#CLIPPING #SaúdeSexualidade&Afins 7/Mar./2014 ANAGloria
CLIPPING
Saúde, Sexualidade & Afins
7/Mar./2014
O carnaval no país do racismo velado (Bruno Lima Rocha)
O episódio de prisão arbitrária ocorrido com o
psicólogo, vendedor de roupas e figurante de novela, Vinícius Romão, é a prova
material de que vivemos em um país racista. Para a sorte deste jovem carioca,
sua rede de amigos e parentes moveu-se com agilidade, pressionando o aparelho
policial de modo a conseguir sua liberdade.
Dezenas de casos semelhantes pululam no
sistema prisional brasileiro sem a mesma atenção. Deste crime de Estado,
retira-se a oportunidade de debatermos abertamente o problema do racismo
estruturante.
O tema da dominação racial remonta à
estratégia da supremacia, onde ao mesmo tempo em que se coloca parte
considerável da população brasileira sob suspeita, integra-se – de forma
subordinada – a esta maioria.
A história nos traz exemplos como: a política
de Estado visando à europeização da cidadania; a negação do debate sobre os
horrores da escravidão; o antigo crime de vadiagem; até chegarmos a situações
estruturantes como a violência policial que atravessa o aparelho de segurança
das metrópoles, sendo a polícia fluminense campeã neste quesito.
Através do mito da democracia racial,
reproduzimos o estilo assimilado do colonialismo lusitano na África, sem
admitir o debate básico de reparações ou promoção da igualdade racial. O senso
comum supõe que se somos todos iguais, porque “discriminar ou subestimar” os
afrodescendentes com a política de cotas?
Como diz o antropólogo e professor
universitário Kabengele Munanga (em entrevista para o portal da revista Fórum,
em 09/02/2012), o racismo brasileiro “é
um crime perfeito”. Como o modelo não é explícito, logo o tema não vem à
tona, necessitando de janelas de visibilidade para este debate. A cada tragédia
divulgada, eis a chance.
No cotidiano, seguimos com mais do mesmo: o
aparelho de Estado discriminando; a elite dirigente produz alguns paliativos; a
classe dominante contenta-se em ser a periferia do Ocidente; já as matrizes
culturais brasileiras, majoritariamente de origem africana, são apresentadas
como “nacionais”. Isto sem falar na perseguição covarde contra as religiões de
matriz africana, genocídio cultural promovido por “pastores” que são base de
apoio da bancada neopentecostal.
Temos a segunda maior população de origem
africana do planeta e não por acaso promovemos uma manifestação cultural da
envergadura do carnaval. Mas, enquanto o país não condenar a vergonha do
passado escravagista e genocida, episódios absurdos como o de Vinícius Romão –
e dezenas de outros - irão se repetir.
Bruno Lima Rocha é professor de ciência política e relações
internacionais.
'' A violência contra a mulher não tem classe social '' (Eleonora
Menicucci)
Época
A ministra da Secretaria de Política para as Mulheres quer melhorar a
aplicação da Lei Maria da Penha - e discute o impacto, para sua Pasta, de ter
uma mulher na Presidência
A ministra Eleonora Menicucci, da Secretaria
de Política para as Mulheres, comanda há dois anos uma das pastas de menor
orçamento da Esplanada. Para este ano, Eleonora conta com R$ 82,7 milhões para,
entre outras atribuições, interromper a alta nos índices de violência contra as
mulheres - e, fosse isso pouco, assegurar tratamento digno para as vítimas.
Eleonora, ex-companheira de cela da presidente Dilma Rousseff nos calabouços da
ditadura militar, afirma que o governo da primeira mulher eleita presidente da
República contribui para extinguir o machismo que ainda predomina no Brasil. Em
entrevista, Eleonora diz que sua Pasta tem mais resultados a mostrar do que seu
pequeno orçamento pode sugerir.
ÉPOCA - Qual o impacto real de termos uma
mulher na Presidência?
Eleonora Menicucci - Um impacto muito grande,
a ponto de as meninas não quererem mais brincar de Barbie, e sim de presidenta.
As garotas pedem fantasia de presidenta no aniversário. Conheço duas meninas de
uma família que pediram isso. Politicamente, fez diferença também. Conseguimos,
na eleição de 2012, superar a cota de mulheres candidatas (pela lei, cada
partido precisa destinar, nas eleições, pelo menos 30% das vagas a mulheres).
