Segue divulgação dos resultados da pesquisa quantitativa de opinião pública realizada pelo Projeto Fundo Global Tuberculose Brasil, em conjunto com o Núcleo de Pesquisas da Universidade Federal Fluminense (DataUFF.
Comentário:
Os dados da pesquisa confirmam o que em tese já se sabia, que a a falta de informação é ainda um dos principais desafios enfrentados para o controle da tuberculose e que o baixo nível de informação e os diversos mitos sobre a doença no imaginário da população geram um forte estigma e reforçam atitudes de discriminação e a segregação dos pacientes.
Os dados também sugerem que conhecer alguém que teve ou tem tuberculose é mais freqüente na população em posição socioeconômica mais desfavorável e de maior vulnerabilidade social, o que ratifica a necessidade de uma ampla intervenção junto aos determinantes sociais e econômicos relacionados às doenças identificadas com a pobreza como a tuberculose e um reforço no orçamento da saúde, já que "O nosso gasto público é muito baixo para uma cobertura universal e integral", diz o especialista do IPEA, Sérgio Piola
Leia: os indicadores de saúde seguem descolados do volume de gastos do orçamento público.
Em uma possível segunda fase da pesquisa , também se deveria avaliar o conhecimento dos profissionais da saúde; já que uma pesquisa aplicada pelo Conselho Federal de Medicina, apresentada no Programa Fantástico/Rede Globo de Televisão, constatou que 70% dos médicos entrevistados do setor público e privado não foram capazes de citar três sintomas associados à manifestação clinica da tuberculose. Fato que nos faz pensar qual é o papel das Universidades e órgãos formadores em geral no processo de formação de Recursos Humanos para a saúde e na necessidade de adequar a formação profissional a humanização do SUS.
Carlos Basilia
Observatório Tuberculose Brasil
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24.05.2010
Falta de informação ainda é o maior desafio
Projeto Fundo Global TB - Brasil
Pesquisa inédita avalia conhecimento da população sobre a tuberculose
Uma pesquisa quantitativa de opinião pública realizada pelo Núcleo de Pesquisas da Universidade Federal Fluminense (DataUFF) demonstra que 51% da população afirma ter conhecimento sobre os diferentes aspectos da tuberculose. Apesar disso e de ser uma doença antiga considerada emergência global pela Organização Mundial de Saúde (OMS) desde 1993, a falta de informação é ainda um dos principais desafios enfrentados para o seu controle. Hoje, o Brasil é o 18º país com maior número de casos de tuberculose no mundo: 80.000 novos casos por ano.
O estudo inédito foi encomendado e coordenado pelo Projeto Fundo Global TB – Brasil, administrado pela Fiotec/Fiocruz, para contribuir com o avanço das políticas públicas de saúde voltadas para o controle da tuberculose. Segundo coordenadora do projeto, Cristina Boaretto, a motivação foi identificar e avaliar o nível de conhecimento da população brasileira sobre a tuberculose para subsidiar, com respaldo empírico, a discussão e o desenvolvimento de estratégias mais efetivas que promovam avanços no controle da doença.
A coleta de dados foi realizada entre os dias 18 de janeiro e 11 de fevereiro deste ano, com 3.369 brasileiros maiores de 16 anos residentes em 53 municípios brasileiros, de pequeno, médio e grande porte, incluindo as 26 capitais e o Distrito Federal. O trabalho envolveu cerca de 150 profissionais coordenados pelo DataUFF em todo o território nacional.
Conhecimento sobre tuberculose
Foram abordados diferentes aspectos da doença: prevenção, sintomas, formas de transmissão, tratamento, cura, preconceito e estigma. Apesar do elevado percentual dos entrevistados declararem não saber nada sobre a doença (49,0%), os dados permitem afirmar que o brasileiro, quando questionado diretamente sobre características da doença, tem noção que a tuberculose é uma doença transmissível e pode ser prevenida, que toda a população é suscetível, e que tem tratamento e cura.
Entre os entrevistados, 81,3 % informaram que a tuberculose é transmissível, por meio da tosse (37,4%) e 71,8% disseram que conhecem os sintomas da doença. Ao serem perguntados espontaneamente quais seriam os sintomas (média de duas respostas por pessoa), 87,1% responderam “tosse”, 44,2% responderam “febre”, 34,1% responderam “escarro com sangue”.
