16/04/2010 02:49
Não basta se imunizar contra a gripe: doentes crônicos precisam da vacina contra pneumonia, diz especialista
No 1º Encontro de Atualização em Vírus Respiratórios, a pediatra Lucia Bricks, doutora em Medicina pela USP, diz que a vacinação é a melhor arma para evitar a interação do vírus da gripe com a principal bactéria causadora da pneumonia. Nos Estados Unidos, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças recomenda uma vacina que previne
os sorotipos mais agressivos desta bactéria. No Brasil, a vacina é fornecida gratuitamente a doentes crônicos maiores de 2 anos. Boletim de março do Ministério da Saúde contabilizou 782.372 internações por gripe associada à pneumonia, em 2009
SÃO PAULO [ ABN NEWS ] - Para evitar complicações respiratórias durante a pandemia de gripe, recomenda-se que os doentes crônicos, fumantes e asmáticos com mais de 19 anos recebam não só a vacina contra o vírus da Influenza, mas também vacinas contra a bactéria Streptococcus pneumoniae, mais conhecida por pneumococo. O alerta foi dado pela pediatra Lucia Bricks, doutora em Medicina pela USP, durante a palestra “Correlação entre infecção viral e bacteriana”, realizada nesta quinta-feira (dia 15) no 1ª Encontro de Atualização em Vírus Respiratórios, promovido pela SBim – Sociedade Brasileira de Imunizações, no Maksoud Plaza, em São Paulo.
“Diversos estudos realizados em humanos e animais comprovam que o vírus Influenza predispõe a superinfecção bacteriana. E o pneumococo é responsável por até 30% das pneumonias decorrentes da gripe. Esta bactéria é difícil de ser isolada pela falta de recursos diagnósticos sensíveis e específicos e pelo uso prévio de antibióticos, que interfere nos testes de cultura”, afirma Lucia Bricks, diretora médica da Sanofi Pasteur, a divisão de vacinas do grupo Sanofi-Aventis.
Boletim epidemiológico expedido em março último pelo Ministério da Saúde mostrou que em 2009 houve 782.372 internações por gripe associada à pneumonia, das quais 39% em crianças até cinco anos; 24% em maiores de 60 anos, 23% de pessoas entre 20 a 59 anos e 13% na faixa de 5 e 19 anos. Em agosto de 2009, já em meio à pandemia, o número de internações saltou para mais de 90 mil – contra as mais de 60 mil registradas no mesmo mês de 2008 e 2007.
Em artigo publicado em janeiro no American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine, um estudo da professora da Faculdade de Medicina da USP, Thais Mauad, demonstrou que 38% de um grupo de 21 brasileiros mortos com diagnóstico positivo para o H1N1 foram vítimas de co-infecção, a maior parte por Streptococcus pneumoniae. Todos foram autopsiados pela Divisão de Autópsias do Departamento de Patologia desta faculdade, do qual Thais Mauad é supervisora. Deste grupo, 21% não apresentavam condições de risco. O restante tinha doenças cardiovasculares (33%), tabagismo (26%), câncer (26%) e diabetes (10%)
Em junho de 2009, o CDC – Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos expediu um boletim sobre a pandemia de gripe no qual recomendou a vacina polissacarídica 23-valente para todos os grupos de risco maiores de dois anos de idade: portadores de doenças crônicas (renais, hepáticas e neurológicas), cardiovasculares e pulmonares; diabéticos, imunocomprometidos, maiores de 65 anos e asmáticos e fumantes maiores de 19 anos.
O CDC também recomenda a vacina para crianças maiores de dois anos - já imunizadas com vacinas conjugadas contra o pneumococo - para ampliar a proteção contra os sorotipos causadores das infecções graves.
A vacina polissacarídica produzida pela Sanofi Pasteur, conhecida internacionalmente por Pneumo 23, contém 23 dos 90 sorotipos conhecidos do pneumococo. Ela propicia cobertura contra 90% dos sorotipos que têm maior capacidade invasiva e resistência aos antimicrobianos e são os principais responsáveis pelas complicações registradas após o terceiro dia da infecção viral. “Essas infecções são mais comuns nos extremos da idade (menores de cinco anos e idosos) e em indivíduos que vivem em ambientes aglomerados, mas podem ocorrer em pessoas de qualquer idade, particularmente nos grupos de risco, incluindo asmáticos e fumantes”.
A vacina polissacarídica 23 valente é oferecida gratuitamente aos portadores de doenças crônicas maiores de dois anos nos CRIES – Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais do Ministério da Saúde, cujos endereços podem ser consultados pelo site www.saude.gov.br
Mecanismos - Ainda não se conhecem todos os mecanismos capazes de facilitar as infecções bacterianas após uma infecção viral. Existem evidências de que infecções virais facilitam a adesão de bactérias que colonizam as vias respiratórias e a membrana que recobre o aparelho respiratório. A inflamação causa aumento na produção de secreções, destruição de células e alterações na função da tuba de Eustáquio - uma pequena passagem que conecta a parte superior da garganta com o ouvido médio. Impedida de ventilar, a tuba deixa que fluídos se acumulem nesta região do ouvido. Todas essas alterações favorecem a proliferação e invasão de bactérias que causam infecções de mucosa e doenças invasivas, como pneumonia e meningite.
Dois estudos científicos publicados em 2010 mostram as conseqüências devastadoras da interação entre o vírus Influenza e o Streptococcus pneumoniae sobre as crianças: um foi realizado no Canadá e outro em Bangladesh, no sul da Ásia. Coordenada pelo médico Sean O’Riordan, a pesquisa publicada em janeiro no Canadian Medical Association Journal revelou que 29% de 58 crianças internadas em conseqüência do H1N1 no Hospital for Sick Children, em Toronto, apresentavam alterações compatíveis à pneumonia. Deste total, 79% tinham fatores de risco. Das 12 crianças previamente saudáveis, cinco eram menores de dois anos.
O estudo de Bangladesh, publicado em março último no Pediatric Infectious Diseases Journal, analisou 2.370 crianças com idade média de dois anos entre 2004 a 2007, que apresentavam sintomas semelhantes aos da gripe. Deste total, 13% tiveram diagnósticos positivos para o vírus Influenza, das quais 28% desenvolveram pneumonia. Em sua conclusão, o coordenador da pesquisa, o médico W. Abdullah Brooks, afirmou que a gripe contribuiu para o surgimento da pneumonia em 10% dos casos e a vacinação poderia ter reduzido este impacto.
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