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domingo, 12 de junho de 2011

É da criança que se trata! _- Conselho Tutelar - Eleições 2011 -


É da criança que se trata!

Na calada da noite, sem que ninguém visse ou tivesse notícias, as eleições 
para o Conselho Tutelar do Rio de Janeiro teve o seu desfecho com os mesmos 
ares de clandestinidade que permeou todo o processo nos últimos trinta dias. 
Cinco de junho - um domingo quase ensolarado de uma cidade maravilhosa e 
alienada dos seus destinos - tornou-se para mim inesquecível.

Em um canto de um salão imenso, depois de um dia de trabalho inútil e 
exaustivo, presenciei gritos de vitória alimentados por comentários 
irreproduzíveis. O desfilar dos números, exibidos em um painel manchado por 
práticas francamente indecorosas, parecia atender a expectativa da maioria. 
Por não haver feito uso dos habituais artifícios - como compra de votos e 
transporte de eleitores ao seu destino - perdi, além de ver meus votos 
misteriosamente subtraídos. Trinta e três votos, como a idade de Cristo.

Ouço dos amigos a advertência atrasada: mas você já sabia que seria assim, 
não devia ficar surpresa agora! O momento da surpresa nem sempre é tão 
nítido, ele surge muitas vezes a posteriori. Surpreendi-me no início da 
campanha, ao ver as faixas da candidata cobrindo todo o espaço por onde eu 
caminhava, repassando na memória a semana anterior, em que eu ainda tentava 
entender "o que podia e o que não podia", sem obter do outro lado a resposta 
definitiva. A lei diz que não - era a orientação que eu ouvira - mas se 
ninguém descobrir ou denunciar, ninguém poderá impedir.

Eu ainda achava que podia fazer alguma coisa. O corpo a corpo era cansativo, 
as pessoas não sabiam do que se tratava e a imprensa não divulgava um pleito 
tão decisivo, apesar das minhas insistentes tentativas. Usei a internet como 
mídia alternativa, dedicando parte do meu tempo e talento para prestar 
inestimáveis serviços de esclarecimento à população, obtendo retornos 
expressivos. Pra que serve o Conselho Tutelar? Era o que eu tinha que 
responder a cada nova abordagem, entregando cinco mil panfletos com muito 
compromisso e seriedade, apostando no processo democrático ao qual fui 
submetida.

O processo democrático, representado por órgãos sérios e reconhecidos, se 
viu capturado por velhos e corrompidos vícios. Foi aos poucos que eu me dei 
conta da onda gigantesca que o destruiria em poucas horas do último dia. 
Urnas marcadas para as nove manhã que só chegaram mais tarde, muitas sem 
funcionar, telefonemas de vários lugares dando notícias de constantes 
irregularidades, no posto de votação uma kombi parada com movimentação 
suspeita e mais tarde o número expressivo de votos numa mesma urna para um 
único candidato. Bastava saber somar para em cinco minutos decifrar toda a 
lógica perversa que em torno desse pleito se estendia.

Para que serve o Conselho Tutelar? Eu me perguntava ao longo do dia. Diante 
de um jogo de forças capaz de transformar o direito da criança e do 
adolescente em um pretexto pra suspeitas trocas, me vi diante de mais uma 
batalhava perdida. Frente a naturalização dos fatos - "político é tudo 
igual, todo mundo faz, é tudo a mesma porcaria" - tomo a indignação não como 
um recurso natural, mas obrigatoriamente constitutivo. Como uma criança 
ingênua e teimosa, volto pra casa e decido que a luta não está perdida. Se é 
de criança que se trata, aprenderei com elas a não desistir.

http://www.youtube.com/watch?v=_yVzCsKQaIE


Eliane Martins, psicanalista e candidata ao Conselho Tutelar pela Zona Sul 
do Rio de Janeiro

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