Mas o número de eleitas ainda é muito baixo. É preciso que os partidos mudem
sua cultura e enfrentem essa questão. Como ministra de Estado da primeira
presidente mulher do Brasil, estou conseguindo transformar meus sonhos de
ampliar e consolidar os direitos humanos das mulheres em realidade, em política
pública.
Procedimento genético pode ajudar no tratamento da Aids
G1
Cientistas
modificaram genes nas células do sangue de pacientes com HIV para os ajudar a
resistir ao vírus da Aids, e concluíram que o tratamento não só é seguro, como
também promissor. Os resultados podem ser uma esperança aos pacientes que se
submetem a um esgotante regime diário de medicamentos e os pesquisadores acreditam
que as conclusões podem oferecer uma forma de cura. As informações são do site
do jornal britânico Daily Mail.
As novidades aparecem um dia depois de médicos
de Boston anunciarem que esperam ter curado um bebê com HIV. A criança, que
nasceu em Los Angeles no ano passado, é a segunda a ter sido colocada em
remissão, e possível cura, por ter tratamento desde cedo. Ela começou a ser
tratada quatro horas após no nascimento e, até agora, não mostra sinais de
infecção.
A ideia do tratamento por modificação do gene
vem de pacientes com Aids que parecem ter sido curados depois de receber
transplantes de células, em Berlim, há sete anos. O transplante veio de um
doador com imunidade natural ao HIV. Apenas 1% das pessoas tem duas cópias do
gene que dá esta proteção. Sendo assim, os pesquisadores estão procurando uma
maneira mais prática de conseguir resultados similares usando terapia genética
para modificar as células dos próprios pacientes.
A University of Pennsylvania conduziu um
estudo com 12 pacientes. O HIV normalmente infecta células de sangue por meio
de uma proteína na sua superfície, chamada CCR5. A empresa californiana Sangamo
BioSciences oferece um tratamento que pode derrubar o gene que produz o CCR5.
Os pacientes envolvidos no estudo tiveram seu sangue filtrado para remover
algumas de suas células. O tratamento da
Sangamo BioSciences foi introduzido e as células foram devolvidas aos
pacientes.
"Nova droga contra a Aids"
Isto é
A partir de março o SUS irá fornecer um novo remédio para o tratamento
de Aids. Trata-se de uma combinação de dois medicamentos já utilizados entre os
soropositivos, tenofovir e lamivudina -- atualmente, no Brasil, dos 310 mil
portadores de Aids que se tratam no SUS, 73 mil usam as substâncias. A Anvisa pretende conceder o registro de produção do remédio até o
próximo mês para o laboratório público Farmanguinhos, que irá fabricar a droga
em parceria com a empresa farmacêutica Blanver. A associação de medicamentos é
recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Segundo Pablo Tebas, um dos pesquisadores
envolvidos, era previsto que o vírus voltasse, mas as células modificadas
trazem esperança para um controle maior do vírus sem a necessidade de medicamentos.
Os doutores chamam isso de “cura funcional”, porque o vírus ainda estaria
presente, mas mantido sob controle sem tratamento.
Médicos relatam novo possível caso de `cura` do HIV em
bebê
Associated Press
Um
segundo bebê que nasceu com o vírus da aids pode ter sido curado da infecção
por ter sido tratado logo após o nascimento. O caso foi revelado nesta
quarta-feira (5) por médicos em uma conferência sobre aids em Boston, nos
Estados Unidos. A menina nasceu no subúrbio de Los Angeles em abril passado, um
ano depois de pesquisadores anunciarem o primeiro caso do tipo no Mississippi.
O bebê de Mississippi agora tem três anos e
cinco meses e parece estar livre do HIV, apesar de não ter recebido nenhum
tratamento por cerca de dois anos. A criança de Los Angeles ainda está
recebendo medicamentos antirretrovirais e, portanto, ainda não é possível ter
certeza de que se trata de mais um caso de "cura funcional", como os
médicos descreveram no ano passado.
O termo
"cura funcional" é usado porque não se trata de uma erradicação do
vírus, mas sua presença é tão débil que o sistema imunológico tem condições de
controlá-lo sem qualquer tratamento antirretroviral, segundo pesquisadores.
Uma
série de testes sofisticados repetidos várias vezes sugerem que o bebê de Los
Angeles teve o vírus zerado, afirmou à "Associated Press" a
virologista Deborah Persaud, da Universidade Johns Hopkins, que realizou os
exames. Os resultados, segundo ela, são diferentes do que os médicos veem em
pacientes cujas infecções foram simplesmente suprimidas por um tratamento
bem-sucedido.
