health | De Manuela Biz Publicado: 24/02/2014 18:33 BRT
Em 2010, fui passar férias na África do Sul para fazer um trabalho voluntário. Eu tinha 25 anos, embarquei sozinha. Ia morar com um grupo de gringos, todos da mesma idade. Dos amigos brasileiros, escutei incentivos do tipo: "Aproveita! Vai rolar muita pegação!" Mas, no primeiro dia no outro continente, ouvi um conselho muito diferente: "Vá com calma e pense bem. A cada cinco amigos novos que você pode fazer, um provavelmente vai morrer em decorrência da aids". Gelei.
O país que escolhi visitar já teve cerca de 20% da população contaminada pelo vírus HIV - hoje, são 12%, de acordo com estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS). Foi a primeira vez que me preocupei de verdade com a doença.
Nasci em Londrina (PR), moro em São Paulo (SP) há sete anos e nunca havia pensado no HIV como um perigo iminente. Não conhecia pessoas infectadas (ou ignorava a condição de soropositivos) e ainda estava na pré-escola quando Cazuza apareceu magérrimo e abatido em capas de revista, pouco antes de falecer. Não que eu tenha sido sexualmente irresponsável. Aprendi desde sempre - em casa, na escola, vendo TV - que transa só valia com camisinha. Seguia a lição à risca. Mas, confesso, meu único medo era que as madrugadas de balada virassem madrugas de trocas de fralda após uma gravidez. E, pior, aquele meu comportamento ainda parece ser padrão.
De acordo com o último Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, em 2012 houve 39 185 novos casos de HIV no país - o número está estável há alguns anos. Mas existe um aumento preocupante no índice de infecção entre jovens - e, na outra ponta da tabela, entre a terceira idade (acima de 60 anos). Em 2011, 6.023 homens entre 15 e 29 anos contraíram o vírus da aids no Brasil. Em 2012, foram 6.157. E mais da metade deles (3.522) possui entre 25 e 29 anos, minha idade, e moram principalmente em grandes capitais das regiões Sul e Sudeste.
Por que muita gente ainda cai nessa? Nos últimos meses, encontrei especialistas de áreas diferentes que trabalham especificamente com HIV. Aqui, divido com você as respostas deles para dúvidas que eram minhas, e também podem ser suas.
1. Por que nunca me preocupei com aids?
O registro de novos casos permanece estável, mas há queda no número de óbitos devido à doença. Foram 11.896 mortes em 2012 - e 12.158 em 2010. Isso se deve a um combinado de fatores, segundo Jarbas Barbosa, médico sanitarista da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.
Pesquisas levaram à melhoria nos tratamentos. E há muitas campanhas que incentivam médicos a pedir exame de HIV e pacientes a fazê-lo - o que ajuda a identificar logo os portadores do vírus. "Ter o HIV no organismo não significa sofrer de aids. O HIV pode passar anos na pessoa sem que ela desenvolva qualquer sintoma da doença. Aí, há chance de controlar a proliferação do vírus no corpo seguindo um protocolo adequado", explica Artur Kalichman, médico sanitarista e coordenador adjunto do Programa DST/Aids do Estado de São Paulo.
No entanto: "Quem não viveu a época de propaganda massiva contra a doença e não viu pessoas sofrerem dela tem a falsa percepção de que aids não é um problema tão sério", diz Barbosa. Ou seja, perpetuou-se a ideia de que a doença não mata mais - é só tomar uns comprimidos e você vive legal. Mas, sim, ela leva à morte. O tratamento exige comprometimento e é para sempre. E ainda não há cura.
2. É só um vírus. Por que o HIV tem tanto poder?
