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quinta-feira, 18 de julho de 2013

Carta Aberta - VI ENAJVHA

 
VI ENCONTRO NACIONAL DE ADOLESCENTES E JOVENS VIVENDO COM HIV/AIDS

UM OLHAR FORA DO EIXO¹

No Período 10 a 13 de julho, realizou-se em Brasília/DF o VI Encontro Nacional de Adolescentes e Jovens vivendo com HIV/AIDS – ENAJVHA, evento que reuniu jovens soropositivos e convivendo² com HIV/AIDS de diversas partes do Brasil “para a interlocução, troca e avaliação de experiências entre jovens vivendo com HIV e AIDS”³. Também com o propósito de ser “um momento em que os jovens pudessem descobrir possibilidades de atuação frente aos desafios locais, conhecer e se articular com outros jovens e com as redes já existentes de luta contra a epidemia”4.

Entretanto, mais uma vez, a teoria não conseguiu ser posta em prática e um momento que poderia ser “com” foi somente “para”, na contramão tanto do objetivo do encontro, como da Carta de Princípios da RNAJVHA5.

Subsidiado por diversas formas de marketing e financiamento, a verticalização na construção do Encontro, centralizou as escolhas para a Comissão Organizadora, excluindo sistematicamente algumas pessoas, colocando-as à margem da história e da própria existência enquanto integrantes da RNAJVHA. Não havia uma resposta plausível que justificasse o motivo de deixarem de fora da organização, as referências da RNAJVHA no CONJUVE e na CNAIDS, além do representante amazônico (e que também não estava como delegado no Encontro até ser incluído mediante a sugestão no regimento interno). Assim como até hoje não se sabe o motivo dos amigos pessoais do ex-representante nacional assumirem funções que, conforme critério de filiação da Rede não os competia por serem adultos e convivendo.

Houve ausência de materiais preparatórios que pudessem, desde os meios virtuais até o presencial, oferecer elementos para a plenária “elaborar e incitar respostas, ações e políticas públicas contra os estigmas e impactos do HIV e AIDS”6. Além disso, ficou notório que as dinâmicas postas no e-group e grupo da Rede no facebook tenha surtido o efeito no Encontro Nacional. O acolhimento tinha virado o ópio da política e o cuidado tornou-se mais ameaça que bem-querer. Parei e fiquei observando o quanto fez-nos falta nas manhãs, aqueles momentos regado de poesia, música ou uma dança circular... O ditado popular “colocar o carro na frente dos bois” teve muito haver com o colocar um fórum de debate antes da mesa de abertura. Iniciar uma discussão sem boas-vindas? Sim! Seria um risco a integração!

No ato do credenciamento, o primeiro desconforto aos participantes: ter que assinar alguns recibos que foram entregues sem orientação alguma, mas quando questionados, disseram ser ora do UNICEF (ainda que o documento estivesse sem nenhuma logomarca desta agência), ora do Departamento Nacional de DST, Aids e Hepatites Virais. Interessante que ambos ao serem consultados, afirmaram desconhecer esta solicitação. Neste meio onde uma parte ficava assustada e sem uma resposta transparente que lhe desse a confiança, houve quem se aproveitou disso para descaracterizar pessoas, simplesmente por quererem saber algo legítimo e que lhes era de direito.

Fóruns foram reduzidos para priorizar a votação do regimento interno. Durante a leitura, um dos primeiros vetos estava na proposta do debate acerca da organização da RNAJVHA, demostrando certa indisposição para tratar do assunto. Desde então, notou-se que as possibilidades de diálogo estavam comprometidas por interesses ou presas por algo concedido. Havia uma sintonia entre @s que tinham sido indicad@s anteriormente a algum evento com os que votavam a favor de um grupo específico.