A pesquisa mostrou também que 34,0% dos entrevistados conhecem alguém que teve ou tem tuberculose. Esse grupo é composto por 67,3% de pessoas com idade entre 25 e 59 anos; 75,4% têm até o 1º grau completo e 68,8% têm renda familiar de até quatro salários mínimos.
Para a coordenadora adjunta da pesquisa pelo DataUFF, Salete Da Dalt, os dados sugerem que conhecer alguém que teve ou tem tuberculose é mais freqüente na população em posição socioeconômica mais desfavorável, de maior vulnerabilidade social.
Ainda de acordo com as respostas deste grupo, a proporção de pessoas que concluiu o tratamento é de 81,3%. O tratamento foi interrompido por 18,7% das pessoas conhecidas, sendo que 40,4% das interrupções foram atribuídas à morte dos doentes. Responderam que a tuberculose tem cura 87,9% dos entrevistados deste grupo.
Estigma e preconceito
A pesquisa confirma a carga de preconceito e estigma que ainda envolve o imaginário popular em relação à doença; 56,4% das respostas propõem o isolamento das pessoas doentes, quer por seu isolamento físico quer evitando compartilhar objetos de uso comum.
Quando perguntados sobre o que é necessário fazer para que uma pessoa com tuberculose não transmita a doença, os resultados reforçam que ainda há muito estigma como pode ser observado na tabela abaixo. Cada pessoa forneceu, em média, 2 respostas. Considerando o total de respostas (7.426), os maiores percentuais estão concentrados em “evitar o uso de objetos utilizados pela pessoa doente” e “e evitar contato físico com a pessoa doente”, 17,2% e 11,7% das respostas respectivamente.
Mesmo no grupo dos 34,0% de entrevistados que conhecem alguém que teve ou tem tuberculose, que em tese tiveram maior oportunidade de conhecer a doença, o preconceito também pode ser demonstrado. Na tabela abaixo podemos observar que a reação das pessoas em relação a quem teve tuberculose denota o estigma. Embora 27,2% dos entrevistados tenham respondido que nada mudou em relação às atitudes com a pessoa com o diagnóstico de tuberculose, a proporção daqueles que se afastaram e evitaram qualquer contato (29,9%) foi grande, aumentando quando somado com aqueles que dizem que separaram os utensílios utilizados pelo doente para fazer refeições (34,3%).
Vacina
A pesquisa também abordou outros indicadores de conhecimento relacionados à doença, como a vacina BCG. Apenas 47,1% dos entrevistados responderam que existe vacina contra a tuberculose.
Quando questionados sobre a finalidade da vacina, as respostas reforçam o desconhecimento ou a falta de informação sobre este tema. Apenas 3,2% indicaram a função de proteção contra as formas graves da doença.
Diagnóstico
O serviço público foi a opção de escolha de encaminhamento (79,7%) para o atendimento de uma pessoa com suspeita de tuberculose.
Poucos entrevistados relatam conhecer os exames feitos para o diagnóstico da tuberculose: apenas 36,6% disseram saber quais são estes. Por outro lado, dentre os que afirmaram conhecer os exames, boa parte realmente sabe que a tuberculose é uma doença que atinge o pulmão. A radiografia do pulmão foi muito mencionada, assim como o exame de escarro, embora em proporção muito menor.
Tratamento
É bastante alto o percentual de pessoas que afirmaram não conhecer a forma de tratamento contra a tuberculose (74,5%) e 52,6% consideram que para fazer o tratamento é necessário internar o doente.
O estigma da tuberculose e a preocupação dos entrevistados em isolar o doente mais uma vez aparecem nas respostas que indicam a necessidade de internação para tratamento da doença.
Quando perguntadas sobre a duração do tratamento, 42,0 % sabiam que dura 6 meses; no entanto 29,9% desconhecem a sua duração.
Com relação ao tempo de tratamento necessário para diminuir o risco de transmissão da doença, 40,4% não sabiam responder. Apenas 2,7% informaram corretamente o tempo de 15 dias.
