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sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Massacre na Barbearia do Senhor

Massacre na Barbearia do Senhor

Dentro do Caveirão, Alessandro ‘Chorão’ levou um tiro na cabeça e sobreviveu.

http://www.jornalja.com.br/2011/10/03/policia-do-rio-mata-mil-por-ano/comment-page-1/#comment-12544
O frentista Paulo Cardoso Batalha, 43 anos, saiu do trabalho, buscou o filho Gabriel na creche e o levou ao barbeiro Chorão, em Nova Holanda, Complexo da Maré. Era véspera de dia dos namorados e ele não queria deixar esse tipo de tarefa para o final de semana. O menino de cinco anos ficou no colo do pai, que por medo evitava as ruas da favela à noite. Policiais do 22º Batalhão estavam de tocaia na laje em frente ao local. Quando anoiteceu, abriram fogo contra todos na barbearia.
Paulo Batalha tomou um tiro nas costas; Gabriel, ainda no seu colo, foi alvejado na mão. Deividson, deficiente auditivo, também foi baleado. Outras duas pessoas que estavam fora do recinto, Rodson Soares Gomes (22) e Gilberto dos Santos (35) foram atingidos, mas os vizinhos conseguiram socorrê-los. Os policiais mandaram o barbeiro e o frentista entrarem no Caveirão. “Somos trabalhadores”, respondeu Paulo. Sem sucesso, ele ainda entregou um cordão com a foto de Gabriel para a vizinha que socorreu o filho. Moradores viram Chorão entrar mancando no carro blindado.
Alessandro de Oliveira Nascimento, Chorão para a comunidade, trabalhava sozinho na pequena peça alugada na esquina entre as ruas Bittencourt Sampaio e Santa Rita. Estava com 26 anos. O estabelecimento foi registrado no Sindicato dos Comerciários do Rio como Barbearia do Senhor. Lá só tocava música evangélica. Com frequência os clientes pediam para Chorão colocar um funk, mas nunca eram atendidos.

Barbearia onde tocaia de PMs deixou dois mortos e quatro feridos.
Naquele 11 de junho de 2010, a rua estava calma, não havia traficantes ali devido a uma operação policial que ocorrera pela manhã. O primo do barbeiro, Deividson Evangelista Pacheco (19), aguardava para fazer a barba. O rapaz era surdo desde os cinco anos, sequela de uma meningite. Trabalhava em um lava-jato e estudava na Escola Municipal Yuri Gagarin.
Do outro lado da rua Bittencourt Sampaio, os policiais esperavam com ansiedade o anoitecer. Eles comemoravam a prisão do traficante que atuava naquele ponto. Pela manhã, quando a viatura deixou a favela, quatro PMs ficaram de tocaia na laje. Eles estavam com o produto do criminoso nas mãos: cocaína, maconha e crack. Assim que o sol caiu no Complexo da Maré, começou o massacre.
A namorada do barbeiro, Luciane Saldanha (32), estava cruzando a Passarela 10 da Avenida Brasil quando uma amiga ligou e perguntou onde ela estava. A intenção era impedi-la de passar em frente à barbearia, o que não aconteceu. Quando Luciane viu o movimento em frente ao local, o sangue pelo chão, correu para saber o que havia acontecido. A sogra, dona Sandra, foi quem a acalmou. “Ele só tomou um tiro no pé, já está no hospital. Está tudo bem”.
Luciana pegou um moto-táxi e foi direto para o Hospital Geral de Bonsucesso. Chegou antes dos policiais e das vítimas. Ao invés de prestar socorro imediato, os PMs levaram os feridos à delegacia, onde fizeram em exatos 20 minutos o Registro de Ocorrência. Segundo o documento, os policiais receberam denúncia de que traficantes de uma facção rival invadiriam a comunidade, e para lá se deslocaram, sendo necessário utilizar o Caveirão. A dinâmica do fato narra que a guarnição foi recebida a tiros, precisando efetuar alguns disparos “como forma de revide à injusta agressão”:
“…conforme o blindado ia progredindo em direção ao interior da comunidade, notou a presença de alguns corpos deitados ao longo da via, inclusive diversas pessoas pedindo socorro. Que naquela ocasião obteve sucesso em resgatar três elementos supostamente baleados”.

Luciane largou o emprego para cuidar do namorado que conhecera há apenas seis meses.
O RO também informa que foram arrecadadas, junto aos corpos, duas pistolas e um revólver calibre .38, além de diversos sacos contendo “erva seca picada”, pó branco, e pequenas pedras embaladas em papel alumínio, “bem como determinada quantia em espécie”. Os policiais Cláudio da Silva Lopes e Alex Borges Teixeira aparecem como testemunhas no RO.
Eles chegaram ao hospital informando às enfermeiras que os três feridos eram bandidos. Por esse motivo, os parentes das vítimas não puderam vê-las. Desesperada, Luciane invadiu o CTI e encontrou os cadáveres de Paulo e Deividson. “Onde está Alessandro?” implorou. O chefe de enfermagem a levou até o quarto onde Chorão estava. Havia tomado um tiro na cabeça e respirava com aparelhos.
O barbeiro perdeu um pedaço do crânio e ficou 76 dias internado no CTI. Há pouco abandonou a cadeira de rodas. Hoje frequenta sessões semanais de fisioterapia e fonoaudiologia, está reaprendendo a andar e a falar. “Os médicos diziam que ele nunca mais ia voltar a andar, mas todos estão se surpreendendo com a evolução dele”, comemora Luciane. Ela teve que deixar o emprego de copeira para cuidar do namorado que conhecera há seis meses. “A alegria dele em estar vivo ajuda a acelerar a recuperação” diz Luciane. O casal não recebe nenhum tipo de auxílio por parte do Governo.


http://www.jornalja.com.br/2011/10/03/policia-do-rio-mata-mil-por-ano/comment-page-1/#comment-12544

Um comentário:

  1. Grazi Bastos
    vamos fazer a corrente do bem
    Este ano houve o Conselho de Roma para Acelerar a Cura do HIV. Os melhores especialista do mundo na pesquisa da doença disponibilizaram um abaixo assinado on line para pressionar os Estados a investirem mais na busca da cura da doença.
    Não sejam indiferentes é uma luta que interessa a toda humanidade, segue o link não é virus
    http://www.iasociety.org/Default.aspx?pageId=583

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