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sábado, 14 de janeiro de 2012

O preconceito no armário @RUTHAquino #RevistaEpoca #colunista

RUTH DE AQUINO - 13/01/2012 22h03 - Atualizado em 13/01/2012 22h05
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O preconceito no armário

O preconceito fica guardado nas gavetas das coisas ditas e ouvidas. Até que sai de forma irracional

RUTH DE AQUINO




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RUTH DE AQUINO  é colunista de ÉPOCA raquino@edglobo.com.br (Foto: ÉPOCA)
Ele está ali no meio das roupas que vestimos a cada dia. Invisível, sem cheiro. É como se fosse uma caspa que só os outros enxergam. O preconceito fica guardado nas gavetas das coisas ditas e ouvidas, em casa, na escola, no trabalho. Escondemos, por vergonha. Ou, o que é pior, nos recusamos a reconhecer que ele existe. Até o momento em que o preconceito sai do armário de forma irracional.
Foi o que aconteceu na USP com um PM, o sargento André Ferreira. O sargento parecia uma pessoa normal, dialogando com universitários que ocupavam um espaço da universidade. Pedia que se retirassem dali. De repente, viu ao fundo um rapaz negro, com cabelo rasta, de tranças longas. O sargento se transformou num ogro. “E você aí, é estudante? Cadê a carteirinha?”, perguntou. O rapaz respondeu: “Sou. Dou a minha palavra”. Mas não mostrou documento.
O sargento se descontrolou: apontou a arma, puxou-o pelos cabelos e pela roupa, empurrou, agrediu e o enxotou. No fim, Nicolas Menezes Barreto tirou a carteira de estudante da USP do bolso. O vídeo (assista no blog Bombou na Web) é de uma brutalidade que atinge qualquer um que tenha noção de direitos humanos. A Polícia Militar afastou o sargento por despreparo e descontrole emocional.
Mas por que o rapaz negro não mostrou logo o documento que o policial branco exigiu? Insolente, não conhece o seu lugar. É o que muita gente boa diz por aí. Entendo a reação do estudante à atitude ofensiva do PM. Foi uma cena de preconceito racial explícito. O sargento não teria agido assim com um branco. Nicolas sabia disso. Deve ter sido a enésima vez em que enfrentou suspeita pela cor da pele.
Por muito menos, já me recusei a mostrar a carteira de jornalista. Cobri como repórter a temporada de Fórmula 1 em 1990. A cada corrida, eu era abordada por fiscais do autódromo nos bastidores. Os fiscais não pediam a credencial de meus colegas homens. No terceiro país em que isso se repetiu, eu estava acompanhada de um amigo sem a credencial adequada. O fiscal exigiu meu documento. Eu disse: “Não vou mostrar. Vá pedir ao Bernie Ecclestone (o homem forte da F-1)”. Era evidente que, só por eu ser mulher, eles desconfiavam que eu fosse uma maria gasolina da vida. Depois de um tempo, irrita. Esse e outros episódios me revelaram que eu trafegava muitas vezes numa pista masculina.
O preconceito fica guardado nas gavetas das coisas ditas e ouvidas. Até que sai de forma irracional 
Sou contra cotas sexuais ou raciais. O mérito determina uma promoção. Mas o último Censo do IBGE me surpreendeu. A educação deveria ter reduzido mais a desigualdade entre os sexos. A mulher tem hoje no Brasil dois anos de escolaridade a mais que o homem, mas ganha em média 30% menos que ele. E, quanto mais instruída é a mulher, maior a diferença entre seu salário e o do homem com a mesma escolaridade. Dos brasileiros que ganham acima de 20 salários mínimos, os homens são mais de 80%. Só um punhado de mulheres chega à direção e a cargos executivos. Existe ou não uma discriminação sutil no mundo que manda?
Os gays sofrem mais. O ator Marcelo Serrado não deseja que sua filha de 7 anos veja um beijo gay na novela das 21 horas. Ele faz o caricato Crô, um dos personagens mais populares de Fina estampa. Serrado acha que homossexuais só devem se beijar na televisão depois das 23 horas. Assassinatos, traições, prostituição, porradas do marido na mulher, isso tudo passa no horário nobre. “Detesto a homofobia, mas as barreiras devem ser quebradas aos poucos”, disse Serrado. “Tenho vários amigos gays, um foi jantar na minha casa na sexta-feira passada.”
Homossexuais influentes lastimaram a declaração de Serrado. “Ele tem o direito de educar sua filha como quiser”, diz Alexandre Vidal Porto, diplomata brasileiro, em Tóquio, com 46 anos e relacionamento estável há nove. “O que acho péssimo é o ator, mesmo não querendo que a filha presencie um beijo gay, declarar que não é homofóbico. Parece aquela senhora que diz não ser racista, mas preferiria que a filha não se casasse com um negro. Ou seja, Marcelo Serrado é um homofóbico no armário. Precisa sair dele.” Vidal Porto é casado em Nova York e seu marido, americano, tem passaporte diplomático e seguro de saúde concedidos pelo Itamaraty: “Como sabemos nos defender – ele é advogado por Yale, e eu por Harvard –, é difícil nos discriminar”.
O beijo é uma manifestação de afeto. Se os telejornais mostram casais gays reais se beijando em casamentos coletivos, por que na ficção a cena seria imprópria a crianças e adolescentes?
Em 1978, o deputado Harvey Milk foi morto por defender os homossexuais. Dez anos antes, em 1968, o Nobel da Paz Martin Luther King foi morto por defender os negros. Há quase um século, em 1913, a inglesa Emily Wilding Davison morreu ao defender o voto das mulheres. O mundo mudou, felizmente. Mas não o bastante.





