É da criança que se trata! Na calada da noite, sem que ninguém visse ou tivesse notícias, as eleições para o Conselho Tutelar do Rio de Janeiro teve o seu desfecho com os mesmos ares de clandestinidade que permeou todo o processo nos últimos trinta dias. Cinco de junho - um domingo quase ensolarado de uma cidade maravilhosa e alienada dos seus destinos - tornou-se para mim inesquecível. Em um canto de um salão imenso, depois de um dia de trabalho inútil e exaustivo, presenciei gritos de vitória alimentados por comentários irreproduzíveis. O desfilar dos números, exibidos em um painel manchado por práticas francamente indecorosas, parecia atender a expectativa da maioria. Por não haver feito uso dos habituais artifícios - como compra de votos e transporte de eleitores ao seu destino - perdi, além de ver meus votos misteriosamente subtraídos. Trinta e três votos, como a idade de Cristo. Ouço dos amigos a advertência atrasada: mas você já sabia que seria assim, não devia ficar surpresa agora! O momento da surpresa nem sempre é tão nítido, ele surge muitas vezes a posteriori. Surpreendi-me no início da campanha, ao ver as faixas da candidata cobrindo todo o espaço por onde eu caminhava, repassando na memória a semana anterior, em que eu ainda tentava entender "o que podia e o que não podia", sem obter do outro lado a resposta definitiva. A lei diz que não - era a orientação que eu ouvira - mas se ninguém descobrir ou denunciar, ninguém poderá impedir. Eu ainda achava que podia fazer alguma coisa. O corpo a corpo era cansativo, as pessoas não sabiam do que se tratava e a imprensa não divulgava um pleito tão decisivo, apesar das minhas insistentes tentativas. Usei a internet como mídia alternativa, dedicando parte do meu tempo e talento para prestar inestimáveis serviços de esclarecimento à população, obtendo retornos expressivos. Pra que serve o Conselho Tutelar? Era o que eu tinha que responder a cada nova abordagem, entregando cinco mil panfletos com muito compromisso e seriedade, apostando no processo democrático ao qual fui submetida. O processo democrático, representado por órgãos sérios e reconhecidos, se viu capturado por velhos e corrompidos vícios. Foi aos poucos que eu me dei conta da onda gigantesca que o destruiria em poucas horas do último dia. Urnas marcadas para as nove manhã que só chegaram mais tarde, muitas sem funcionar, telefonemas de vários lugares dando notícias de constantes irregularidades, no posto de votação uma kombi parada com movimentação suspeita e mais tarde o número expressivo de votos numa mesma urna para um único candidato. Bastava saber somar para em cinco minutos decifrar toda a lógica perversa que em torno desse pleito se estendia. Para que serve o Conselho Tutelar? Eu me perguntava ao longo do dia. Diante de um jogo de forças capaz de transformar o direito da criança e do adolescente em um pretexto pra suspeitas trocas, me vi diante de mais uma batalhava perdida. Frente a naturalização dos fatos - "político é tudo igual, todo mundo faz, é tudo a mesma porcaria" - tomo a indignação não como um recurso natural, mas obrigatoriamente constitutivo. Como uma criança ingênua e teimosa, volto pra casa e decido que a luta não está perdida. Se é de criança que se trata, aprenderei com elas a não desistir. http://www.youtube.com/watch?v=_yVzCsKQaIE Eliane Martins, psicanalista e candidata ao Conselho Tutelar pela Zona Sul do Rio de Janeiro
Notícias e comentários sobre combate,HIV AIDS TB. Novidades sobre temas referentes ao ativismo social e político, política, políticas públicas e ações de prevenção.Incrementando o Ativismo,e despertando solidariedade. Minha intenção é promover o debate em torno da prevenção. Criando formas de combate e troca de experiências entre familiares e pessoas vivendo ou convivendo com este tema.
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