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segunda-feira, 19 de abril de 2010

No Fio da navalha 2


Beto Volpe

Parece cocaína, mas é só tristeza. Definitivamente não é fácil viver com HIV no Brasil. Seria pior na África mas, ainda assim, não é fácil. O preconceito é grande em algumas relações, especialmente trabalhistas, afetivas e interiores. Muitos gestores banalizaram a epidemia, reduziram suas ações e equipes em aids e impactaram negativamente a vida das pessoas com HIV. Em muitos serviços não temos medicamentos e procedimentos para os efeitos colaterais ou adversos do tratamento, que vão de enjoo a câncer. Outras dificuldades poderiam ser listadas e respaldadas em estudos, muitas vezes parcos.

Porém, o constante desabastecimento de medicamentos da terapia antirretroviral é, de longe, a maior ameaça que paira sobre nossas cabeças. Ele é nefasto para a saúde pública, desastroso para a gestão farmacêutica local e, principalmente, mais uma grande dor de cabeça para milhares de pessoas que levam suas vidas no fio da navalha e um dia acreditaram que estariam sendo atendidas pelo melhor programa de aids do mundo. E percebem que, além do HIV, outro mal passou a ameaçar diretamente suas vidas: a gestão da Saúde no Brasil.

Cabe traçar uma breve linha do tempo no que diz respeito a tratamentos para aids. No início era o caos, não havia quase nada além da escuridão. Sob pressão de ativistas gays, programas de aids começaram a ser estabelecidos para enfrentar a ‘doença do século’, entre outras alcunhas. Os pacientes e ONGs também se organizaram para, em um cenário de guerra, dar a assistência possível a quem mais necessitasse. Alguns poucos medicamentos não conseguiam conter a progressão da infecção e a morte era, em muitos casos, questão de tempo. E pouco.

Beto Volpe é soropositivo há 21 anos, presidente do Grupo Hipupiara e membro da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids

De:www.agenciaaids.com.br.(19/4/010//13:43)

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