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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

TUBERCULOSE NA MÍDIA #forumongaidsrj

A CARA OFICIAL DA TUBERCULOSE NA MÍDIA


Estudo mostra que jornais excluem voz dos pacientes e que fontes sobre a doença são governo e academia
Se o assunto é tuberculose, a voz do paciente, embora importante, é pouco ou nada contemplada pela mídia. Por reconhecer autoridade de fala no governo e no meio acadêmico, os jornais fazem chegar a seus leitores os pontos de vista médicos e oficiais, deixando de lado o olhar daqueles que vivem a doença. Quem são essas pessoas e como se organizam em seu dia a dia são questões não mostradas, como aponta estudo do pesquisador Liandro Lindner, voltado à análise da tuberculose na cobertura jornalística. O trabalho resultou na dissertação de mestrado Quem fala, o que fala e como fala: conceitos, percepções e representações de saúde e doença na mídia: o caso da tuberculose, defendida em setembro de 2011 no Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fiocruz (Icict/Fiocruz).
Durante o ano de 2009, Liandro analisou quatro jornais, dois do Rio de Janeiro — O Globo e Jornal do Brasil — e dois de São Paulo — Estadão e Folha —, localizando 677 matérias contendo citação do termo tuberculose. "Escolhemos os primeiros veículos em circulação no país, segundo informações do Instituto de Verificação de Circulação (IVC)", explica Liandro, acrescentando que os jornais do Rio de Janeiro foram escolhidos pelo fato de a cidade ter a maior taxa de incidência da doença."Fica claro o predomínio de fontes oficiais e a pouca identificação de outras vozes dominantes que possam cobrar ações dos governos na luta contra a tuberculose, sobretudo pacientes", constata o autor.
Nos jornais cariocas, é a voz dos pesquisadores que aparece mais, enquanto os jornais de São Paulo abordam na maior parte das matérias as questões institucionais, relacionadas ao governo ou a organismos internacionais. "Há uma invisibilidade do paciente e da questão da adesão ao tratamento, essencial para a cura", observa Liandro.

De acordo com o estudo, pesquisadores, centros de pesquisa e universidades são a principal fonte da imprensa na maioria das matérias. Em segundo lugar surgem os gestores, conforme mostra o gráfico.
Avaliação qualitativa
Da amostra pesquisada, foram analisadas em maior detalhe as cem matérias consideradas mais relevantes, ou seja, aquelas em que o termo tuberculose não aparecia como mera citação (listagem de agravos, diagnóstico ou causa mortis de determinada personalidade, por exemplo), mas que tratavam do tema. Na média, pelo menos uma matéria por mês sobre o assunto foi publicada em um dos jornais pesquisados. O Dia Mundial de Luta contra a Tuberculose — 24 de março — foi o período de maior densidade de notícias em que se mencionava a palavra.
Além da avaliação quantitativa dos tipos de fontes preferidas pelos jornalistas, Liandro buscou compreender o sentido e as estratégias das mensagens veiculadas. Utilizando-se dos referenciais teóricos da Análise do Discurso, avaliou qualitativamente as diversas vozes, contexto e silenciamentos surgidos em 19 textos jornalísticos, selecionados por conter a palavra tuberculose no título ou como chamada de capa (o que ocorreu em apenas dois casos). Nesse material, verificou que a escassez de vozes de pacientes comprova ausência de polifonia, qualidade do bom jornalismo.
A pesquisa constatou, ainda, que a imagem da doença aparece nos meios de comunicação em associação à aids ou sob o estigma das más condições de vida e habitação. “Já tivemos a fase do romantismo, a fase do quase esquecimento e a fase da doença de pobre”, resume Liandro.
Populações suscetíveis
As populações mais suscetíveis a desenvolver a doença são a indígena (incidência quatro vezes maior do que a média nacional), pessoas com HIV (30 vezes maior), presidiários (40 vezes) e moradores de rua (60 vezes). No entanto, elas praticamente não estão retratadas nas matérias analisadas. Na visão do jornalista, essa ausência da “cara da tuberculose” na mídia contribui para a ignorância em relação a antibioticoterapia realizada hoje. “A doença muitas vezes ainda é associada à morte e não há um conhecimento generalizado de que o tratamento é altamente eficaz. Uma das questões que devem ser trabalhadas é a da cura”, observa.
No Brasil, a tuberculose é a terceira causa de morte por doença infecciosa, de acordo com o Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde. Transformar a abordagem do tema na mídia é uma medida importante nesse cenário. “Seria um objetivo não apenas ideal, mas plenamente factível”, afirma o pesquisador em seu texto.

Leia a íntegra da pesquisa no site do RADIS:   http://www.ensp.fiocruz.br/radis/estudos-comunicacao-saude

• Acesse também: www.fundoglobaltb.org.br (Tuberculose > Depoimentos) e www.gaexpa-rj.webnode.com.br

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