MP abre inquérito para apurar responsáveis pelo caos durante evento na Enseada de Botafogo
Publicada em 22/04/2010 às 23h28m
O GloboRIO - Promotoria de Meio Ambiente do Ministério Público estadual irá instaurar um inquérito civil para investigar as responsabilidades pela realização do evento religioso na Praia de Botafogo que parou a Zona Sul do Rio quarta-feira. De acordo com o promotor Carlos Frederico Saturnino, após as conclusões das investigações, poderá ser proposta uma ação indenizatória contra o município ou os organizadores do evento pelos transtornos causados aos moradores. Um dia depois do caos, por ordem do prefeito Eduardo Paes, autoridades municipais responsáveis pelo planejamento da infraestrutura do evento se calaram.
- Locais como o Aterro do Flamengo e a Praia de Botafogo têm sido os preferidos por organizadores de eventos desse tipo pela exposição que trazem. O que está ocorrendo é que eles ficam com o bônus e os moradores com o ônus, sem qualquer ressarcimento - afirmou Saturnino.
(Veja imagens da sujeira deixada em Botafogo após culto)(Vote: Grandes eventos na Enseada de Botafogo devem ser proibidos?)
Oito associações contra a prefeituraA falta de planejamento em torno do show gospel, que levou um milhão de pessoas e quatro mil ônibus ao bairro no feriado, atiçou a ira de oito associações de moradores da área, que prometem ir à Justiça para proibir shows de grande porte no trecho. Segundo a presidente da Associação de Moradores de Botafogo (Amab), Regina Chiaradia, as entidades querem propor ao MP uma ação civil pública que proíba eventos com mais de cem mil pessoas na enseada.
- Para os com menos de cem mil pessoas, queremos um Termo de Ajustamento de Conduta com prefeitura criando garantias à infraestrutura de transportes, estacionamento, proteção às áreas tombadas, limpeza, contrapartida para danos ao patrimônio e punições para desobediências. Disseram que levariam cem mil pessoas a Botafogo e colocaram um milhão. A prefeitura anunciou alguma punição? Do jeito que está, é um oba-oba - reclama Chiaradia.
(Flagrantes do dia de caos no trânsito da cidade) (Veja fotos do engarrafamento enviadas por leitores) (Leitores relatam transtornos. Leia)A mobilização envolve, além de Botafogo, as associações de moradores de de Laranjeiras, Urca, Cosme Velho, Humaitá e Flamengo e os moradores da Rua Lauro Muller e dos Condomínios do Morro da Viúva. Os transtornos deverão dominar a pauta das reuniões periódicas que líderes comunitários fazem com o comando do 2º BPM (Botafogo) e a Subprefeitura da Zona Sul. Os próximos encontros estão marcados para quinta e sexta-feira da semana que vem.
- Viramos uma ilha, ninguém entrava, ninguém saía. Só se fosse por helicóptero. Ontem (quarta-feira), nem a PM podia se deslocar - reclama Abílio Tozini, presidente da Associação de Moradores da Lauro Muller e Adjacências.
Mais de 50 toneladas de lixoO estrago deixado pelo evento podia ser visto em toda parte. A Comlurb teve trabalho para limpar as 55 toneladas de resíduos retirados da Enseada de Botafogo e do Aterro do Flamengo. As montanhas de lixo quase equivalem ao que é recolhido das praias do Rio na alta temporada. Num dia de semana de verão, segundo dados da Comlurb, são retiradas de 60 a 70 toneladas das praias. O evento mobilizou 152 garis, das 16h de quarta às 16h de quinta, com apoio de onze caminhões, três varredeiras e duas pás mecânicas.
(Leia mais: Leitor denuncia sujeira depois do evento)Para dar conta do recado, sobrou até para os garis. Segundo o advogado Salles Nobre, que atende a funcionários públicos do Rio, varredores escalados para trabalhar das 16h às 23h de quarta-feira teriam sido obrigados a dobrar a carga horária, saindo do serviço às 4h de ontem. Morador do Flamengo, Salles Nobre disse que teve que andar a pé do Jockey até em casa porque o trânsito estava parado.
- O Ministério Público tem que agir. Taxistas e comerciantes não conseguiram trabalhar. Foi um fato público e notório, que não carece de provas. Cabe uma ação de indenização por danos morais para a população.
" Foi um fato público e notório, que não carece de provas. Cabe uma ação de indenização por danos morais para a população "
Presidente do Conselho de Segurança Comunitário da 2 Área Integrada de Segurança Pública (Aisp) e secretária da Associação dos Condomínios do Morro da Viúva, Leni da Costa Mattos, acusa a prefeitura de ter imposto o evento aos moradores. Segundo ela, representantes do poder público municipal compareceram a uma reunião no 2º BPM (Botafogo) apenas para comunicar a realização do evento, sem levar em consideração o parecer contrário do conselho.
- Veio tudo pronto da prefeitura, que mandou o administrador regional e gente da CET-Rio e da Guarda Municipal para o encontro. Havia até mesmo um oficial bombeiro e um vereador de Magé, que se disseram ligados à Igreja Universal, na reunião e eles opinavam sobre o assunto.
A diretora jurídica da Associação de Moradores de Laranjeiras (AMAL), Regina Carquejo, criticou o mea culpa feito pela prefeitura, que anteontem admitiu ter subdimensionado o show. Ela diz que a prefeitura nunca poderia ter se preparado para receber cem mil pessoas devido à natureza do evento. Em 2007, cerca de 700 mil pessoas, segundo a Polícia Militar, já tinham participado da "Vigília da paz", também promovida pela Igreja Universal, na Enseada de Botafogo.
- Queremos que respeitem as normas de segurança, o interesse público e o bem estar dos moradores. Tudo isso está sendo cerceado. Não podemos aceitar a alegação de que avisaram que seriam cem mil pessoas. No ano passado, houve evento religioso semelhante no mesmo local e deu quase um milhão de expectadores. Isso é brincadeira!
O prefeito Eduardo Paes não se pronunciou. Apesar de um decreto publicado em 30 de janeiro de 2009 determinar que todos os eventos na orla da cidade e em áreas públicas como Aterro do Flamengo e Quinta da Boavista passem pelo seu crivo com prazo de 30 dias úteis de antecedência, Paes disse que não falaria. O subprefeito da Zona Sul, Bruno Ramos, e o secretário municipal de Transportes, Alexandre Sansão também não se manifestaram. O prefeito não teve agenda externa nesta quinta-feira e desistiu de ir à missa em comemoração ao Dia de São Jorge, em Quintino, nesta sexta.
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