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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

BBB10 homofobia

Médicos explicam a relação de Dourado com os gays no BBB

R7

26/FEVEREIRO/2010

Parte do público considera o gaúcho homofóbico; psiquiatras falam desse comportamento

Camila Neumam, do R7

Algumas atitudes do BBB Marcelo Dourado fizeram o assunto homofobia voltar à tona em todo o país. Em uma delas, o gaúcho musculoso retirou-se da mesa de jantar após ouvir um papo entre os brothers Lia e Serginho sobre uma balada gay. Ele se disse "enojado" e falou que "perdeu o apetite". Num outro comentário desavisado, disse que heterossexuais têm menos chance de contrair o vírus da Aids.

As opiniões não somente revoltaram Serginho, Dicesar e Angélica, os gays da casa, como parte da opinião pública. O ex-BBB Jean Willys, por exemplo, chamou Dourado de "misógino, machista e homofóbico" em seu twitter. Até o cantor britânico Boy George, um dos ícones da cena musical gay, bradou aos brasileiros para votarem pela saída de um "egocêntrico que odeia gays" pela mesma rede social.

Cultura e preconceito

Para o diretor de arte Zeca Bral, de 26 anos, também gay, a vitória de Dourado sobre Angélica no último paredão do BBB foi determinante para desistir de assistir ao programa.

- Eu acho que ele [Dourado] é homofóbico, sim, porque ser homofóbico é não aceitar a sexualidade gay alheia. A partir do episódio da mesa, ele mostra essa atitude. E depois da votação estrondosa da população em alguém que não manifesta tolerância, eu fiquei assustado e preferi não assistir mais ao programa que provou ter uma audiência desqualificada.

Considerando a opinião do psiquiatra e coordenador do Ambulatório de Transtorno de Identidade de Gênero e Orientação Sexual do Hospital das Clínicas, Alexandre Saadeh, a homofobia é a dificuldade de lidar com pessoas muito diferentes de si, ou seja, com orientação sexual diferente da sua. Sem superlativizar o gesto de Dourado, o psiquiatra descarta a atitude como passível de ser violenta, mesmo criminosa. "É uma questão de preconceito, de valorização cultural", afirma.

Homofobia é doença?

O R7 tentou ir mais longe e questionou: A homofobia pode ser considerada uma doença?

Tanto Saadeh, quanto a psicanalista e socióloga Nilda Jock, também consultada pelo R7, afirmaram que não.

- A homofobia tem uma questão cultural muito forte. Eu acho que a tese mais comum que se levanta a respeito é que na verdade os homofóbicos são as pessoas que mais temem se confrontar com a própria homossexualidade, afirma Nilda Jock.

Neste ponto polêmico, a psicanalista remete à fase anal da infância, quando a criança, entre os dois e os três anos, costuma reter as fezes para depois expulsá-las. É comprovado cientificamente que o ato se trata de um prazer sexual. "A criança percebe um prazer nesse jogo, que é reconhecido como marcante e vigente na vida do adolescente e dos adultos. Tendo consciência deste prazer, parte dos homens preferem ignorá-la por puro preconceito", explica Jock.

Há, entretanto, um paradoxo nesta relação de prazer que pode ser determinante para o nascimento da homofobia. Na maioria das sociedades ela não é mais valorizada do que o sexo entre um homem e uma mulher para fins reprodutivos. Seja na escola, na igreja ou dentro de casa, a maioria dos cidadãos comuns aprende que o homem e a mulher têm papéis determinantes na sociedade, entre os quais a procriação. Portanto, o sexo sem esse fim deve ser desqualificado, explica Jock.

Caso de remédio e polícia

A partir do momento que essa crença ultrapassa o senso comum e se torna uma caça às bruxas, temos um problema ainda maior. Além da intolerância, pode haver (aí sim) uma patologia, afirma o psiquiatra Alexandre Saadeh.

- Se houver outro sintoma como uma agressividade repentina ou alteração de personalidade, mais do que o ódio homofóbico, pode se tratar de uma pessoa com transtorno de personalidade, mesmo bipolar.

Nestes casos, somente neles, o psiquiatra recomenda um tratamento com remédios. Para os intolerantes, de acordo com os psiquiatras, vale mesmo tentar entender a origem de sua abordagem mesmo que pela psicanálise.

- Tem que pensar porque esse comportamento [homossexual] incomoda tanto? Não existem linhas delimitadas que a gente poderia dizer que são de homens e de mulheres. A verdade é que a homossexualidade atravessa os limites entre homem e mulher. Nenhuma identidade sexual é automática, trata-se de uma construção complexa, afirma Nilda Jock.

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