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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Fundação Sarney

18/01/2010 - 10:03 - Atualizado em 18/01/2010 - 10:26
Fundação Sarney desviou verba da Petrobras, diz CGU
Órgão federal investiga contas da entidade desde julho de 2009. Relatório foi enviado ao Ministério da Cultura, que intermediou patrocínio
Redação Época, com Agência Estado

Auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) apontou para uma cadeia de fraudes nas contas da Fundação José Sarney, criada pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), para preservar a memória de seu período como presidente da República.

Segundo a investigação, a entidade teria usado notas frias, empresas fantasmas e de fachada, contratações irregulares, ausência de comprovação de serviços, entre outras irregularidades, para desviar dinheiro de um projeto cultural de R$ 1,3 milhão, patrocinado pela Petrobras, que nunca saiu do papel.

A verba foi transferida à fundação em 2005, como incentivo fiscal através da Lei Rouanet. Os recursos seriam destinados à preservação e digitalização do acervo e à modernização dos espaços físicos da entidade, em São Luís. A CGU apurou que pelo menos R$ 129 mil da Petrobras foram desviados para custear despesas da fundação, como energia, impostos e refeições. "Gastos que não estavam previstos no plano de trabalho", informa o relatório da auditoria.

Auditores que estiveram na capital maranhense também constataram que a Fundação José Sarney apresentou, em sua prestação de contas, notas fiscais de empresas com endereços falsos. É o caso do Centro de Excelência Humana Shalom, que recebeu mais de R$ 70 mil para, em tese, prestar serviços de consultoria.

A denúncia do desvio de verba da Petrobras pela Fundação Sarney foi feita pelo jornal O Estado de S. Paulo em 9 de julho de 2009. A CGU, que é dirigida pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aliado de Sarney, abriu a auditoria nas contas da entidade no mesmo mês. Esse é o primeiro resultado da investigação de um órgão público no patrocínio da Petrobras. O relatório foi enviado na semana passada ao Ministério da Cultura, intermediário do patrocínio.

Esse não é o primeiro confronto entre a Fundação José Sarney e procuradores. Para o Ministério Público Federal do Maranhão, o senador possui ilegalmente o Convento das Mercês, patrimônio histórico do Estado, no centro antigo de São Luís, doado à entidade em 1990, último ano de Sarney na Presidência da República. O prédio, que hoje abriga o museu da fundação, é tombado pela União. Na disputa pelo convento, Sarney chegou a usar o Senado para entrar com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF).

Sarney é presidente vitalício da fundação que leva seu nome e preside o Conselho Curador, que indica o Conselho Fiscal, responsável pelas contas da entidade.

Revista Época