RIO - As pessoas que têm Aids no Brasil afirmam que sofrem mais com o preconceito e a dificuldade de integração com a sociedade do que com a ação do vírus no organismo. Os números que mostram este contraste indicam que 65% avaliam seu estado de saúde como bom ou ótimo. Por outro lado, 20% perderam o emprego após o diagnóstico e 58% não trabalham atualmente (55% entre os homens e 62% entre as mulheres). Os dados constam de pesquisa da Fiocruz divulgada terça-feira pelo Ministério da Saúde.
Um militante do grupo Pela Vidda-RJ, Caju Barros, de 37 anos, e há 20 convivendo com a Aids, tem na sua experiência pessoal o exemplo desta estigmatização:
– A empresa em que eu trabalhava me afastou pois meus colegas pediram que eu não voltasse a trabalhar com eles. Mesmo assim, esta empresa, uma multinacional, paga meu salário até hoje, só para eu não ir trabalhar.
O presidente do Pela Vidda-RJ, Márcio Villard, que participou terça-feira de uma manifestação na Cinelândia, pelo Dia Mundial Contra a Aids, quer que a sociedade entenda que a doença não é apenas o problema de um grupo, mas de todos.
– Só assim poderemos conter o estigma e a exclusão social, que realmente existem – diz Villard.
Esta questão do trabalho afeta diretamente a qualidade de vida dos portadores. O estudo divulgado terça-feira indica um nível melhor de educação entre os pacientes de Aids quando comparados à população brasileira. Porém, apesar da melhor instrução, o nível de renda é igual à média da população brasileira.
– Ter boas condições financeiras significa ter uma sobrevida maior. Para quem vive na pobreza, apesar da distribuição gratuita dos coquetéis antirretrovirais, a situação é muito difícil. O tratamento, para ser eficaz, requer boa alimentação e boa qualidade de vida – diz Villard.
Segundo a pesquisa, entre os pacientes homens, aposentadoria por doença (31,3%), incapacidade (14,7%) e recebimento de auxílio doença (24,6%) foram os principais motivos alegados para não estarem trabalhando. Entre as mulheres, 28% são donas de casa, 15,4% são aposentadas pela doença, 11% relataram incapacidade para o trabalho e 15,4% recebem auxílio doença.
A pesquisa foi realizada, pela Fundação Oswaldo Cruz, em 2008, com 1.260 pessoas em tratamento antirretroviral, com apoio do Ministério da Saúde. Os resultados representam o perfil dos pacientes em tratamento no Brasil: cerca de 200 mil pessoas.
O alto índice de avaliação positiva do estado de saúde (65% o consideram bom ou ótimo) é um dado significativo da pesquisa. Em relação a outras doenças crônicas, ele é bem alto: somente 27% desses outros pacientes classificam sua própria saúde como boa ou ótima.
Segundo os pesquisadores, em relação à percepção sobre o estado de saúde, o que se depreende é que o impacto do diagnóstico é tão forte, que após o início do tratamento e a melhora das condições imunológicas, as pessoas se sentem saudáveis novamente.
– Quando fazemos a pergunta, elas acabam por comparar a situação atual ao momento do diagnóstico, o que faz com que boa parte dos pacientes respondam que atualmente sua saúde é excelente ou boa – diz o pesquisador da Fiocruz Paulo Borges, que participou do estudo.
Mas esta autoavaliação positiva contrasta com problemas psicológicos. Entre as mulheres soropositivas, 33% afirmaram ter grau intenso ou muito intenso de tristeza ou depressão e 47% grau intenso ou muito intenso de preocupação e/ou ansiedade. Entre os homens, o índice é um pouco menor - 23% e 34%, respectivamente.
– O sentimento de tristeza e depressão pode ser explicado pela falta de apoio social, pelo sentimento de discriminação e pelo sentimento de solidão – afirma a coordenadora da pesquisa, Célia Landmann.
22:38 - 01/12/2009
Fonte: jbonline.terra.com.br(em,14/2 ás 19:23)
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