"Nós não sabemos se o bebê está em
remissão, mas parece isso", disse Yvonne Bryson, especialista em doenças
infecciosas da Mattel Children Hospital UCLA, que teve informações sobre o
caso. Os médicos estão cautelosos em dizer que ela foi curada, mas essa é a
esperança deles.
Bryson
é uma das líderes de um estudo financiado pelo governo que vai investigar se o
tratamento precoce realmente pode curar a infecção pelo HIV. Cerca de 60 bebês
dos EUA e de outros países receberão terapia agressiva e deixarão de tomar os
remédios se depois de um certo período, provavelmente dois anos, os exames
indicarem que a infecção não está ativa.
A
maioria das mães infectadas pelo HIV nos EUA, assim como no Brasil, recebe
medicamentos anti-aids durante a gravidez , o que reduz muito as chances de
transmitir o vírus para seus bebês. Mas a mãe do bebê de Mississippi não havia
recebido nenhum cuidado pré-natal, pois seu HIV foi descoberto durante o parto.
Os médicos iniciaram o tratamento 30 horas após o nascimento, mesmo antes de os
testes confirmarem que ela estava infectada.
Já a
mãe do bebê de Los Angeles, que nasceu no Hospital Infantil Miller, de Long
Beach, sabia do vírus, mas não estava tomando os medicamentos, de acordo com
Audra Deveikis, especialista em doenças infecciosas pediátricas no hospital.
A mãe
recebeu os remédios durante o trabalho de parto, para tentar impedir a
transmissão do vírus, e o tratamento no bebê teve início quatro horas após o
nascimento. Mais tarde, testes confirmaram que a criança havia sido infectada.
O melhor caminho para saúde pública é a prevenção –
vacina contra o HPV
Correio Braziliense
Depois de tanta pirotecnia nos últimos tempos
com relação à saúde pública no Brasil, alguma coisa boa tinha que surgir, e a
campanha de vacinação contra o HPV é, sem dúvida alguma, uma excelente notícia
para um país recheado de problemas neste setor. Segundo a Organização Mundial de Saúde, cerca de 270 mil mulheres em
todo mundo morrem por ano em decorrência do câncer de colo de útero, doença
causada, predominantemente, pelo vírus papiloma Humano, mais conhecido pela
sigla HPV.
O HPV é
uma doença sexualmente transmissível, e aproximadamente 70% da população
mundial já teve em algum momento de sua vida contato com algumas das mais de
100 variações do vírus. Destas variações, apenas 15 são de alto risco e estão
associadas a formação de alguns tipos de câncer.
No Brasil, segundo dados do
Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer de colo de útero representa a
segunda maior incidência entre as mulheres brasileiras, só perdendo para o
câncer de mama. Neste ano, estima-se o surgimento de 15 mil novos casos e cerca
de 4.800 óbitos em decorrência desta doença.
Mais de
51 países, entre eles Portugal, Austrália, Estados Unidos, Quênia e Ruanda, já
adotaram a imunização de sua população feminina contra o HPV, como estratégia
complementar de prevenção, e os resultados são altamente positivos, com grande
redução no número de casos e felizmente diminuição de óbitos.
O
Brasil é um dos últimos países no mundo a adotar a vacina contra o HPV. A
campanha pública começa no próximo dia 10 de março e a estratégia inicial do
governo é vacinar mais de 3 milhões de meninas brasileiras de 11 a 13 anos. Só
em Bauru são cerca de 13 mil meninas que devem receber as três doses desta
vacina (IBGE/2010).
A
prevenção sempre foi o melhor caminho na política de saúde pública de qualquer
país. A vacina contra o HPV, além de ser uma iniciativa complementar de
prevenção ao câncer de colo de útero, é, sem dúvida alguma, uma ação oportuna e
estruturante, que leva em conta não apenas a mudança nas estatísticas do Brasil
com relação as neoplasias, mas sobretudo, a importância da iniciativa para a
proteção da vida das mulheres brasileiras.
Teste de hormônio indica depressão
Correio Braziliense
A união de sintomas depressivos e do alto
nível de cortisol pode servir como forma de diagnóstico da doença, segundo
cientistas do Reino Unido. Hoje, apenas uma análise psiquiátrica confirma a
existência do mal
Análises clínicas feitas por psiquiatras
chancelam a existência da depressão, mal que, segundo a Organização Mundial da
Saúde (OMS), pode afetar uma em cada seis pessoas em algum momento da vida. Em
busca de formas de detectar indícios da doença antes disso, pesquisadores do
Reino Unido analisam a concentração do hormônio do estresse em adolescentes.