Relação com o SUS
Para o coordenadora do Projeto Fundo Global, Cristina Boaretto, esta é outra informação relevante para o planejamento de ações e estratégias na área: deve-se levar em consideração que a maior parte da população busca atendimento nos serviços públicos de saúde. “Precisamos incrementar as ações que envolvam toda a atenção básica, que é a porta de entrada ao SUS. É fundamental envolver e capacitar as equipes que atuam tanto nos postos de saúde quanto no Programa Saúde da Família para ampliar o tratamento supervisionado (estratégia DOTS – Directly Observed Treatment Shor-course) e difundir informação que promova o controle social da tuberculose”, sugere.
O gráfico abaixo apresenta a distribuição das pessoas que afirmam utilizar os postos de saúde segundo a sua escolaridade. A proporção de pessoas usuárias com baixa escolaridade é grande: 80,7% s tem escolaridade até primeiro grau completo.
Entre os entrevistados, 41,6% consideram os serviços de saúde pública utilizados como ótimos ou bons e 23,7% como ruins ou péssimos. O percentual é expressivo uma vez que para uma grande maioria são esses os serviços utilizados, referência para resolução dos problemas de saúde.
Foi possível verificar que 59,0% dos entrevistados procuraram atendimento nos últimos seis meses anteriores a realização da pesquisa e 90,3% nos últimos dois anos, ou seja, o percentual de pessoas que demandaram os serviços de saúde é alto.
Na última vez que procuraram os serviços de saúde, 61,2% procurou um posto de saúde e 32,9% procuraram um hospital público.
Perfil socioeconômico dos entrevistados
A pesquisa entrevistou homens (49,9%) e mulheres (50,1%) seguindo-se a distribuição etária brasileira apurada no último Censo, realizado no ano 2000. Como explica Salete Da Dalt, do DataUFF, o grau de escolaridade também foi fixado metodologicamente.
Na maioria dos domicílios a renda familiar é de até cinco salários mínimos: destes 9,5% tem renda de apenas um salário, 29,0% entre dois e três e apenas 18,0% de três a cinco salários. Para a renda familiar contribuem até dois moradores em 78,7% dos domicílios. A grande maioria das famílias mora em casa própria (70,5%), e apenas 22,2% dos entrevistados arcam com aluguel.
Em 69,4% dos domicílios o número de moradores é de até quatro pessoas. Chama a atenção o número de pessoas vivendo em dois (10,8%) e três cômodos (15,3%), o que soma 26,1%. Outros 42,7% vivem em quatro (22,4%) ou cinco (20,2%) cômodos e apenas 13,9% das casas possuem mais de seis compartimentos. Apenas 70,4% dos domicílios possuem esgoto ligado à rede pública, 83,2% tem abastecimento de água da rede pública com relógio e 12,1 sem relógio.
O resultado completo será apresentado no IV Encontro Nacional de Tuberculose
O Projeto Fundo Global Tuberculose Brasil
O Fundo Global apóia o Governo Brasileiro no controle da doença desde 2007, com um aporte de recursos da ordem de US$ 27 milhões até 2012. O Projeto é desenvolvido numa parceria do governo com a sociedade civil. São apoiadas atividades e ações que contribuam para a melhoria da cobertura do tratamento supervisionado (estratégia DOTS) e a conseqüente redução de incidência, prevalência e mortalidade da tuberculose. O objetivo é alcançar as metas definidas para o Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT), do Ministério da Saúde:
1) Ampliar a cobertura da estratégia DOTS;
2) Reduzir, até 2015, a prevalência e a morte causada por tuberculose em 50% em relação a 1990;
3) Eliminar, até 2050, a tuberculose como um problema de saúde pública, limitando-a a um caso por milhão de habitantes.
Atualmente, o projeto abrange 57 municípios das regiões metropolitanas de Belém, São Luís, Fortaleza, Recife, Salvador, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo, Baixada Santista e Porto Alegre e o Município de Manaus, áreas que concentram 45% dos casos de tuberculose no Brasil.
Mais informações:
Projeto Fundo Global Tuberculose Brasil
Av. Almirante Barroso, 54 / 15º andar - Rio de Janeiro - RJ – CEP 20.031-000.
Tel: (21) 3122-4412
Na internet: www.fundoglobaltb. org.br
E-mail: contato@fundoglobal tb.org.br
Alexandre Milagres (Fundação Ataulpho de Paiva) - (21) 2544.6795
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