Não há como deixar de perceber a diferença entre as devolutivas dos representantes da CNAIDS e do CONJUVE, para a representação do nacional. Enquanto estes pautaram a partir da qualidade, o último tratou por números, como se estivéssemos fazendo prestação de contas governamentais. Não é do conhecimento coletivo no que as inúmeras participações em congressos, reuniões e outras atividades trouxeram de concreto para a Rede, assim como sobre a transparência dos recursos financeiros captados para o trabalho da RNAJVHA.

Tornou-se perceptível que muit@s presentes estivessem ali para uma estratégia não mais oculta há muito tempo: a escolha da nova representante da RNAJVHA. No grupo da RNAJVHA no facebook, alguns perfis contendo na imagem a hashtag #AgoraéEla7 já apontava o caráter eleitoreiro que nos esperava com adesivos e vídeos publicados na internet. Aliás, a própria eleição d@s nov@s representações fez parte de um processo que perpassou por grande parte dos Encontros Regionais, como o Amazônico que não teve muita coisa diferente desta edição do ENAJVHA. Seria inocência demais pensar que a devolutiva do ex-representante nacional finalizada com um vídeo entre ele e a atual, não tivesse nada haver com o que estava arquitetado.

“Faz escuro, mas eu canto8”. As palavras do poeta Thiago de Mello refletem sinais de esperança que em meio ao inverno brasilense, apresentava raios de sol. Não há dúvida na capacidade técnica e política de representantes do Ministério da Saúde e das agências da ONU, dentre outr@s parceir@s, assim como no compromisso destes/as no desenvolvimento integral de adolescentes e jovens, em especial, soropositiv@s. Cabe um agradecimento todo especial a estes/as facilitadores/as convidad@s para o evento, assim como d@s financiadores/as e de coordenações/programas estaduais e municipais de DST/AIDS que investiram mais uma vez na estrutura e deslocamento da maioria d@s presentes.

Questionava-se onde foi parar a missão e as prioridades norteadoras desta organização? E os objetivos, até que ponto foram referências? Parecia que não estávamos numa atividade de jovens, e tampouco da RNAJVHA. Querendo ou não, a juventude tem em si a inquietude pela mudança e isto moveu uma parte d@s participantes para uma ação em resposta ao que estava acontecendo. Então, outro caminho possível foi proposto entre o grupo que se opunha: não se resumir em espectador ou a eleições de representatividades cujo modelo fecha-se em si mesm@s, mas criar espaços de reflexão paralelos e que pudessem encaminhar coisas possíveis. Mais do que uma democracia representativa, buscavam uma democracia participativa, assim como aquela que motivou multidões há alguns dias atrás a saírem nas ruas.

Inicialmente, compartilhou-se um pouco da realidade de cada localidade. Não havia muito tempo, nem lugar “adequado”, mas tornamos os intervalos, oportunidades para o entrosamento e a troca de ideias e dos quartos nossos pontos de encontro. Permitíamo-nos escutar e compartilhar com @ outr@ nossas experiências e pontos de vista sobre uma determinada questão. Elaboramos uma carta à Comissão Organizadora e as parcerias deste evento para que pudéssemos explicar o motivo de nossa retirada do processo de votação. O documento foi lido compassadamente em plenária, finalizando com a saída de uma parte dos presentes no auditório. Deixamos o auditório e fomos a uma avaliação sobre este momento e a troca de ideias sobre como potencializar nossa atuação nas bases.

Propaga-se que nossa saída da eleição tenha sido motivada por percas de “cargo” ou medo. Não seria um tanto sem sentido entrar e sair “fugindo” da plenária, depois de ter feito várias reuniões para refletir e elencar os motivos reais de nossa retirada? Não teríamos deixado o encontro no momento em que a proposta para discutir a organização da Rede foi eliminada? Aliás, basta visitar o grupo da RNAJVHA no facebook para perceber qual o tipo de contribuições de algumas pessoas que permaneceram no auditório, para a grande maioria que se retirou. Observemos os perfis para perceber qual público estava somente pela parte e de quem estava afim de discutir o todo.