Altas taxas de cortisol combinadas com comportamentos depressivos podem ser o
primeiro marcador biológico da doença.
"Isso vai nos ajudar a criar estratégias
voltadas para a prevenção e a intervenção nesses indivíduos na esperança de
reduzir os graves riscos causados pela depressão e suas consequências na vida
adulta", aposta Ian Goodyer, líder do estudo e professor da Universidade
de Cambridge. Os resultados foram divulgados na revista Proceedings, da
Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos. Entre as constatações, os
cientistas concluíram que a depressão é mais frequente em meninos e que os
participantes com sintomas da doença e nível alto de cortisol tinham
predisposição 14 vezes maior de desenvolver o distúrbio do que aqueles que não
apresentavam nenhuma das duas características.
Os pesquisadores afirmam que esse marcador sugere que médicos possam
oferecer abordagens mais personalizadas e direcionadas a adolescentes com maior
risco de depressão. "Essa pode ser a tão esperada maneira de reduzir o
número de pessoas que sofrem com a doença", reforça Matthew Owens, coautor
do estudo.
Porém, segundo Paulo Mattos, coordenador de
pesquisa em neurociência do Instituto D Or, no Rio de Janeiro, a importância da
descoberta se restringe ao campo científico. "Do ponto de vista teórico, a
descoberta é relevante porque pode ajudar pesquisas futuras, mas não acredito
que seja um procedimento prático", afirma. José Alberto Del Porto,
psiquiatra do Hospital da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp),
compartilha a mesma opinião de Mattos. "É um projeto interessante, que
pode ser útil para pesquisas mais aprofundadas. Mas, na prática, o melhor
instrumento de diagnóstico ainda é a análise clínica", afirma.
Mattos conta que testes com cortisol já foram
usados para auxiliar no diagnóstico da depressão anteriormente. Mas a
concentração do hormônio era medida no sangue. "O paciente tomava à noite
uma cortisona artificial para inibir a produção natural de cortisol no corpo.
Na manhã do dia seguinte, ia ao laboratório medir o nível de cortisol que,
devido à inibição, deveria estar baixo. O que se observou em pacientes com
depressão foi que, mesmo com a ação de supressores, as taxas de cortisol se
mantinham altas", explica.
Saliva
Nos estudos conduzidos por Goodyer, 1.858
adolescentes tiveram amostras da saliva recolhidas pela manhã e se submeteram
ao procedimento um ano depois. Nesse período de 12 meses, os garotos e as
garotas forneceram autorrelatos da vida. Por meio deles, os cientistas buscaram
identificar sintomas de depressão. Combinando os relatos e os exames, os
voluntários foram divididos em quatro grupos: sem problemas de cortisol e
depressão, apenas com sintomas de depressão, apenas com falha hormonal, e com
alto nível de cortisol e de indícios depressivos.
As análises mostraram que os adolescentes do
último grupo apresentaram em média uma propensão sete vezes maior de
desenvolver depressão do que os participantes do primeiro, e duas a três vezes
mais chances se comparados aos dois restantes. Quando levando em consideração o
gênero dos voluntários, descobriu-se que os meninos do grupo 4 eram 14 vezes
mais propensos a sofrer com depressão do que os do grupo 1, e duas a quatro
vezes mais propensos se levado em conta os demais participantes. Por outro
lado, meninas do grupo 4 apresentavam quatro vezes mais chances de ter a doença
que as do primeiro grupo, mas não mais propensas a enfrentar o problema do que
as demais.
Com as amostras, os britânicos analisaram a
probabilidade de cada jovem desenvolver depressão clínica ou outros transtornos
psiquiátricos durante acompanhamento de 12 a 36 meses depois do início do
estudo. "É uma possibilidade frente a uma doença terrível que vai afetar
cerca de 10 milhões de pessoas no Reino Unido", avalia Goodyer.
Del Porto concorda com a perspectiva de
combate à doença dos pesquisadores e reforça a importância da descoberta.
"O mais interessante é que poderá ser possível identificar precocemente a
propensão à depressão em uma população de risco", ressalta o psiquiatra.
Para Mattos, a pesquisa oferece também a possibilidade de acabar com o
questionamento de diagnósticos psiquiátricos relacionados à depressão. "O
fato de os nossos diagnósticos serem feitos clinicamente ainda deixa as pessoas
muito inseguras. Todos querem exames que comprovem os resultados",
explica.