Ele tem estratégia. "Quando atinge as primeiras células do indivíduo, geralmente na mucosa dos órgãos sexuais, o HIV começa a se multiplicar e isso induz respostas do sistema imunológico", explica Liã Bárbara Arruda, bióloga e doutoranda em saúde internacional na Universidade de São Paulo (USP). "O vírus trata de atingir principalmente as células TCD4+, as maiores responsáveis pela organização da sua defesa contra doenças. Essas células são pouco resistentes ao HIV e acabam morrendo." Com isso, o sistema imunológico do soropositivo fica comprometido e baixa a guarda diante de outros inimigos - as chamadas doenças oportunistas, que podem matar.
Mais: o HIV apresenta alta diversidade genética. "Durante a própria multiplicação, o vírus não é capaz de corrigir erros de sequenciamento genético (já nosso organismo faz isso cada vez que uma célula se duplica). Assim, a cada reprodução, o HIV gera mais tipos de si", explica Liã. Então, o organismo, por mais que tente produzir células específicas contra o invasor, não é capaz de acompanhar o fluxo de vírus diferentes gerados a cada segundo. "Os sintomas aparecem quando o corpo do soropositivo começa a perder a briga. Pode demorar anos ou bem pouco tempo", diz Sumire Sakabe, infectologista do Hospital Nove de Julho, em São Paulo (SP). Nesse momento, há a mudança de status de soropositivo para paciente com aids. "Os médicos consideram doentes com aids as pessoas em que o HIV já causou dano severo ao sistema imunológico e quando elas têm doenças oportunistas e contagem de linfócitos TCD4+ abaixo de 200 células por milímetro cúbico de sangue."
3. Se não curam, os remédios fazem o quê?
Logo que diagnosticado, o paciente soropositivo recebe orientação sobre o tratamento. Passa pelos exames de carga viral (para checar a quantidade e os tipos de vírus que carrega) e o de TCD4+ (para verificar como está a imunidade do organismo). Conforme os resultados, recebe um tratamento.
Os medicamentos contra aids, também conhecidos como antirretrovirais, inibem a multiplicação do vírus e/ou a entrada dele nas células. "Com o bloqueio da ação do HIV, cessa a destruição das TCD4+ e o organismo ganha tempo para repor o estoque delas", explica Alberto Chebabo, infectologista do laboratório Delboni Auriemo Medicina Diagnóstica, em São Paulo (SP). "Assim, aumenta a imunidade do infectado e diminui o risco de ele ter doenças oportunistas." Para combater o HIV, é necessário utilizar, todo dia, ao menos três antirretrovirais - que podem estar num só comprimido.
Desde 1996, o Brasil distribui o coquetel gratuitamente na rede pública de saúde. "Mas, hoje, os remédios são mais capazes de manter a infecção controlada", diz Chebabo. Além de tratar quem já desenvolveu a doença, os antirretrovirais passaram a ser oferecidos pelo governo para quem é apenas portador do vírus. Eis uma nova frente de combate à proliferação da aids. "Manter baixo o volume de HIV no organismo também diminui bastante a chance de ele repassar o vírus adiante", explica Kalichman. O que não é motivo para sexo sem proteção.
Esqueça o velho preconceito que liga o uso dos coquetéis antirretrovirais a pessoas frágeis fisicamente, como em imagens icônicas dos anos 80. "O tratamento já permite que os infectados trabalhem, pratiquem esportes, namorem, tenham filhos etc.", diz Sumire. A realidade dos pacientes mudou, mas ainda demanda esforço e comprometimento pela vida toda.
De cara, há o efeito colateral da medicação. "No meu caso, tive muita tontura, dores de cabeça e vômitos. Acabou restando um intestino desregulado que me obriga a usar outro remédio para controlar esse problema", diz Rafael Bolacha, cientista social paulista, 28 anos, que descobriu ser soropositivo e é também autor de um blog (umavidapositiva.com.br) onde divide dúvidas e dificuldades de lidar com o HIV. "Além de seguir à risca a medicação, mantenho uma alimentação saudável, faço atividade física, reorganizei minhas horas de descanso e dou atenção a qualquer sinal do meu corpo que denuncie queda na imunidade." Rafael sabe que tem muito a perder se deixar a disciplina para escanteio.