Minha nota sobre Isso!!
Muitas são as histórias de preconceito,seja em qualquer sentido denominado por essa expressão, ocorrem comigo, desde a minha infância, quando me recusei a participar das festas de confraternização do colégio, já me qualificaram insociavel, (Não adepto aos costumes da sociedade) recentemente ao ir a um supermercado qualquer, acompanhado de meu irmão (ex caso) na fila ao ouvir minha voz, uma mulher falou para alguem" Essa Coca É Fanta", Não me contive e Respondi: "Não sou Grapete! Só que esse refrigerante explode!", ela tentou se explicar mais a cada explicaçãoque dava mais eu enfatizava a atitude errada dela.
P.S. Cito esses refrigarantes apenas como defesa, não afirmo que algum deles exploda.
http://ativismocontraaidstb.blogspot.com





Últimos comentários
No site Oglobo/RevistaÉpoca
* Maria Teresa

O preconceito não vai acabar, mas podemos praticar a tolerância e as boas maneiras... Essa coisa de achar que um casal gay não pode se beijar em público é um absurdo. Qualquer casal hetero em público pode trocar carinho, andar de mãos dadas, por quê um casal gay não? Qualquer casal se agarrando desesperadamente, como se a qualquer momento fossem tirar a roupa e ir às vias de fato constrange quem está do lado, é uma questão de educação, não de orientação sexual. E falando de racismo, sou baiana e fui criada para valorizar as pessoas pelo caráter e mérito, mas ao mesmo tempo que acredito não ter preconceito racial me pego em várias armadilhas racistas: com medo de jovens negros na rua (já fui assaltada 4 vezes, e na minha terra ladrão quase sempre é pobre e negro). Já confundi cliente com motorista... já usei termos pejorativos como "nigrinha", já achei que um filho negro de mãe branca era adotado, e por aí vai. A gente combate, mas como disse a autora, eles afloram quando a gente menos espera.
* Walquiria Faria

O problema é que ultimamente tudo tem sido chamado de "preconceito". Não se pode emitir uma opinião, sem que todos fiquem procurando o "preconceito" nela. Eu posso opinar que não gosto da cor preta para roupas, assim como não gosto do homem preto para ser meu parceiro. É apenas um gosto pessoal.
* Maria Teresa

Já coloquei este comentário aqui, espero estar viva quando a cor da pele, opção religiosa e orientação sexual de uma pessoa seja tão importante quanto a cor de seus olhos e o seu jeito de ser. Apenas uma característica individual. Mas sou pessimista e sem ilusões. Nunca nos livraremos do preconceito. Não sou psicóloga, mas temos "medo" do diferente. O diferente nos ameaça, agride os valores que fomos aceitando desde crianças. Talvez o "diferente" também nos ameace por que pode ser melhor do que o que somos, e não queremos aceitar isso... E se dermos uma olhada pelo mundo... a gente vê preconceito em todo lugar: francês odeia árabe, alemão odeia turco, eu desconfio de evangélicos, políticos e advogados e detesto pagodeiros, axezeiros e arrocheiros...

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