Concluímos o Encontro reafirmando nossas críticas pertinentes ao modelo pseudodemocrático com que a Rede vem se organizando nestes últimos anos e construindo forma que se afastam ainda mais da promoção da autonomia de jovens vivendo com HIV/AIDS nos Estados e municípios. Não nos desligamos da RNAJVHA por acreditarmos que este espaço também é nosso e que agora, mais do que nunca, a Rede precisa de nosso trabalho para retomar os trilhos do que inicialmente se propôs. E ainda que a nova representante nacional tenha sido eleita num contexto às avessas da Carta de Princípios, não nos fecharemos ao diálogo e possíveis parcerias, desde que pautado em valores, atitudes e comportamentos práticos.

O fato é que o sentimento de indignação que tomou conta das ruas, também envolveu divers@s participantes a lutar por algo muito maior que uma simples escolha de pessoas que poderão ou não representar o desejo deste coletivo. Ser comparados ou não a vândalos (mesmo não chegando a esse extremo), não é o problema. Aliás, a centralização de poder, da cooptação de pessoas e do aparelhamento da Rede para fins destoantes aos iniciais ainda permanecem enquanto principais problemas a serem combatidos dentro e fora desta Rede. É por este motivo que acreditamos ser pertinente continuar a se opor a esta forma de ativismo, ou resumido ao virtual, ora turístico.

Mais do que representatividades, defende-se uma democracia participativa, pautada na descentralização, transparência e horizontalidade. Entende-se também que a autonomia das bases e o protagonismo juvenil precisam ser de fato respeitados e reconhecidos na prática. Não estaremos fechad@s ao diálogo, por entender que este é uma importante ferramenta para se alcançar avanços possíveis e necessários, tanto para a RNAJVHA, quanto na articulação com outros grupos da sociedade civil e órgãos governamentais. Assim como não teremos nenhum problema em estabelecer possíveis parcerias, que colaborem para o desenvolvimento local, desde que sejam pautados por valores imprescindíveis para o fortalecimento desta Rede.

Como diria Betânia Ávila no VIII Fórum UNGASS AIDS – Brasil: “não há ativismo sem reflexão”. E esta avaliação crítica e fundamentada, não vem dissociada da ideia do bem viver, do bem conviver e do bem querer, mas se propõe justamente a despertar um cuidado sobre esta realidade silenciada, mas evidente. É numa época de mudanças, que buscamos outros caminhos possíveis, onde AMOR seja de fato o centro de todas as coisas!

1 Agradecimentos a Cleyton Aquino (PA), Diego Calisto (SP), Jeferson Fonseca (MG), Ozéias Cerqueira (SP), Rafaela Queiroz (RJ), Rodrigo Amorim (ES) e Welshe Shordok (MG) que estiveram durante o VI ENAJVHA e contribuíram para que este texto pudesse expressar verdadeiramente os fatos ocorridos, os sentimentos envolvidos e as perspectivas de uma Rede mais justa e solidária.
2 Pessoas negativas para o HIV, mas que tem alguma relação seja afetivo-sexual ou social com alguém soropositiv@ ou com a causa da Aids.
4 Idem.
5 Confira em: http://jovenspositivos.org.br/articles/weblinks/carta-de-principios (Acesso em 14 de julho de 2013).
6 Idem.
7 Arte utilizada em campanha: http://migre.me/fwJkJ (Acesso em 18 de julho de 2013).
8 Confira em: http://www.avozdapoesia.com.br/obras_ler.php?obra_id=12372&poeta_id=313 (Acesso em 18 de julho de 2013).



Eduardo da Amazônia Representante Estadual da RNAJVHA / Jovens + Pará Contato: eduardopaidegua@hotmail.com
 
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Atenciosamente,
 
Ralf Barros
Assistente Social - CRESS 5240
( 55 (27) 9907-9258 - VIVO
( 55 (27) 9247-3036 - TIM
+ ralf.barros@yahoo.com.br 
+ SKYPE: ralfbarros

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