Comprovação Com o intuito de demonstrar que a
combinação de alto nível de cortisol e sintomas depressivos é um marcador para
depressão, os pesquisadores submeteram todos os participantes a um teste de
memória sobre episódios da vida. Tanto os meninos quanto as meninas do grupo 4
foram ruins em lembrar de memórias autobiográficas em mais de 30 exemplos de
situações. Quando ouviram a palavra piquenique, por exemplo, a maioria dos
adolescentes deu um relato detalhado sobre uma experiência vivida, sendo que os
do grupo 4 relataram menos detalhes. A dificuldade com lembranças
autobiográficas é um indício de depressão.
O câncer de mama e o senso comum (Luiz Antonio Santini)
Folha de SP
O tamanho do tumor é apenas um dos elementos
que determinam a sobrevida e a probabilidade de cura da paciente diagnosticada
"Câncer de mama: a chance de cura é de até 95% se a doença for
descoberta cedo." Será mesmo?
No Brasil, é improvável que alguém não tenha
lido ou ouvido a frase acima em uma das dezenas de campanhas sobre o câncer de
mama. Ela acabou por se transformar em senso comum. Neste texto, pretendemos
esclarecer alguns conceitos e apresentar à população os possíveis problemas de
se repetir, sem análise crítica, essa informação.
Cura significa a erradicação de todas as
células cancerígenas e que o câncer nunca mais retornará. Remissão significa
que os sinais e sintomas do câncer diminuíram ou desapareceram, mas não garante
que todas as células foram erradicadas.
No final do século 19, muitas pacientes com
câncer de mama apresentavam-se com doença avançada no diagnóstico. O tempo
médio de acompanhamento não superava o primeiro ano ou, no máximo, o quinto ano
após o tratamento. Ao fim do século 20, tornou-se prática realizar o seguimento
por períodos mais longos. Isso permitiu observar recidivas após cinco, dez ou 20
anos em mulheres antes consideradas curadas.
Países com registros de casos de câncer
dispõem de dados de sobrevida. Na Inglaterra, a sobrevida em um e cinco anos
para os cânceres de mama diagnosticados entre 2005 e 2009 é de 95,8% e 85,1%,
respectivamente. Os dados de mulheres cuja doença foi descoberta
"cedo" (estágio inicial) são diferentes. Nos Estados Unidos, entre
2003 e 2009, a sobrevida em cinco anos para tumores localizados foi 98,6%, para
tumores localmente avançados 84,4% e para tumores metastáticos 24,3%.
Além do estágio do tumor, outros fatores estão
relacionados com o prognóstico e a resposta ao tratamento, como o tipo de
câncer, seu grau histológico e suas características genéticas e biológicas,
mais a idade e as condições clínicas do paciente. Logo, o tamanho do tumor é
apenas um dos elementos que determinam a sobrevida e a probabilidade de cura.
A frase inicial deste artigo pode ser
considerada uma meia verdade, uma vez que não foram esclarecidas questões como
cura versus remissão, probabilidades (que dependem do contexto e da população
estudada) e o descobrimento precoce (uma entre outras variáveis que interferem
na sobrevida e na resposta ao tratamento).
A utilização de frases como essa em campanhas de incentivo à
mamografia, em especial para mulheres com 40 anos ou mais, pode transmitir a
falsa ideia de que todas as pacientes que fazem mamografia e descobrem um
câncer estarão curadas. Isso não corresponde à realidade, uma vez que algumas
mulheres que descobrem o câncer por meio de uma mamografia de rastreamento
morrem da doença e muitas que descobrem por meio de sinais e sintomas
permanecem vivas muitas décadas após o diagnóstico.
Vários pesquisadores acreditam que entre as
milhares de mulheres que permanecem sem doença após tratarem um câncer de mama
descoberto por uma mamografia de rastreamento (mulheres assintomáticas), menos
de 10% tiveram suas vidas salvas pelo exame. Cerca de 60% permaneceriam sem
evidência de doença caso fossem diagnosticadas aos primeiros sinais e sintomas
da doença e uma parcela considerável --cerca de 30%-- corresponderiam aos
cânceres de mama que jamais se tornariam clinicamente aparentes se não fosse
pela realização da mamografia de rastreamento ("overdiagnosis" em
inglês).
Todas essas questões fogem ao senso comum e,
por esse motivo, deveriam ser debatidas e publicizadas. A boa notícia é que os
veículos de comunicação de massa (mídia impressa principalmente) já começam a
dar sinais de abertura para essas questões.
LUIZ ANTONIO SANTINI, 67, é médico e diretor-geral do Inca (Instituto
Nacional de Câncer)
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