4. E os boatos sobre a cura?
Os antirretrovirais são capazes de conter a infecção, mas ainda não são capazes de eliminar todos os vírus do organismo. No corpo, o HIV pode sair da corrente sanguínea e se esconder em órgãos, como o cérebro, onde os ativos dos remédios têm dificuldade para chegar. "Ali, o vírus pode ficar imperceptível ao sistema imunológico e formar reservatórios de HIV", afirma Liã. O que não o impede de voltar ao sangue, e à ação, a qualquer momento. Outra dificuldade: "Considerando que dentro de um mesmo indivíduo já temos populações virais com diferenças genéticas entre si, é ainda mais difícil que a mesma vacina funcione para a grande maioria das pessoas infectadas", explica Liã. Ainda assim, a ciência segue na busca pela cura da aids.
5. Não quero pegar aids, claro. Mas tem mesmo de rolar plástico filme no sexo oral?
Quando fiz essa pergunta a Kalichman, ele riu e mandou um sonoro "sim!". Ainda não existe método mais efetivo para evitar aids que o uso de preservativo (leia mais na próxima reportagem, pág. 82) em todo tipo de relação sexual. De camisinha, portadores de HIV e outras DSTs podem transar sem contaminar outras pessoas. Se a mulher é portadora de uma doença, precisa pôr o plástico na vagina antes de receber sexo oral. Do contrário, pode contaminar você.
"O vírus da aids é transmitido por secreções corporais (lubrificantes sexuais, esperma, leite e sangue), mas só entra no corpo por meio de mucosas expostas. Na boca, a absorção é pequena. Se tiver um machucado ali, porém, o risco de contaminação aumenta", explica Kalichman. Já a parte interior da vagina, feita de mucosa, absorve rapidamente o vírus caso tenha contato com esperma contaminado. O prepúcio do pênis, que possui pele fina, pode permitir a penetração do HIV se ficar envolto em líquido vaginal soropositivo.
6. Circuncisão pode diminuir o risco de contrair aids?
Pode. "Sem a pele protetora, retirada na cirurgia, a pele do prepúcio do pênis vai engrossando e perde características de mucosa. Assim, fica um pouco menos suscetível a contaminações", diz Kalichman.
7. E aquela gozada na coxa dele, é perigosa?
Não. Esperma ou líquido vaginal contaminado com HIV não causa nada em pele sem mucosa - a não ser a necessidade de um bom banho. Saliva também está liberada, pode beijar sem medo.
8. E se eu marcar bobeira?
Transou sem camisinha e encanou? Procure um Centro de Testagem e Aconselhamento em uma Unidade Básica de Saúde (UBS). Existe uma profilaxia pós-exposição. "Quem nos procura usa, por 28 dias, os mesmos medicamentos que receitamos para pacientes infectados. O objetivo é impedir a penetração do vírus nas células", explica Chebabo. Aí, o HIV não se hospeda em lugar algum e acaba morrendo. Utilizado em profissionais da saúde que sofrem acidentes com sangue no trabalho, por exemplo, o método não tem 100% de eficácia, mas reduz muito o risco de a pessoa contrair a doença. "O melhor é procurar o tratamento logo no dia seguinte à relação arriscada. Ou até 72 horas depois dela", explica Kalichman.
É provável que a equipe de saúde também oriente essa pessoa a fazer um teste de HIV, via sangue ou saliva, após algumas semanas (o corpo demora de um a seis meses para produzir anticorpos contra o vírus). Há possibilidade de o primeiro ser bem rápido: resultado na hora. Se ele for positivo, o paciente é convidado a refazê-lo com outra metodologia. "O teste não procura pelo vírus HIV, e sim pela reação do sistema imunológico. Então, é possível que outras infecções interfiram no resultado gerando um falso positivo", explica Kalichman. Daí a necessidade da comprovação. O ideal é repetir o exame sempre depois de um descuido ou incluí-lo no seu check-up anual.
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Roberto Pereira
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