Átila Nunes
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi rápido ao visitar o Chile para prestar solidariedade às vítimas após o terremoto e o tsunami que atingiram aquele país. Aqui, em território brasileiro, durante episódios dramáticos, não foi sequer lerdo. Foi omisso. Ignorou cada acontecimento que enlutou as famílias brasileiras.
Foi assim em 2008, quando os catarinenses sofreram na pele os efeitos de enchentes sucessivas que causaram centenas de mortes e deixaram mais de 50 mil pessoas sem casa
O presidente Lula repetiu George Bush, quando este demorou quase uma semana para se pronunciar sobre o Katrina que liquidou com Nova Orleans. Nosso presidente só apareceu em Santa Catarina uma semana depois, e assim mesmo, através de um rápido sobrevoo de helicóptero
Em maio do ano passado, foi a vez do Piauí e Maranhão, quando as chuvas deixaram mais de sete mil famílias desabrigadas. Mais uma vez, o presidente não apareceu para dar solidariedade às famílias que perderam o pouco que tinham.
Nos dois acidentes aéreos que enlutaram o Brasil, o presidente também não marcou sua presença, nem ao menos visitou as famílias das vítimas. Em 2006, um Boeing da Gol colidiu com um jatinho, resultando na morte de 154 passageiros. No ano seguinte, foi a vez de um avião da TAM, que se espatifou no Aeroporto de Congonhas, vitimando 199 passageiros.
Nenhuma visita. Nem ao local, nem às famílias. Nem um só pronunciamento imediato, solidário. Nada. No caso da TAM, aguardou um mês para receber as famílias das vítimas. Um mês!
Na entrada do ano de 2010, um temporal causou 52 mortes e a destruição de casas em Angra dos Reis. A notícia da catástrofe correu o mundo. E mais uma vez, o presidente Lula não mostrou solidariedade. Nada. Mais uma vez.
Enquanto isso, quase nessa mesma época, uma tempestade na França matou pouco mais de 40 habitantes. O governo francês considerou o episódio como “desastre nacional" e o presidente Nicolas Sarkozy visitou imediatamente as regiões afetadas.
Agora, foi a vez do Estado do Rio de Janeiro. No primeiro dia do temporal, Lula estava no Rio para inaugurar um posto de saúde, solenidade cancelada por causa das chuvas. Pegou então, o Boeing da Presidência da República, e decolou do Rio, deixando para trás a visão do caos.
As chuvas continuaram, entretanto. Depois de quase uma semana de desabamentos, alagamentos, destruição, mais de 200 mortes, centenas de feridos, milhares de desabrigados, o presidente ainda assim não apareceu. Mais uma vez, nada de solidariedade por parte da maior autoridade do país.
A única declaração – e ainda assim irritada – foi a tentativa de negar uma constatação do Tribunal de Contas da União de que enquanto a Bahia recebera mais de 30% das verbas para combate às enchentes, o Estado do Rio de Janeiro recebera menos de um por cento (mais precisamente, 0,9%).
A visita de presidentes da República nos cenários das grandes tragédias de seus países, assim como prestar solidariedade aos familiares enlutados, fazem parte de uma norma, quase que um ritual obrigatório em todo o mundo. Se não por um sentimento verdadeiro de dor, pelo menos pela necessidade de sinalizar de que o governo está presente, impedindo a sensação de abandono num momento de desespero coletivo.
Afinal, a presença da maior autoridade do país nesses momentos, passa não apenas a percepção de o governo está atento e preocupado, mas passa um sentimento vital, o da solidariedade.
Nós, brasileiros, normalmente pedimos muito pouco. Precisamos de muito, mas não passamos essa impressão. Ao contrário. E quanto mais sofrido, mais o brasileiro rejeita o sentimento de pena. Prefere o da solidariedade.
Como explicar essa ausência do presidente tão popular num momento tão dramático às famílias das vítimas? Essas mesmas vítimas que devem ter sufragado seu nome nas urnas por duas vezes?
Os que continuam ainda debaixo daquele lixão em Niterói, a espera do resgate de seus corpos, pelo menos não testemunharão a ausência injustificável daquele que foi seu ídolo político, quando vivos.
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